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sábado, 29 de dezembro de 2012

Estão preparados para o ano novo?

Eu, estou mais do que nunca, até porque 2012 foi um ano que não me deixou grandes recordações, exceptuando talvez a criação deste blog e um ou outro feito entretanto alcançado. 
Espero que, em 2013, as coisas corram melhor e que os desempregados mereçam uma maior atenção por quem de direito e que as famílias portuguesas recuperem a sua estabilidade.
No dia 31 de Dezembro, iremos fazer uma síntese dos acontecimentos que marcaram a nossa cidade nos últimos 12 meses. Falaremos de episódios interessantes, outros nem por isso, mas será tudo revelado ao pormenor. Será mais um serviço público do Cusco de Esmoriz, esse ser lendário!
Interessa também ter vinho, coca-cola, passas, bolo-rei e amêndoas nas mãos. Desta vez, eu não vou pedir desejos visto que nos últimos anos não consegui qualquer resultado concreto.
Contudo, continuo algo pessimista em relação a 2013. O espírito natalício e de passagem de ano é sempre passageiro. Não tarda nada, surgem novas guerras que causam uma mortandade sem fim. O ser humano ainda não percebeu que os conflitos bélicos e os massacres não resolvem os problemas do Planeta, antes pelo contrário! É um Mundo que vê também milhões de crianças em África, Ásia e América Latina a perecerem anualmente de fome e sem cuidados médicos (ainda há gente a morrer de lepra - como é possível!).
Apesar das dificuldades financeiras da minha família, ainda recentemente deixamos no contentor da Cruz Vermelha, em Maceda, algumas roupas que já não usávamos. É verdade que não são alimentos nem dinheiro (pois também poderemos necessitar disso num futuro próximo), mas ajudamos com aquilo que nos era dispensável (o que pode ser bastante útil para quem nada tem). A solidariedade é muito bonita e é nesta altura que se dizem as coisas mais lindas. Mas será hipocrisia? Daqui a duas semanas, já não estarão a insultar os vizinhos e a dizer mal nas costas de muitas pessoas? Memória curta! É por isso que eu sou pessimista. Infelizmente, nem as guerras nem a fome vão acabar em 2013. Isso é um dado adquirido, agora  também é certo que podemos contribuir para que este novo ano seja melhor do que o anterior, atenuando a ocorrência de acontecimentos catastróficos. Menos lutas armadas, maiores ajudas para os povos carenciados. É isso que eu pedia!
Por fim, deixo-vos o exemplo inspirador duma personagem célebre que faleceu há 35 anos, mais concretamente a 6 de Dezembro de 1977. Durante o século XX, tivemos conhecimento da acção fundamental de Raul Follereau, até então um jornalista francês como muitos outros.
Em 1935, este jornalista depara-se, pela primeira vez, com leprosos em África e relata a experiência vivida:

“Foi no Níger, numa viagem de reportagem, em que parámos na floresta para deitar água no jeep. Reparando, havia um grupo de pessoas esqueléticas à beira da estrada que logo se afastou. 
- Perguntei ao guia quem eram. 
- Respondeu-me “são leprosos”. 
- Mas não estariam melhor na sua aldeia? 
- São leprosos. 
- Mas estão a ser tratados? 
- Não, são leprosos, respondeu com ar agastado... 
Foi então que eu concluí que havia pessoas que por motivo de uma doença eram marginalizadas, não tinham direito a qualquer tratamento, à família, a viverem em comunidade, a estarem à beira da estrada... Por sofrerem de uma doença eram como criminosas, o seu crime era serem atingidos por uma doença, a lepra...” 


É esta experiência que mudaria radicalmente a sua vida. Raul cria mesmo uma Associação Internacional que lutará contra esta doença, procurando dignificar e zelar pelos direitos dos leprosos, até então marginalizados pelas suas sociedades. No ano de 1954, consegue convencer a ONU a instituir o Dia Mundial dos Leprosos (hoje celebrado em 130 países). Não satisfeito ainda, Raul Follereau pediria ainda à ONU para que sacrificasse o orçamento apenas gasto num dia na manutenção das suas tropas, que seria canalizado para dar um golpe decisivo na extinção ou pelo menos, na diminuição radical da lepra. O seu pedido foi rejeitado, algo que mereceu a sua incompreensão (pois é, os srs. que estavam à frente do planeta não iriam sacrificar os gastos previstos na defesa e manutenção das suas tropas por um dia, para eles era preferível que a lepra continuasse a "matar" pessoas nos quatro cantos do mundo, desde que isso não fosse contra os especiais interesses desses líderes sem ética e compaixão humanas!). 
Nunca desistindo pela causa dos leprosos, Raul chegou ainda a pedir aos dois líderes máximos da altura - ao norte-americano Dwight Eisenhower e ao russo Georgi Malenkov, uma ajuda equivalente ao custo de dois bombardeiros: "Aquilo que vos peço é muito pouco. Peço um avião bombardeiro a cada um, porque sei que este avião custa cinco milhões de francos. Eu calculei que com o dinheiro desses aparelhos de morte se poderiam curar todos os leprosos do mundo". Neste caso, nem sequer teve direito a resposta. Foi pura e simplesmente ignorado.
Mesmo assim, Raul Follereau nunca se deixou abater e deixou uma mensagem, sobretudo aos jovens que o entusiasmavam aquando da luta por estas causas:


"Nomeio minha herdeira universal a juventude do mundo. Toda a juventude de direita, de esquerda, do centro, de cima... o que importa? Toda a juventude, aquela que recebeu o dom da fé, aquela que se comporta como se acreditasse e aquela que pensa não crer. Só há um céu para todos. Mais, a minha vida se aproxima de seu final, mas sinto o imperioso dever de repetir: somente com o amor salvaremos a humanidade e ainda: a pior desgraça que pode acontecer a vocês, jovens, é não serem úteis a ninguém e que suas vidas não sirvam para nada. O tesouro que vos deixo é o bem que deixei de fazer, que gostaria de ter feito e que vocês farão depois de mim..."



Gráfico nº 1 - A lepra no Mundo, durante o ano de 2001. Até quando?



Imagem nº 1 - Raul Follereau (1903-1977), já com idade avançada, discursava durante as suas viagens pelos espaços mais críticos.
Veja-se também: http://www.aparf.pt/center.asp?zone=article&id=839 - texto de João Ferreira)


Com este texto, pretendo relembrar a todos os leitores que há muita gente a sofrer de doenças que seriam impensáveis na Europa e nas restantes regiões do globo minimamente desenvolvidas. Há pessoas sem direito a vacinas ou tratamentos básicos. Há crianças a morrer à fome, enquanto se gastam biliões na defesa e no armamento, mesmo em tempos de paz. O Mundo poderia ser mais equilibrado se existisse compaixão e bom senso. Peço-vos apenas que não deitem fora aquilo que já não vos serve, visto que podem ser úteis a quem nada tem. Deixem roupas que já não usem nos contentores de organizações internacionais de solidariedade. Ajudem, se puderem, quem mais necessita. Até pode ser um vizinho vosso... Isto sim, é ser humano e contribuir para um Mundo significativamente melhor!

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