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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Hoje vamos ao museu!

No dia 26 de Fevereiro de 2013, iniciamos uma nova rubrica (tal como aquela do "Abram alas ao Cusco"), só que esta não é assim tão cómica, visto que relembraremos grandes momentos da história da nossa terra num museu virtual, situado algures em Esmoriz. 
As entradas são gratuitas, embora o dono do Museu nos tenha alertado que, no máximo, só podíamos apresentar uma coisa em cada galeria. Existem 4 galerias que correspondem a 4 pisos deste espaço histórico, todas elas tratando um tema em concreto.
Por isso, vamos agora começar a nossa visita. Agradeço que façam silêncio, desliguem os telemóveis e deitem as chiclet's fora, para que possam compreender tudo o que o guia nos tem para dizer. 
No Piso nº 1 deste Museu, encontramos uma galeria desportiva. Observamos tantos troféus conquistados pelo SC Esmoriz e o Esmoriz Ginásio Clube. Eles têm inúmeras distinções nas camadas jovens. Aquilo estava cheio de taças, mas ao longe, existiam sete taças que brilhavam intensamente numa estante enorme! Refiro-me aos 2 Campeonatos da I Divisão (1982/1983, 1983/1984) e a 1 Taça de Portugal (1981/1982) do Esmoriz Ginásio Clube, e aos 4 troféus da I Divisão AF Aveiro do SC Esmoriz. Tudo em seniores e prestigiando assim a nossa terra a nível nacional. Contudo, não vos vou mostrar uma taça, mas sim um quadro que ilustra alguns dos responsáveis por estes feitos. Como o guia do museu, só me deixou tirar uma fotografia neste primeiro piso, tive que fazer uma escolha difícil, mas lá teve que ser. Este é um prémio merecido para uma equipa que, sem luxos e milhões, atingiu o topo do Voleibol Português.



Imagem nº 1 - Os campeões de 1982/1983 na I Divisão de Voleibol em Portugal.


Pelo primeiro piso, acho que já vimos quase tudo. Vamos agora ao segundo que contém uma nova galeria. Vamos pelo elevador?... Oops, não funciona! Está como o país! Pronto, então teremos que ir pelas escadas. Eu sei que custa mais, mas pensemos positivo, assim fazemos exercício físico. Peço apenas cuidado para os degraus que estão ao nível dos do passadiço da Praia de Esmoriz. Já agora não se atropelem uns aos outros. Eu não sei se isso é ansiedade para ver o que temos a seguir para vos mostrar, ou se querem apressar isto para ser irem embora. Bem, esperemos que seja o primeiro caso!



Imagem nº 2 - Vamos lá subir devagar as escadas! Cuidado para não se atropelarem uns aos outros.


Ufa! Já chegamos ao segundo piso. Decerto que o nosso esforço será agora compensado. Ah! Fantástico! Encontramos uma galeria repleta de Poesia. Estão lá os meus poemas, os da Florbela Espanca (nascida em Vila Viçosa, embora tenha residido em Esmoriz por volta de 1925), os da Isabel de Sá, os de Boanerges Cunha (estes dois últimos nasceram cá) e até de alguns alunos que fizeram umas coisas engraçadas. A poesia é uma arte que diz muito à nossa terra. Mais uma vez, pedi a permissão, embora só me tenham permitido citar um poema. Não foi fácil a sua selecção, mas Isabel de Sá, licenciada em Artes Plásticas, mereceu o benefício da dúvida, até porque nasceu em Esmoriz (1951).


Realidade
(Poema de Isabel de Sá)

Por causa de um livro
vieste ao meu encontro.
Era Verão, não sabias de nada
nem isso interessava. Palavras
amavam-se fora de ti,
no atropelo das emoções.
Lá chegaria a primeira vez,
o encontro apressado num lugar
público. Desfeito o erro
ao toque da pele, não sei
se havia medo, a paixão queria-me
no lugar exacto do teu coração.
Palavras enrolam-se na sombra
da vida a dor do sentimento.

Atingido o espírito, o tempo
da infância, a realidade. Em ti
a solidão que o prazer
não mata. Quero a beleza
dos versos revelada.
Alguns anos passaram sobre
a nossa história que não acabou.
A tarde envelhece e escrevo isto
sem saber porquê.



Isabel de Sá by lusografias

Imagem nº 3 - Isabel de Sá, esmorizense de nascimento, é uma conceituada poetisa nacional.


Entretanto, quando ia subir as escadas, vislumbrei um outro poema que me chamou à atenção. Tinha sido escrito por uma criança, talvez aluna da Professora Sara Oliveira, porém o responsável pelo Museu não aceitava disponibilizar mais informação deste piso para publicação. Contudo, e sem ninguém reparar, subornei-lhe com um chocolate Kit Kat, e ele lá abriu uma excepção (mas atenção isto fica aqui entre nós, não sejam bufos!). O poema era da autoria da aluna Inês Gomes Dias (5º F) e sinceramente, apreciei bastante!


Poema de Inês Gomes Dias, nº17, 5ºF


A Barrinha de Esmoriz

Era um lar prós animais.

Viviam lá descansados

Mas hoje em dia, jamais.

Havia dunas altas com plantas

Que não deixavam o mar avançar.

Ele enfureceu-se…

E tudo acabou por destroçar.

O mar enfureceu-se

Porque o invadimos e poluímos.

A culpa foi nossa,

Porque não nos arrependemos?

A cobra de água e a enguia,

Nadavam na água límpida da Barrinha.

A água e elas quase desapareceram,

Deixando muita gente tristinha.

A garça-real apanhava peixes na lagoa

Mas com tanta poluição

Tem de se contentar

Com tão pouca alimentação.

Os borrelhos e os rouxinóis

Avezitas vivas e elegantes

Juntamente com os chapins

Têm cantares muito lamuriantes.

Lá se vê a águia–sapeira

No seu voo rasante

Procura sapos, rãs, musaranhos e outras espécies

Com olhar atento e brilhante.

Pinheiro bravo, Lírio-amarelo-dos –pântanos

Couve – marítima, caniços,…

Fazem parte daquele Habitat

Pouco falta para também levarem sumiços.

E as gaivotas estão tristes

Porque a Barrinha está a morrer

Que vai acontecer ao seus amigos

Se nada se for fazer?



Imagem nº 4 -Quadro que retrata a Barrinha de Esmoriz no século passado.
Foto da minha autoria na Exposição do Movimento Cívico Pró-Barrinha (junto ao Café Anos 60)


Pronto, sempre tivemos bons poetas e escritores. Esmoriz sempre foi uma terra de eruditos, contudo está na altura de avançarmos para o terceiro piso. Uau! Deparamo-nos agora com muitos quadros e fotografias que foram tiradas no Rio Lambo. Que beleza! Ainda bem que, nos dias de hoje, o rio está menos poluído, embora nem sempre a vegetação no seu redor seja devidamente tratada. Mas é um espaço natural com um potencial estético interessante. Existiam fotos antigas e actuais, mas optamos por duas das primeiras. Mais uma vez, tivemos que distrair amigavelmente o responsável do Museu para conseguir uma segunda foto. Vocês não imaginam aquilo que fazemos por vocês aí em casa!



Imagem nº 5- Uma pessoa circula em cima da ponte sobre o Rio Lambo.
Foto da autoria do Casagrande na Biblioteca de Esmoriz



Imagem nº 6 - Um barco no Rio Lambo na década de 40 do século XX
Foto da autoria do Casagrande na Biblioteca de Esmoriz


Finalmente, dirigimo-nos para o quarto piso! Isto já está quase a acabar. Se calhar as vossas pernas já devem estar cansadas de subir as escadas, mas façam mais um esforço. O quarto piso deste Museu Virtual está repleto de documentos históricos. Havia um que estava cheio de pó, mas que era do tempo d'el-rei D. Afonso III (1248-1279). Tive que soprar um pouco em cima para o pó, que impedia a sua leitura, desaparecesse totalmente. Peguei cuidadosamente no documento pois o mesmo já tem quase um milénio de existência. Trata-se duma inquirição do ano de 1251 e diz o seguinte:

"Item de freguesia dermoriz Suerius menendi. Johannes Pelagij. Pelagius stephani. Menendus Petri. Martinus Petri. Jurati dixerunt quod de ipsa freguesia dant decem teeigas de tritico. Et sex teeigas de millio de exmoriz. Et de quolibet Casali populato singulos Capones. Et maiordomus minor comedit in quintaa. Et maiordomus maior comedit in Casali in hereditate ecclesiale". (AMORIM, Aires de - Esmoriz e a sua História, p. 23).

É um pequeno documento em latim (língua oficial em Portugal até ao reinado de D. Dinis), cuja transcrição foi alcançada graças aos conhecimentos do Padre Aires de Amorim que se deparou, no passado, com estes documentos tão antigos. Mas este grande erudito esqueceu-se de traduzir (diferente de transcrever) o que está ali escrito. Eu vou tentar a minha sorte! Posso cometer um erro ou outro, mas espero não trair o teor da mensagem:

"Também da Freguesia de Esmoriz: Soeiro Mendes, João Pelágio, Paio Estevão, Mendes Peres, Martinho Peres, jurados disseram que da dita freguesia dão 10 teigas de trigo e seis teigas de milho de Esmoriz. E cada casal povoado um capão. E Mordomo-Menor recebe na quinta. E o Mordomo Maior recebe na Casela, herdade eclesiástica" (A Tradução do Cusco de Esmoriz)

Pequena nota: Paio e Pelágio na Idade Média são nomes equivalentes. 

De acordo com a nossa tradução, e indo ainda de encontro à interpretação de Aires de Amorim, temos então acesso aos direitos que os esmorizenses tinham de saldar à Coroa no ano de 1251. 
Em primeiro lugar, todos os indivíduos indicados em cima eram jurados e tinham que relatar, com exactidão, o que o povo devia à Monarquia. Para além dos seus nomes originais (bem diferentes dos actuais), eram ainda residentes em Esmoriz. Por isso, podem ser vossos antepassados! Quem sabe!
Vamos lá falar dos direitos, a parte mais penosa, que o povo esmorizense teria de saldar à Coroa - 10 teigas de trigo, 6 teigas de milho e um capão por cada casal povoado. Estes dados provam que existiria a prática da agricultura e pecuária no Esmoriz Medieval. Éramos um povo humilde e trabalhador e depois lá vinham os raios dos mordomos cobrar a parte que devíamos ao rei. 



Imagem nº 7 - Exemplo dum documento medieval no Arquivo Distrital do Minho.


Meus amigos, chegamos ao fim da nossa visita prolongada. Tivemos heróis no Desporto e nas Letras. Encontramos um espaço belo, muitas vezes, ignorado e ainda, deu tempo para ver um documento do século XIII. Eu sei que vocês queriam mais, mas a minha barriga está a dar horas. Apetece-me comer alguma coisa. Espero que tenham gostado desta visita a um dos museus virtuais de Esmoriz!

2 comentários:

  1. Olá
    Post culturalmente muito interessante....e muito bem escrito.
    Bem haja.
    Cumprs
    Augusto

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