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terça-feira, 21 de maio de 2013

Um pouco da história medieval de Cortegaça, a terra que foi outrora concelho...

Hoje, vamos falar um pouco da história da nossa Freguesia vizinha (e não rival, pois o bom senso tem de imperar entre ambas as comunidades).
Como nos conta Albertino Alves Pardinhas, o topónimo de Cortegaça advém do latim "Corticatia" (isto é, cortiça). Ou seja, supõe-se que os primeiros colonos desta região, talvez do período fecundo da Reconquista Cristã, se depararam com um espaço recheado de soutos, sobreiros e carvalheiras e, por isso, optaram por introduzir esta designação que assim evoluiu até aos dias de hoje.
Nos manuscritos medievais, a vila é referida, pela primeira vez, no ano de 973 d.C.
Nos tempos de D. Afonso Henriques (1109-1185) e D. Sancho I (1154-1211), Cortegaça era uma terra reguenga, honrada e coutada. Possuía direitos e regalias próprias derivadas desse estatuto. Por seu turno, esta privilegiada localidade estava ainda integrada na Diocese do Porto e era uma das terras de Santa Maria - o culto mariano estava divulgado entre os conquistadores cristãos do Norte da Península Ibérica. Sempre que conseguiam um importante feito bélico, dedicavam-no sempre a Nossa Senhora, consagrando ainda igrejas e catedrais com o Seu Nome.
Em jeito de curiosidade, refira-se que D. Sancho I, rei de Portugal, terá tido um caso com D. Maria Pais, a "Ribeirinha" (1170-1258), mulher que seria bela, inspirando os poetas da altura. Apesar de ser concubina, foi tratada como uma rainha. O nosso monarca D. Sancho entregou-lhe várias terras, de entre as quais Cortegaça, "património régio". Esta nobre mulher, após a morte do rei, acabaria os seus dias no Mosteiro de Grijó. Se ela chegou, algum dia, a estar em Cortegaça, nunca saberemos, mas que esta terra e outras lhe pertenceram, isso está comprovado pela documentação.
Entre os séculos XI-XIII, são ainda conhecidas doações, não só em Cortegaça, mas também em Esmoriz, de propriedades ao Mosteiro de Grijó, exigindo os beneméritos que esta instituição monástica rezasse pela salvação das suas almas. Estávamos num período em que o culto cristão era praticado de forma fervorosa. 
Nos séculos XII-XIII, estaria também já documentada uma igreja rural em Cortegaça, sendo que aí o Mosteiro de Grijó mantinha o direito de padroado (por outras palavras, podiam apresentar/escolher o pároco para o templo).
Em termos de nobreza local, as inquirições de 1288 de D. Dinis, referem a presença dum Martim Afonso, talvez um dos descendentes da esbelta e sedutora "Ribeirinha".
Mas o mais interessante neste documento do século XIII, parece ser o facto da Barrinha de Esmoriz ter conhecido um prolongamento até Cortegaça:

" (...) em um lugar que é dele da freguesia de Esmoriz e dele da freguesia de Cortegaça, contra o mar, há uma lagoa que era devasso(...)" (Inquirições de D. Dinis - 1288).

Creio que não há dúvidas, quando referimos que a configuração medieval da Barrinha de Esmoriz conheceria dimensões superiores e as suas águas decerto que estariam límpidas, favorecendo assim uma intensa actividade pesqueira, coroada com a existência dum porto medieval.
O couto de Cortegaça, demarcado por autoridade real (equivalia ao estatuto concelhio), permaneceria até ao século XIX. No ano de 1834, havia ainda o "Livro das Vereações da Câmara Municipal do Couto de Cortegaça". No ano de 1836, surge um decreto e uma reforma administrativa que cessaria a Câmara e o Couto de Cortegaça. Talvez, este marco represente o término do auge cortegacense.
No século XX, seria elevada novamente a vila no ano de 1985.



Imagem nº 1 - Cortegaça, com uma comunidade bastante afeiçoada à religião católica, teria alcançado o estatuto de terra realenga/couto, garantindo assim um estatuto equivalente ao de pequeno município.
Foto da autoria de Manuel Oliveira em: http://olhares.sapo.pt/igreja-de-cortegaca-foto2286285.html



Imagem nº 2 - Brasão da Vila de Cortegaça.



Cortegaça, terra com glória
(Poema da autoria do Cusco de Esmoriz)


Terra florestal,
Abundante em madeira
E contemplada pelo seu espaço arbustal, 
Alvejaria a sua glória verdadeira.

Foste concelho,
Os reis desejavam-te ardentemente,
Até a Ribeirinha meteu o bedelho, 
Nesse período em que viveste independentemente.

Ao Mosteiro de Grijó,
Os teus ilustres habitantes legaram propriedades,
Confiando em Santa Maria o perdão das suas maldades
E deixando o seu corpo reduzir-se a pó!

Mas todos os ciclos não são eternos ,
Os romanos e os mongóis perderam seus impérios,
Caíram mesmo em autênticos infernos,
Remoendo-se agora com inestimáveis impropérios!

Em 1985, Cortegaça volta a sorrir,
Novamente vila!
Agora com o Novo Buçaquinho a colorir,
Projecta-se um futuro que cintila.


Por fim, apresento-vos ainda a cantiga de amigo de D. Sancho I dedicado a Maria Pais Ribeira, certamente um poema praticamente tão bom como o meu:


"Ay eu coitada

Como vivo em gran cuidado

Por meu amigo que ei alongado!

Muito me tarda

O meu amigo na Guarda!

Ay eu coitada

Como vivo em gram desejo

Por meu amigo que tarda e não vejo!

Muito me tarda

O meu amigo na Guarda"


(Poema dedicado por D. Sancho I à Ribeirinha)


Pelo que se constata nos documentos, foi um desperdício ver uma mulher destas terminar os seus dias num mosteiro. Parecia ser muito bonita. Ai as cantigas de amigo tiram-me do sério! Confesso que começo a ficar excitado. Eles, de facto, foram muitos amigos. eh eh eh 
Os reis da Primeira Dinastia (e não só!) é que a sabiam toda. Não lhes faltavam mulheres para todos os gostos! Já agora sabiam que Odivelas tem uma origem muito curiosa. Parece que nasce, embora o termo tenha sido algo deturpado, da expressão "Ide vê-las", proferida pela Rainha Santa Isabel que, num dia, viu o seu marido, D. Dinis, a sair todo apressado do seu aposento, prevendo que o mesmo se dirigia, durante a noite, para um pinhal desta localidade lisboeta que decerto teria, na altura, mulheres formosas, certamente do agrado do rei Lavrador...


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