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segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

A Tanoaria como uma tradição identificativa de Esmoriz, defende Ricardo Marques

Consideramos pertinente a transcrição do seguinte texto sobre a importância e evolução da Tanoaria na Cidade de Esmoriz. O artigo é da autoria de Ricardo Marques, e penso que a sua leitura transporta diversas luzes sobre esta tradição que, mesmo passando actualmente por momentos difíceis, não pode ser esquecida pelo povo esmorizense.


TANOARIA: O GRANDE TESOURO DA CIDADE DE ESMORIZ


Geograficamente posicionado na fronteira entre o Norte e o Centro de Portugal, onde é vizinho e troca reciprocidades com o grande Atlântico, Esmoriz dá-se ao mundo como cidade de gente fraterna, humilde e de trabalho, cujas linhagens antepassadas muito contribuíram para um enriquecimento da sua cultura patrimonial. Assim, não é obra do acaso ou mera questão de estética e de embelezamento o motivo pelo qual se perfila, diante do seu coração, uma memória tão singular como é a estátua do tanoeiro.

A tanoaria, na sua essência, é uma prática antiga que se destina à produção de vasilhas, como pipas, tonéis e barris, que são utilizados para fins de colheita, tratamento e armazenamento do vinho. De facto, se há engenho ou labor que não pode ser obliterado quando se fala sobre Esmoriz, a tanoaria tem, forçosamente, que tomar a dianteira dessa lista. As primeiras raízes da atividade que foram cravadas na freguesia remontam ao início do século XX, numa fase em que Vila Nova de Gaia se assumia como núcleo de extrema preeminência, impulsionada pelo prestigiado comércio do Vinho do Porto. Todavia, já bem antes dessa data, conheciam-se diversos esmorizenses que percorriam os cerca de 20 quilómetros de distância para ganhar a vida nas tanoarias gaienses. Os mesmos que se aponta terem introduzido o ofício na própria terra, começando por se alojar em pequenos alpendres e cobertos. Dotados pelas ferramentas mas, sobretudo, pela experiência e força do labor, consolidaram o seu artesanato na região e, com o aumento da procura e da produção, veio a necessidade de expandirem as instalações que, no percurso das décadas, se foram desenvolvendo e maquinizando de forma a encurtar os procedimentos mais arrastados. Aos poucos, a importância da profissão foi ganhando especial evidência, assinalando a transição de um Esmoriz agrícola e piscatório para um Esmoriz fabricado e industrial.

No cômputo geral, a atividade manteve-se estável e próspera ao longo dos anos, com as novas leis do Estado a influenciarem diretamente a modernização e restruturação dos setores de exportação. Vivia-se um período em que a tanoaria era valorizada e colhia a devida reputação e frutos económicos. Até que, consigo, o ano de 1967 trouxe a proibição de se exportar o vinho em barril, um desenlace que fez ressentir e condenar irremediavelmente a indústria, uma vez que esta, ainda hoje, não se conseguiu reconstituir e é considerada um exercício em vias de extinção. Paralelamente, as vasilhas metálicas, produzidas em larga escala e através de métodos mais rápidos, colaboraram também para ir ofuscando a produção artesanal, apesar de a madeira oferecer, reconhecidamente, um serviço de maior qualidade por permitir a importante respiração do vinho.

Atualmente, Esmoriz mantém algumas tanoarias em funcionamento, que resistiram à crise e continuam, com perseverança e força de vontade, a impedir que se perca o vínculo com a tradição. Ainda que se manifestem como um espetro daquilo que o setor já simbolizou, abonam, talvez por isso, de maior afinidade dentro da população. Por toda a sua representação histórica e atual, a tanoaria distingue-se como um tesouro patrimonial, um autêntico esplendor de Esmoriz e de Portugal, através de um caminho que se fez modesto e com grande coragem e dedicação. A cidade orgulha-se desta matriz cultural, reivindicando o direito ao património através da criação do Museu da Tanoaria, um movimento nas redes sociais que foi muito bem recebido e conta com o vasto apoio dos moradores. Pretende-se que esta instituição sirva o propósito de dinamizar o turismo na freguesia e na região, complementando a rota turística que é percorrida ao longo das caves do Douro. Ao mesmo tempo, o objetivo passa por materializar esta raiz patrimonial, numa justa homenagem ao tanoeiro e ao seu artifício, que tanto fizeram por dignificar e enriquecer a cultura e a cidade.


Ricardo Marques



Imagem nº 1 - Escultura de Homenagem ao Tanoeiro em Esmoriz.


Nota 1 - Ricardo Marques, autor do blog Rabanadas de Escrita, foi entrevistado recentemente no Programa da Companhia do Pedro e do Zé, onde revelou seguramente o seu talento para a redacção. Na sua página electrónica, aborda muitos temas actuais e aconselho mesmo a visitarem o link citado em cima.


Nota 2 - A propósito deste texto, gostaria de recordar que existe agora uma página oficial no Facebook que se dedica às raízes desta actividade ilustre em Esmoriz - https://www.facebook.com/pages/Museu-da-Tanoaria-de-Esmoriz/220396678129612?fref=ts

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