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sábado, 10 de maio de 2014

A Barrinha também é um "monumento histórico"

A Barrinha de Esmoriz é talvez o lugar que reivindica uma história mais rica em Esmoriz. A primeira referência ocorre no séc. IX, sendo aí designada como Lagoa de Ovil, talvez por associação à proximidade do Castro de Ovil (estrutura pré-romana situada em Paramos).
No séc. XIII, possuiria um porto medieval que albergaria alguns barcos, e a lagoa estendia-se desde Paramos (noutros tempos, até começaria em Silvalde, onde se encontraram redes de pesca muito antigas) até Cortegaça. Era pois um curso de água bem maior do que aquele que conhecemos actualmente e que só se cinge a Paramos e Esmoriz.
As águas calmas da lagoa propiciavam sempre a prática da pesca, quando o mar estava bastante bravo, sobretudo na altura do Inverno. Para além disso, a área envolvente permitia aceder a produtos utilizados para a prática agrícola, muito visível nestes tempos mais recuados. Também se obteria a madeira utilizada para a construção de habitações.
Uma ponte, cujas origens não podem ser determinadas ainda com precisão, asseguraria a ligação entre Esmoriz e Paramos, sendo que a existência daquela chegou a ser referida no século XIX pelo escritor Júlio Dinis. Só sobram os seus abandonados alicerces como testemunhos dum tempo que poderá nunca mais voltar.
Houve ainda um cais, cujas ruínas ainda podem ser visualizadas actualmente, na zona da lagoa mais próxima à Estação de Caminhos de Ferro. Outrora saíam aí de comboio vários visitantes que iriam apanhar o barco no cais que os guiaria até à praia, uma tradição que desapareceu mas ainda recordada com nostalgia por muitos.
Nos últimos séculos, e antes de entrar na fase adoentada em que se encontra, a lagoa atraiu turistas nacionais e estrangeiros dos quatro cantos do Mundo. Houve quem escolhesse Esmoriz como lugar para sua lua de mel, só por causa dessa divindade natural cuja glória fora usurpada pelo ingrato ser humano. No Alentejo, conheci um número ainda significativo de pessoas que se lembraram de a ter conhecido, como é o caso da minha superiora que recorda com saudade essa era. Houve um tempo em que Esmoriz era a Barrinha, e a Barrinha era Esmoriz. 
A Barrinha é muito mais do que um charco ou múltiplos poços mal cheirosos como alguns chegaram erroneamente a dizer, a história prova-nos que outrora chegou a ser acerrimamente disputada entre povo e nobres, porque os seus recursos eram cobiçados.
Podemos concluir muitas coisas, mas a história não mente. 
A Barrinha foi o sustento de muita boa gente... As suas enguias e tainhas mataram a fome a muitas pessoas pobres.



Imagem nº 1 - A Barrinha de Esmoriz continua a manter o seu esteticismo, apesar da poluição que a tem arrasado nas últimas décadas.
Foto: Movimento Cívico Pró-Barrinha



Imagem nº 2 - A biodiversidade é ainda visível, sobretudo no caso das aves, sendo que existem mais de cem que estão documentadas.
Foto: Movimento Cívico Pró-Barrinha

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