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sábado, 3 de janeiro de 2015

Reportagem Cultural III - O Cemitério de Esmoriz

Antigamente, os enterramentos eram realizados no interior ou em redor dos templos cristãos. Como refere Aires de Amorim "o povo de outros tempos, alheio a problemas de higiene, queria-se, vivo ou morto, junto de um altar". Em 1861, o panorama começa a mudar, com os falecidos a serem sepultados no adro da Igreja, mas as invasões constantes por parte dos animais e as paredes do templo que começaram a fender (devido à proximidade de alguns enterramentos), fez então com que a Junta de Paróquia de Esmoriz tomasse uma decisão em 1865, solicitando à Câmara Municipal da Feira a construção imediata dum cemitério. 
As obras arrancaram em 1869 e foram concluídas em 1875. Ao longo dos tempos, o cemitério sofreu ainda alargamentos para abranger mais moradas para aqueles que tinham partido entretanto para o outro mundo. Neste âmbito, decorreram obras de expansão em 1918-1925, 1941, 1960 e 1979.
Actualmente o Cemitério de Esmoriz encontra-se muito próximo da Igreja Matriz local e da Capela da Penha, onde se realizam funerais da gente da terra, e ainda pisca um olho, nas suas traseiras, ao edifício da Junta de Freguesia de Esmoriz e à EN 109.
Estima-se que anualmente receba centenas ou até milhares de visitas daqueles que vêm para orar pela salvação das almas dos seus entes queridos, e procurando igualmente a sua intercessão no outro mundo para que a vida terrena se possa desenvolver em paz e harmonia.
O nosso cemitério apresenta ainda alguns jazigos que se pautam pela arte do azulejo, modelo bastante comum nesta região.
Recorde-se que este não terá sido o primeiro cemitério a existir em Esmoriz, visto que há uma necrópole antiga, presumivelmente do período suevo-visigótico (séculos V-VIII), soterrada em Gondesende. O dever de honrar os mortos, ora no Mundo ora em Esmoriz, já reivindicava um legado deveras ancestral.




Imagem nº 1 - O Cemitério de Esmoriz.
Retirada de: http://www.eurekabooking.com/en/guide/portugal/esmoriz/photos.html, (foto de Belmiro Teixeira).



Citamos ainda um poema magistral de Antero Quental dedicado àqueles que já partiram, e muito provavelmente, àqueles que se seguirão no futuro, pois é certo e seguro que todos nós também para lá caminhamos inevitavelmente...



Com os Mortos
(Poema da autoria de Antero Quental in "Sonetos")


Os que amei, onde estão? Idos, dispersos, 
Arrastados no giro dos tufões, 
Levados, como em sonho, entre visões, 
Na fuga, no ruir dos universos... 


E eu mesmo, com os pés também imersos 
Na corrente e à mercê dos turbilhões, 
Só vejo espuma lívida, em cachões, 
E entre ela, aqui e ali, vultos submersos... 


Mas se paro um momento, se consigo 
Fechar os olhos, sinto-os a meu lado 
De novo, esses que amei vivem comigo, 


Vejo-os, ouço-os e ouvem-me também, 
Juntos no antigo amor, no amor sagrado, 
Na comunhão ideal do eterno Bem. 




Imagem nº 2 - Retrato de Antero Quental (1842-1891) que homenageou aqueles que já partiram neste seu belo soneto.



Nota extra: É de elogiar o papel da Comissão de Melhoramentos de Esmoriz (na sua página do Facebook) e do Jornal O Malho Tanoeiro que prontamente divulgam os nomes daqueles que deixaram o nosso mundo, depois duma estadia fugaz por esta esbelta terra à beira-mar.


Referência Bibliográfica Consultada: AMORIM, Aires de - Esmoriz e a sua História. Esmoriz: Comissão de Melhoramentos de Esmoriz, 1986.

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