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quarta-feira, 15 de abril de 2015

O Caos na Saúde Pública

A reportagem de Ana Leal emitida na TVI no início desta semana diz-nos muito sobre a precariedade e até a ausência de dignidade humana que pontifica no Serviço Nacional de Saúde. É claro que poderá haver quem venha sempre afirmar que nem todos os hospitais públicos se encontram neste estado, e outros sugerem até que poderá ter existido alguma conivência oculta de algumas personalidades que guardam rancor ao actual governo (mas até estes pontos de análise nos parecem bastante discutíveis). Mas nada disso anula as gravíssimas situações reportadas e que, em boa hora, foram denunciadas nesta notável iniciativa levada a cabo por elementos da TVI.
Durante um mês, a jornalista da TVI Ana Leal e o repórter de imagem, Romeu Carvalho, infiltraram-se em 15 hospitais, recorrendo a câmaras ocultas. O cenário é apavorante, assemelhando-se, nalguns casos, a um cenário de Terceiro Mundo ou até a campos de campanha montados em casos de catástrofes ou conflitos militares. Um amontoado de doentes tripulavam os sombrios corredores, onde o Anjo da Morte aniquila sem piedade com as suas vidas, tirando proveito do seu isolamento e da desatenção a que são votados. É inimaginável a angústia, o medo e o abandono que um doente idoso deve sentir, quando é ignorado no meio daquela escuridão, nos seus últimos suspiros de vida. É notório que há falta de médicos e enfermeiros, que houve hospitais encerrados só por uma política de contenção de gastos. Há um desequilíbrio gritante no que diz respeito ao número de utentes por cada médico. Mais grave ainda, são os hospitais onde chega a faltar papel, roupa, fraldas e detergente para as mãos. Isto julgava que só acontecia em países pobres de África ou da Ásia, mas enganei-me redondamente. As esperas nas urgências podem bater horas-recorde, os médicos estão arrasados com o cansaço e pressão a que são sujeitos - algo vai muito mal nos hospitais públicos, e a perspectiva economicista, neste campo tão sensível, não deveria prevalecer, independentemente dos conselhos de Bruxelas e da Troika que podem perceber muito de finanças ou gestão, mas que de saúde, pouco ou nada sabem.
Depois de emitida a reportagem, confesso que fiquei ainda bastante envergonhado com as declarações do Secretário de Estado da Saúde que, na falta de argumentos, disparatou por todos os cantos, e avolumou mais ainda a indignação dos portugueses. O sr. Fernando Leal da Cunha teve o desplante de afirmar o seguinte: 


"É uma reportagem que só vem confirmar a opinião que eu tenho, que os serviços de urgência em Portugal funcionam muito bem, é uma experiência que confirma que tem picos de afluência, como nós já sabíamos, durante a noite os serviços tendem a encher-se, durante o dia tendem a estar mais vazios, por força da própria orgânica do sistema (...) O que nós vimos foram pessoas bem instaladas, bem deitadas, em macas com proteção anti queda, em macas estacionadas em locais apropriados, algumas dos quais em trânsito eventualmente para outro serviço. Vimos pessoas em camas articuladas, vimos pessoas com postos de oxigénio, vimos hospitais modernos, vimos sobretudo profissionais muito esforçados. (...) Os testemunhos dos médicos que eu ouvi, com o devido respeito, conheço-os há bastante tempo, alguns deles são reputados e reconhecidos militantes do Partido Comunista e da oposição, alguns candidatos a deputados. São pessoas que eu tenho gosto de conhecer há muito tempo e que obviamente estão politicamente motivadas para fazer algumas afirmações, que são opiniões. Nada daquilo é demonstrado"


Afirmações graves e lamentáveis de quem tenta atirar areia para os olhos dos portugueses, de quem deveria ter a humildade de assumir que é necessário um novo investimento para sanar as necessidades prementes dos hospitais portugueses. Mas não, o sr. Secretário de Estado de Saúde optou por "troçar" (com ironia) duma reportagem onde até foram citados casos de pessoas que morreram duma forma trágica e muito triste. Num país a sério, este tipo de declarações teriam consequências. Mas não, nada vai acontecer ao Sr. Fernando Leal da Cunha, ao qual só lhe faltou dizer que os doentes que estavam todos nos corredores (o que já agora, não é tolerável por lei) eram todos esquerdistas a conspirar contra o actual governo.
Mais uma vez, se constata que o "mexilhão" pagou a crise, e a factura não foi pequena, como alguns tentaram inferir perto do período pré-eleitoral.
O Ministro da Saúde Paulo Macedo até entrou bem na legislatura e soube gerir, de início, os problemas do SNS, mas neste ano de 2015, parece que a situação começou a descontrolar-se com o aumento do número de picos que congestionam os hospitais.
Se um dia ocorrer uma grande catástrofe (um terramoto, um tsunami...), é mais que certo que não estamos, nem de perto, preparados. 
Que Deus nos proteja de tal cenário apocalíptico!




Reportagem de Ana Leal (TVI) sobre o caos em 15 Hospitais Públicos
Retirado do Youtube, (Publicado por Luís Afonso Araújo)

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