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sexta-feira, 24 de julho de 2015

A entrevista do Grupo do "Monumento ao Bombeiro" a Óscar Alves, adjunto de comando dos BVE

Decidimos publicar no nosso blog a entrevista levada a cabo por Isaura Fátima Lopes e Ana Roxo (duas representantes do Grupo do Monumento ao Bombeiro) a Óscar Alberto Reis Alves, adjunto do comando dos Bombeiros Voluntários de Esmoriz que conta actualmente com 41 anos de idade. 
O texto introdutório bem como as perguntas e respostas foram extraídas a partir da Página do Monumento ao Bombeiro na rede social do Facebook, a qual pode ser mais concretamente consultada em: https://www.facebook.com/groups/monumentoaobombeiro/?fref=ts



ENTREVISTA

Óscar Alves é ainda jovem, mas é um bombeiro experiente e com mais currículo nos B.V.E. É um homem, dedicado, altruísta, empenhado, trabalhador... O seu amor pelos bombeiros nasceu quase no berço. É o bombeiro com mais formações e mais qualificado dos nossos bombeiros.
É um jovem que sabe ser, sabe estar e sabe fazer. Para ficarmos a conhecer um pouco mais sobre este humilde e notável bombeiro, vamos passar então, à entrevista.

1 - O que o levou a ser bombeiro?
Foi o acompanhar os bombeiros desde pequenino com o meu pai e desde sempre me fascinou a vida de bombeiro.

2 - Quais são as características que um bombeiro deve ter?
O primeiro ponto é gostar (tem de ser apaixonado pelo que faz); o segundo ponto é ter disponibilidade e o terceiro ponto é ter vontade de aprender (a escola de bombeiro é uma aprendizagem).

3 - Quando sai em serviço como é que a sua família reage?
É uma pergunta curiosa. Por exemplo, quando saio em serviço, raramente recebo telefonemas da minha família. A minha filha Bruna antes de eu sair em serviço diz sempre isto: « Ó pai, vai com Deus e, se tu não ligas, é porque estás bem. Confia em Deus!»

4 - Quando vai para um serviço complicado, quais são os sentimentos que lhe passam pela mente?
O mais complicado é lidar com pessoas. O que eu penso muitas vezes é o seguinte: «Quanto mais grave, melhor». Com isto quero dizer, não o ser mais grave para a vítima, mas sim para os bombeiros e isto porque é muito importante o serviço de emergência para adquirir conhecimento. O treino é difícil; mas assim, o trabalho fica mais fácil. A primeira coisa que nos vem à mente é o cenário que iremos encontrar; por vezes, é o oposto do idealizado.

5 - A sociedade valoriza o vosso trabalho ou só se lembram dos bombeiros quando precisam?
É uma pergunta interessante. Somos mais valorizados no Verão, porque a comunicação social vende as imagens. A nossa actividade principal é a emergência, o serviço pré-hospitalar e não tanto os incêndios. As duas entidades com maior aproximação à população são os Bombeiros e a GNR.

6 - Já teve alguém que você ajudou que depois o procurou para agradecer?
Sim, várias pessoas; mas há um caso que recordo em particular: o de um senhor que amputou os quatro dedos da mão. Voltou a agradecer já com a mão direita e reconstruída.

7 - Qual foi a missão mais difícil que teve de enfrentar na sua vida de bombeiro?
A missão mais difícil ocorreu em 2013 no fatídico incêndio do Caramulo. Eu estava no posto de comando das operações e foi muito complicado. Fui eu que estabeleci as comunicações com o comando de operações e percebi cedo que poderiam morrer pessoas naquele incêndio.Relativamente ao incêndio, custou-me mais, porque a orografia do Caramulo é bastante complicada. Eu pedi autorização ao comandante responsável para desenhar os traços do incêndio para ver se ia de encontro àquilo que eu pensava. Pedi ao comandante responsável para retirar o pessoal da zona de incêndio. Tive de pedir ao comando para se fazer um fogo táctico. O acidente só não foi mais grave ainda, porque havia 2 Canadair franceses que estavam no terreno. Um deles conseguiu mesmo largar a água no sítio correcto. Foi muito complicado. Eu estava no posto de comando e a coisa mais estúpida é morrer num incêndio florestal. Este incêndio foi muito grave, porque também houve uma falha na segurança.

8 - Pode ser paradoxa e complexa esta pergunta, mas vamos ter de a fazer. O que é que lhe traz mais felicidade: salvar uma vida ou ser bombeiro?
O salvar uma vida, que para mim também é possível, porque sou bombeiro.

9 - Concorda com esta frase: «saber para servir»? Então, é da opinião que um bombeiro ande sempre em formação?
Completamente. Sim. O bombeiro deve orientar-se segundo um triângulo com três saberes: o saber ser, o saber fazer e o saber estar.

10 - Eu sei que temos uma Escola Nacional de Bombeiros e que todos os bombeiros que passam lá e que está munida de um óptimo laboratório. Tem aparelhos quase únicos no mundo, pois só existem mais dois, mas não são tão bons. Isto quer dizer que Portugal está a investir na formação dos bombeiros? Poderá dizer-se que mais formação, menos riscos, ou na prática não é isto que acontece?
Sim, concordo, quanto mais formações, menos riscos corremos.
Além de bombeiro voluntário; sou formador externo na área de primeiros socorros e combate a incêndios florestais. Muito recentemente sou também o auditor técnico da escola de formação dos bombeiros. Sou o auditor do agrupamento nos distritos de: Aveiro, Coimbra, Guarda e Viseu. Sou igualmente formador credenciado pelo INEM.

11 - É da opinião que o governo deveria investir mais na prevenção dos fogos?
Completamente. O governo deveria investir em prevenção. Deveria aplicar parte do orçamento no combate e prevenção dos incêndios. Assim, teriam a situação minimizada.

12 - Como justifica tantos incêndios?
Tenho as minhas dúvidas, mas segundo a GNR, 80% dos incêndios são negligência e 20% criminalidade.

13 - Com estes incêndios todos como é que vê a floresta, ou melhor a paisagem, daqui a 20 anos?
Desordenada, completamente desordenada. Não há ordenamento florestal.

14 - Acha que os bombeiros têm recebido o devido apoio do Estado?
Não tanto como desejaríamos.

15 - Concorda que as mulheres são uma mais-valia para um corpo de bombeiros?
Já dei formação a mulheres bombeiras e não vejo nenhum inconveniente. Elas revelam ter a mesma capacidade do que os homens. Por isso, são uma mais-valia para um corpo de bombeiros.

16 - Tem sempre a noção de dever cumprido?
Sim: o dever cumprido é o que nos motiva para estarmos cá no outro dia.

17 - Para terminar, que conselho daria a um jovem que queira integrar o corpo de bombeiros?
O conselho que dou é que tem de entrar para o corpo de bombeiros com muita vontade de querer, de gostar e de aprender. Tem de encarar o ser bombeiro como uma oportunidade de vida.



Entrevista feita por Isaura Fátima Lopes e Ana Roxo a Óscar Alves




Imagem nº 1 - Óscar Alves, Adjunto de Comando dos BVE, contou-nos um pouco sobre a sua missão de ser bombeiro e ajudar os outros.

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