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sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Enigmas Históricos do Lugar da Torre (1ª Reportagem Celebrativa dos "1500 Textos")


1. Existiu ou não uma Torre?

O Lugar da Torre é um dos espaços mais enigmáticos da Cidade de Esmoriz. Nas inquirições de D. Dinis, datadas para o ano de 1288, encontramos menção à "Quinta da Torre" que pertenceria ao cavaleiro Martim Rodrigues, nobre abastado que detinha várias propriedades nesta região e que viria a redigir o seu próprio testamento a 23 de Novembro de 1315, tendo legado diversos bens ao Mosteiro de Grijó, onde acabaria por ser sepultado.
A história é fascinante se tivermos em conta que o nome desta nobre quinta já indiciava a existência duma estrutura defensiva nos tempos precedentes ou até coevos ao século XIII. Por outras palavras, a ter existido uma torre defensiva ou uma atalaia de vigilância em Esmoriz, nunca poderá a sua existência remontar a um período posterior aos finais do século XIII (altura das inquirições régias de D. Dinis). Aliás, acreditamos que a quinta medieval da Torre se situaria algures dentro da delimitação geográfica que corresponde actualmente ao designado Lugar da Torre.
Por exclusão de partes, chegamos rapidamente à conclusão de que a torre (se efectivamente existiu!) poderá ter sido erguida na Idade Antiga Tardia (séculos III-V), Alta Idade Média (séculos V-X) ou Plena Idade Média (séculos XI-XIII).  No caso da história europeia, sabemos que o recurso à construção de torres tornou-se uma realidade muito frequente durante o Medievo, assumindo uma importância funcional e simbólica. Por um lado, esta estrutura garantia algumas condições de defesa e de segurança numa época bastante instável em que os conflitos, as escaramuças e as emboscadas abundavam, enquanto que, no âmbito simbólico, a torre representaria igualmente o poder do seu senhor ou proprietário. 
Dentro deste contexto, a eventual construção duma estrutura defensiva destinada a vigiar à distância o mar e a Barrinha de Esmoriz é uma hipótese que, à primeira vista, nos parece pertinente, visto que o nosso litoral (então vulnerável) poderia ser alvo de depredações por parte de vikings e piratas berberes que eram já sobejamente conhecidos por assolar as comunidades costeiras durante a referida Idade Média. Por outro lado, o longo e extenuante cenário belicista da Reconquista Cristã que se vislumbrou, com muitos avanços e recuos, na Península Ibérica poderia também ser outro factor determinante a ter em conta.
Logicamente, desconhecemos o nome do rei ou senhor que teria mandado erigir uma suposta torre ou atalaia em Esmoriz. No entanto, o perfil desafogado e influente de Martim Rodrigues é algo que nos chama rapidamente à atenção. As inquirições régias do rei "Lavrador" (1288-1290) constituem o primeiro documento conhecido com referência implícita à "Torre" em Esmoriz, embora para "baptizar" uma propriedade que era pertença desse mesmo cavaleiro. Neste ponto em particular, deixaremos três questões que consideramos tentadoras - Teria sido o cavaleiro Martim Rodrigues responsável pela construção duma torre na sua quinta nobre? Ou será que a torre, no caso de lhe ser anterior, ainda existia na propriedade durante o reinado de D. Dinis? Seria a torre do século XIII, ou afinal de tempos bem anteriores?
Reconhecemos seguramente que a inexistência de dados concretos, ora no plano documental ora na vertente arqueológica, não nos permitem extrair conclusões suficientes que possam confirmar todo este raciocínio especulativo. De qualquer modo, todos os cenários estão em aberto, e até nem sequer podemos descartar a eventualidade de nunca ter existido uma torre em Esmoriz, o que esvaziaria, de qualquer sentido, a designação toponímica que vigora naquele lugar. 
Em suma, confessamos que este é um dos principais mistérios da nossa cidade, pelo que deveria ser encorajada a realização de novas pesquisas de modo a que se obtenham mais informações que possam ser decisivas para a resolução deste dossier.





Imagem nº 1 - A torre medieval de Vrsac (Vojvodina, Sérvia) remonta ao século XV. Situava-se no topo duma colina.
Direitos da Foto - Uros Petrovic (www.flickr.com)
Imagem meramente exemplificativa




2. O Poço dos Mouros: Mito ou Realidade?


Directamente relacionada com a temática anterior, encontramos o apregoado Poço dos Mouros no mencionado Lugar da Torre. As narrações populares até então conhecidas divergem entre duas teorias. A primeira é a de que se trata dum poço que provavelmente teria sido erigido na época de domínio muçulmano na Península Ibérica, constituindo assim uma reserva de água para a comunidade. A segunda não corrobora a existência do poço, alegando que os vestígios estruturais encontrados (de dimensão rectangular) podem indicar antes uma saída de emergência de qualquer atalaia ou torre que terá existido nas imediações.
Evidentemente, este é mais um dos enigmas que não poderemos solucionar. Os testemunhos recolhidos são interessantes, mas não são, de modo algum, validados cientificamente. Todas as hipóteses estão, por isso, em cima da mesa, quer remetam para uma origem antiga ou apenas recente.
No nosso entender, a referida estrutura deve ser examinada por arqueólogos experimentados, de forma a decifrar as suas reais funcionalidades bem como estabelecer propostas cronológicas consistentes.
Não sabemos que segredos ou até tesouros a terra "sugou" em Esmoriz ao longo dos tempos, nesse votar do passado a um silêncio profundo, mas que pode ser, a qualquer momento, "ressuscitado" pelo trabalho dos arqueólogos, historiadores, jornalistas e cidadãos mais interessados nestas matérias.





Imagem nº 2 - O "Poço de Mouros" no Lugar da Torre. Estrutura antiga ou recente? Ruínas dum poço, duma atalaia/torre ou de outra construção?
Foto: Revista Esmoriz-Recordando o seu Passado





Nota-extra: No caso de se descobrir um documento mais antigo (anterior às inquirições de D. Dinis nos finais do século XIII) que se refira ao lugar ou à quinta da Torre em Esmoriz, então logicamente a existência da torre terá de preceder a data desse manuscrito, visto que a alegada existência desta estrutura deverá ter estado na raiz ou na origem desta designação "toponímica/nominal". Ou seja, o lugar ficou assim conhecido, porque antes teria lá existido uma torre ou atalaia.



Referências Consultadas:

  • AMORIM, Aires de - Esmoriz e a sua História. Esmoriz: Comissão de Melhoramentos de Esmoriz, 1986.
  • HENRIQUES, Pedro - Esmoriz - Desde a Idade Média até à Actualidade. Esmoriz, 2013. Estudo disponível em formato electrónico: http://pt.scribd.com/doc/149566930/Esmoriz-Desde-a-Idade-Media-ate-a-Actualidade.
  • SANTOS, Orlando - Histórias da nossa História - O Poço dos Mouros in Revista Esmoriz - Recordando o seu Passado. Ed. Danças e Cantares de Santa Maria de Esmoriz, 1993.
  • Inquirições de D. Dinis. Livro IV. Conservadas no Arquivo da Torre do Tombo. Poderão ser consultadas digitalmente em: http://digitarq.dgarq.gov.pt/details?id=4182562



Artigo Escrito no Âmbito da Meta Alcançada dos 1500 Textos Publicados no Blog



Esclarecimento-extra - Atingimos muito recentemente a marca dos 1500 textos. Como não tencionamos deixar passar ao lado esta estatística, publicaremos uma série de 5 reportagens de âmbito histórico ou lendário durante o mês de Outubro. Foi esta a forma que encontramos para assinalar com brio este novo feito.

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