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quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Como Orlando Santos via o saudoso Esmoriztur em 1993


Cine Teatro Esmoriz Tur - Centro Distrital de Cultura


Quando, há cerca de vinte anos, um punhado de esmorizenses se abalançou na construção do complexo "Esmoriztur", nunca terá pensado na influência cultural que viria a ter na região e, muito menos, na sua projecção nacional.
Na realidade - nesses tempos áureos do cinema - foi imperativa a construção duma sala destinada, essencialmente, ao "celulóide" e, eventualmente, a espectáculos participados pelos "nossos artistas". 
Com o advento dos vídeos e das loucuras da TV, em pouco tempo a exploração cinematográfica definhou e centenas de cinemas fecharam as portas em todo o país. O "Esmoriztur" resistiu!
Reconvertido o sistema de exploração, alterada a filosofia cultural da até então utilizada, a génese que esteve na sua origem não passa hoje de expressão irrelevante. E se os filmes continuam a ser exibidos regularmente deve-se, apenas e só, ao respeito pelos espectadores (poucos) que ainda o frequentam. 
Agora, a realidade é outra. Aproveitadas as excelentes instalações (consideradas das melhores do país) e a sensibilidade cultural do povo esmorizense - significativamente apurado em relação ao meio em que está inserido - em pouco mais de três anos o Cine Teatro Esmoriztur transformou-se no centro cultural do Distrito de Aveiro. Além de ser a sala que mais espectáculos apresenta (não incluindo, naturalmente, as sessões cinematográficas), é na sua diversificação e qualidade que assenta o prestígio de que goza no país.
Pelos seus palcos passaram já os maiores cartazes do espectáculo: revista, drama, comédia, declamação, dança, ballet, fado, variedades e até... magia e patinagem artística! Nas suas instalações, conferências e seminários têm marcado presença quase periódica, muitas vezes com participação internacional, além de variadas exposições, nomeadamente de artesanato ao vivo.
Desta plêiade de eventos, já quase considerados habituais, alguns há que se destacaram por excepcional qualidade artística ou projecção internacional.
Em pouco mais de um ano, Esmoriz viveu três acontecimentos inesquecíveis: Concertos pela Regie Cooperativa Sinfonia (dois em menos de um mês!), Festival Internacional de Cinema de Animação e Concerto pela Orquestra Ligeira do Exército. 
Deste Concerto, pouco há a dizer. Realizado há poucos dias, ainda está bem vivo na memória de quem assistiu a este magnífico espectáculo.
O Festival Internacional de Cinema de Animação - Cinanima 92 - foi acontecimento ímpar na sala do Esmoriztur: durante uma semana, uma centena de estrangeiros, oriundos dos mais variados pontos do mundo, esteve presente neste certame de prestígio internacional. E milhares de espectadores puderam conhecer o que de melhor se produz no mundo nesta arte. Esmoriz, durante esses dias, foi notícia obrigatória em todo o mundo: nos jornais, nas rádios, nas televisões.
Da Regie Sinfonia, o melhor testemunho vem-nos da América, através do nosso conterrâneo Carlos Pais que sentiu, desta forma, o acontecimento: "... Quando compramos o bissemanal Luso Americano, de publicação local, com notícias dos portugueses e de Portugal, a primeira coisa, por imposição daquele laço, inquebrável, que nos une à Terra Mãe, é procurar, folha por folha, o nome de Esmoriz e tomar conhecimento da notícia que, pela sua importância, mereceu ser seleccionada, entre "milhares", e publicada. Algumas têm sido, infelizmente, que nenhum prestígio dão à nossa Terra. E depois, como a imprensa, por aqui, vive muito de "casos sensacionalistas", as piores, as mais desprestigiantes, merecem sempre as primeiras honras. Assim não foi no dia 29 de Dezembro de 1990! A edição do Luso Americano desse dia, pela caneta do Senhor Artur da Paz, num apontamento de fim de ano e como que a querer recordar o que de importante, de conceito positivo e dignificante, tinha acontecido, ou que de crítica positiva merecia, destacou o Concerto da Orquestra do Porto, Regie Cooperativa Sinfonia, apresentado ao público no "magnífico Cine-Teatro Esmoriztur e dirigido pelo maestro Jan Lathan-Koenig". Acompanha o apontamento uma fotografia do acontecimento. Olhamos a foto, lemos e relemos aquela media dúzia de linhas de texto e gastamos dez minutos neste acto renovador da consciência e das origens. Voltamos ao jornal no dia seguinte, repetindo o ritmo e ficamos cada vez mais perto! A nossa Terra está mesmo ali, frente a nós, naquela imagem cerebral"...


Texto da autoria de Orlando Santos
Com testemunho do emigrante esmorizense Carlos Pais




Foto do Cine-Teatro Esmoriztur em 1993



Nota-extra: Orlando Santos foi um dos fundadores da Rádio Voz de Esmoriz e ainda assumiu o papel de coordenador da revista local "Esmoriz-Recordando o seu Passado", de onde foi retirado o artigo publicado em cima. 
Pela credibilidade que este enormíssimo cidadão nos merece, não poderíamos deixar de apresentar este valioso testemunho, nomeadamente para mostrar aos jovens de hoje que aquele edifício arruinado já foi um dos grandes cartões-de-visita da cidade de Esmoriz. 
Orlando Santos tinha um profundo orgulho no seu "Esmoriztur" e naquilo que lá era produzido culturalmente. Neste momento, esteja onde ele estiver, penso que ele se sentirá desgostoso pelo actual estado do espaço que se encontra degradado e abandonado. Mas uma coisa é certa - a história deste importante pólo cultural jamais será furtada pelo presente indigno. A pujança de outros tempos não pode ser obliterada pela inércia ou até incompetência actuais.
Viva o Esmoriztur!

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