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domingo, 5 de junho de 2016

Ao Castelo de Ovar, envio uma missiva...

Ao Castelo de Ovar, envio uma missiva. Quer ele tenha existido ou não, e pelos vistos parece que nunca passou de um mito popular, verdade seja dita - pouco ou nada nos interessa porque a mensagem segue na mesma, ainda que possa ir parar a destinatário incógnito.
Aos vassalos nobres desse castelo fictício lanço um desafio, talvez até o maior desafio das suas vidas - reabilitem com classe a Barrinha de Esmoriz que conta com uma história milenar. Sim, a primeira referência sobre a Lagoa de Ovil remonta ao século IX, isto é, há mais de mil anos atrás e ainda antes da fundação da nacionalidade. E isto meus senhores, quer se goste ou não, é um facto atestado na documentação histórica. Não são boatos, nem tampouco invenções fantasiosas da minha parte.
Na Barrinha, existiria talvez o porto medieval mais importante desta região, embora o mesmo assumisse configurações provavelmente modestas no decurso do século XIII. Muitos não sabem, mas a Barrinha chegou a ter uma extensão muito maior do que a actual, partindo desde Silvalde até Cortegaça. Só de pensar nisso, imagino um cenário idílico e apaixonante, onde não havia assoreamento, poluição e irresponsabilidade humana.
A Barrinha de Esmoriz foi sim o "castelo" dos pescadores, dos agricultores, das sucessivas comunidades que subsistiam nas redondezas. A lagoa matou a fome a muita gente noutras eras, sobretudo nos tempos do pleno feudalismo onde os impostos sufocavam a arraia-miúda. A Barrinha, repito, foi o "castelo do povo"! Alguém duvida disso?
Apesar do terrível assoreamento das últimas décadas, a nossa "menina dos olhos de água" continua ainda assim a ser considerada como o maior sistema lagunar da zona norte do País, contando com uma avifauna diversificada que engloba mais de cem espécies. Não, não há outro ponto verde do concelho de Ovar onde se verifique tanta variedade em termos de fauna e flora.
Talvez por causa disto nos tenhamos batido, desde sempre, pela sua reabilitação. Porque sim, reconhecemos o seu potencial natural, económico e turístico. Porque sim, a verdade histórica deve ser restaurada pelo presente. 
A Barrinha merece. 
Ao Castelo de Ovar, se efectivamente existiu, termino agora a missiva, afirmando que dispõe agora de uma oportunidade única para "dizer" presente!




Foto - Rubim Almeida

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