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domingo, 24 de julho de 2016

Je suis Nice, Alepo e Munique

Depois do atentado de Nice e da sequência negra que ainda se vive na Turquia, acreditava que o mundo poderia finalmente acalmar um pouco nas próximas semanas ou meses, mas infelizmente enganei-me porque efectivamente as grandes instituições supra-nacionais (UE, NATO e ONU) conseguem desiludir-me cada vez mais. 
Na Turquia, chega a ser deplorável a forma como os prisioneiros são tratados, chegando-se a ver ex-militares semi-nus deitados humilhantemente perante o chão frio de um pavilhão prisional. Tratados sem qualquer dignidade, tratados pior do que os animais! Entretanto, as purgas na Justiça, na Educação e no Exército sucedem-se e já superam as treze mil. Quem é contra o regime de Erdogan e defende um maior secularismo, tem a sua carreira profissional em risco. Enquanto tudo isto acontece, ninguém aparece para dar um puxão de orelhas ao presidente turco Recep Erdogan. Nem a ONU, nem a NATO! Já a União Europeia limita-se a lançar pequenos avisos, mas sem efeitos práticos até ao momento.
Na Síria, a guerra atroz que já remonta ao ano de 2011 continua diariamente e parece ainda estar longe do fim. Dizem que o Estado Islâmico perdeu cerca de 12% do seu território nos últimos seis meses, mas o califado terrorista continua bem vivo, e apesar do seu declínio recente, já conseguiu introduzir células na Europa ou até ganhar admiradores fanáticos (os designados "lobos solitários"). Pelo que apuramos ainda, a França (contando com o apoio dos EUA) decidiu vingar o atentado de Nice com um bombardeamento massivo na província de Alepo que se traduziu num banho de sangue e cujos resultados foram absolutamente ridículos. Pelo menos, 140 civis terão perecido durante os ataques às localidades de Tukhan al-Kubra e Manbij.
Isto é o que dá atacar certos territórios sem o mínimo de critério. Foi uma retaliação que mais se assumiu como uma vingança violenta. Bem sei que estas intervenções ofensivas acarretam sempre a morte de civis, mas não podemos cair no exagero de fazer com que as mortes de pessoas inocentes sejam tão elevadas, ao ponto de ultrapassarem bastante o número de jihadistas eliminados. É tudo uma questão de credibilidade que deve ser ponderada ao máximo aquando destas acções! Para acabar com a guerra na Síria, não basta lançar apenas bombas sobre várias localidades cujo resultado final pode ser, muitas vezes, aleatório. É preciso uma intervenção terrestre devidamente planeada. E aí uma força internacional de paz (capacetes azuis da ONU? tropas da NATO?) poderia devolver a paz ao território, e acabar de vez com a maldita fome que destrói famílias e não poupa sequer as crianças daquele país. Por outro lado, é necessário denunciar as fábricas que andam a vender armamento ao Estado Islâmico, é imperioso punir quem mantém negócios obscuros (petróleo?) com este califado terrorista. É altura, meus caros, dos dirigentes mundiais ganharem "tomates" e dizerem basta! É pois essencial iniciar uma invasão terrestre e enfrentar na cara o inimigo, é preciso acabar com isto depressa e sem mais demoras. É necessário marchar em direcção a Raqqa, capital do Califado Jihadista. É imperioso recuperar Mossul, no Norte do Iraque. É indispensável acabar de vez com o Estado Islâmico, e cortar o mal pela raiz. Repudiem os conluios obscuros e façam o que tem de ser feito sob pena de morrerem mais inocentes nos próximos anos, tanto na Europa como no Médio Oriente. E isto é um apelo à NATO, à UE e à ONU. Se nem isso conseguem fazer, então façam-nos um favor - demitam-se para dar lugar a quem nos saiba defender deste sistema negro e podre. 
No passado dia 22 de Julho, um ataque em Munique vitimou fatalmente 9 pessoas. Inicialmente, pensava-se que teria sido mais um atentado terrorista com o dedo do Estado Islâmico, mas terá sido antes uma acção extremista provocada apenas por um jovem bastante desequilibrado de 18 anos que teria dupla nacionalidade (alemã e iraniana) e que, pelos vistos, adorava videojogos de tiroteio. Não se conhecem ainda as razões que o levaram a cometer a sua onda de disparos mortíferos no shopping Olympia (radicalismo religioso ou particular admiração pelas acções extremistas de Anders Breivik?), mas as autoridades concluíram rapidamente que ele terá agido sozinho, tendo acabado por suicidar-se. Não obstante, o terrorismo religioso e o extremismo político são dois males que andam de mãos juntas. Se repararmos com atenção, tudo se encontra inter-relacionado. Quando o terrorismo se intensifica na Europa, também o mesmo se sucede com as manifestações de extremismo, racismo e nacionalismo. E o próprio extremismo também se pode transformar em terrorismo quando as suas acções mais radicais se traduzem igualmente em banhos de sangue. O ódio une-os a todos, seja através de uma ideologia religiosa ou política que defende que a raça x é superior a todas as outras. 
A Europa de hoje tem de saber lidar com o terrorismo e o extremismo, mas também deve olhar para o mundo que a rodeia e tomar uma posição mais firme e definitiva na resolução do conflito da Síria. No meio disto tudo, volto a lamentar o estado dormente a que tem estado votada a própria ONU que já nem sequer se consegue impor num conflito, e o próprio Conselho de Segurança deveria mudar as regras do seu funcionamento, de forma a impedir que só um "veto" pudesse turvar ou impedir aquilo que realmente tem de ser feito. 
Haverá alguém com coragem necessária para tal?
Quantos mais inocentes terão de morrer na Europa e na Síria?





Imagem nº 1 - Alepo, a 2ª cidade mais importante da Síria, encontra-se hoje em ruínas. O seu último pediatra morreu há três meses na sequência de um bombardeamento, não havendo agora nenhum profissional especializado que cuide das crianças que ali se encontram entre os escombros. 
Retirada do Google Imagens


Nota-extra - Lamentamos a morte de todos os inocentes que morrem nestes actos de ódio e vingança. Hoje, nós somos Nice, Alepo e Munique. Amanhã, quereremos sempre acreditar num mundo melhor, onde todas as raças e religiões possam conviver amigavelmente. 

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