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domingo, 4 de junho de 2017

Pérolas Históricas de Esmoriz XI - A pedra (quase) única de Gondesende

"Um monte de pedras deixa de ser um monte de pedras no momento em que um único homem o contempla, nascendo dentro dele a imagem de uma catedral".


Antoine de Saint-Exupéry
(escritor e ilustrador francês, 1900-1944)



Gondesende guarda, dentro do seu reduto, um tesouro, não de ouro, mas de pedra, tendo em conta as características invulgares de um exemplar rochoso que se oculta por entre os silvados de um denso matagal. O material singular encontra-se a poucos metros da Quinta do Engenho Novo, já sita em Paços de Brandão.
Segundo os boatos populares, este afloramento existiria já há cerca de 600 milhões de anos, pese a sua descoberta remontar apenas aos inícios do século XX, e apenas podem ser encontrados exemplares similares em mais duas ou três pequenas regiões no mundo (salvo o erro, estes modelos rochosos semelhantes estariam em zonas ínfimas de países como a França, o Canadá ou a Inglaterra). Por outras palavras, é um anfibolito olivínico com interesse mineralógico, estrutural e didáctico. No entanto, os estudos até então realizados  pautam-se pela escassez, pelo que até então não foi possível extrair grandes conclusões científicas. Ainda assim, é claro que, ao longo do tempo, houve especialistas em geologia que começaram a olhar com alguma atenção para este afloramento rochoso. 
Em 1914, Sousa Brandão foi o primeiro investigador a interessar-se por aquela pedra invulgar, a qual na altura poderia ser ainda observada à beira da estrada. Como podemos constatar, e apesar da sua existência milenar, o seu reconhecimento remonta então aos inícios do século XX através de uma referência muito pontual no trabalho daquele erudito.
Em 1977, surge, pela primeira vez, um estudo minimamente desenvolvido que foi assegurado pelo Professor Miguel Montenegro de Andrade. De acordo com as indicações deste geólogo, esta pedra seria única em Portugal e muito rara no mundo devido ao contexto em que ocorre e pelo conjunto de minerais que a diferenciava das demais. Tratava-se portanto de um testemunho de rochas que chegaram à superfície no âmbito de um processo geológico bastante complexo.
No entanto, projectos universitários mais recentes têm colocado um pouco, em causa, a sua raridade, inserindo as características deste anfibolito de Gondesende num grupo de outros exemplares semelhantes existentes no concelho de Espinho e na Foz do Douro. Ainda assim, os estudos realizados estão longe de ser conclusivos, pelo que as averiguações vindouras terão ainda muito por esclarecer sobre a importância desta rocha.
Muito recentemente, e como se pode ler na última edição do Jornal A Voz de Esmoriz (referente ao mês de Maio), Normando Ramos, dirigente da Comissão de Melhoramentos de Esmoriz e geólogo por vocação, foi um dos mentores da classificação deste oliviníco rochoso de Gondesende como geo-sítio a preservar pelo Laboratório Nacional de Energia e Geologia. De acordo com Normando, "esta é das poucas ocorrências geológicas classificadas como geo-sítio" e defende que os próximos passos devem passar pela aquisição do terreno, pelo desmatamento/limpeza do local, e pelo convite a endereçar a especialistas como os Drs. Benedito Calejo e Carlos Meireles para que estes possam estudar o fenómeno com maior precisão, divulgando depois os resultados pela comunidade e zelarem pela preservação do anfibolito, além de o enquadrarem no meio natural em que se insere, junto à Quinta do Engenho Novo, favorecendo a afluência de visitantes. A integração do anfibolito no mencionado "parque", embora respeitando sempre as divisões administrativas das freguesias de Esmoriz e Paços de Brandão, poderia servir os interesses de ambas as comunidades.
A classificação muito recente de "geo-sítio" poderá abrir novas luzes e confirmar a pertinência geológica e científica deste afloramento rochoso que importa conservar.





Imagem nº 1 - O anfibolito olivínico de Gondesende caracteriza-se pela sua matéria geológica invulgar.
Foto - Normando Ramos (Comissão de Melhoramentos de Esmoriz)





Imagem nº 2 - O Jornal A Voz de Esmoriz fez, na edição de 25 de Maio de 2017, referência à classificação recente do afloramento rochoso enquanto geo-sítio. Estiveram no lugar a tecer considerações Benedito Calejo e Normando Ramos.
Retirada do: Jornal A Voz de Esmoriz, edição do mês de Maio de 2017.



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