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sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

The call of Local Pipers

Os ecos da Política Nacional fazem-me lembrar, em paralelo, os sons emitidos pelo Flautista de Hamelin, um dos protagonistas de uma das fábulas mais antigas e conhecidas, como irei relatar, de forma muito abreviada, em seguida.
Corria o ano de 1284, quando o Flautista de Hamelin utilizou as suas incríveis capacidades musicais para atrair todo o tipo de ratazanas que assolavam a vida comunitária daquela urbe, levando-as até a um fosso onde todas se afogariam. Contudo, o povo de Hamelin recusou-se a pagar a recompensa que tinha sido previamente acordada com o flautista caso ele resolvesse o problema da praga dos ratos. Indignado e com sede de vingança, voltou mais tarde à cidade, com uma melodia ainda mais encantadora, e de forma sorrateira, lá conseguiu atrair 130 crianças daquela urbe a segui-lo numa jornada, tendo aquele, no fim, confinado os meninos numa caverna, acabando estes por ter um fim ominoso.  Se o mítico criminoso alemão, com recurso a uma flauta, roubou os filhos a quase todos os pais da pequena cidade de Hamelin (colocando a descendência e toda uma futura geração em causa; foi esta a sua retaliação dado o facto de não lhe terem pago a recompensa acordada), eis que hoje a Divindade da Política Nacional, qual Ninfa absorvedora de energias humanas, promete reservar exclusivamente para si o empenho incondicional de todos os seus aspirantes, privando-os de muito do seu tempo, não em cavernas, mas nos seus congressos e debates, duelos travados no seu altar pagão enfeitado com promessas de glória e quadros coloridos futuristas emoldurados, nas laterais, com talha dourada.  Mas o desgaste dos nossos autarcas e o desviar das suas atenções para a realidade nacional (onde participam activamente) não é benéfica para os concelhos em que estão inseridos e onde desempenham um papel relevante. Tal não favorece nem agiliza a tomada de decisões locais. Claro que delegar poderes a outros protagonistas do executivo para assegurar a gestão corrente poderá ser suficiente no entender de alguns, mas a verdade é que há situações sensíveis no concelho que são prioritárias no que diz respeito à tomada de decisões e que exigem a presença de todos. 
Todo esse contexto é o ideal para que grupos e forças de reduzida visibilidade ou operância demonstrem a sua capacidade interventiva.
Dentro deste contexto, vem-nos logo à cabeça o caso do Conselho Consultivo da Câmara Municipal de Ovar integrado por veteranos da política local, distribuídos pelos principais partidos, homens que têm uma vasta experiência na gestão da realidade local e cuja aptidão se prefigura para tais exercícios. Dentro das suas possibilidades e suas disponibilidades, estes membros poderiam auscultar as reclamações da população e sugerir procedimentos na próxima reunião mensal com o Presidente da Câmara Municipal de Ovar (além da edilidade, este ainda desempenha as funções exigentes de Vice-Presidente do PSD Nacional em apoio a Rui Rio e de Presidente da Distrital do PSD Aveiro). Achamos que o caso da Arte Xávega merece um tratamento urgente, dadas as últimas incidências. Penso que alguém do mencionado organismo deveria elaborar um levantamento das companhas e pescadores por freguesia no concelho (o que implicaria uma visita a todas as juntas de freguesia para obter tais dados), e tentar ouvir as reclamações de alguns destes pescadores (aqui seria necessária uma recolha de depoimentos nos bairros piscatórios). O Conselho Consultivo poderia assim demonstrar, de forma esclarecedora e categórica, a sua utilidade à comunidade local. Fazer o trabalho que outros não fazem porque nem sempre estão cá ou têm outros horizontes na vida política/profissional. É verdade que estes conselheiros não são remunerados e quando muito têm uma reunião mensal com o edil, mas se imprimirem um contributo mais activo, poderão disfarçar o estado semi-vacante em que, por vezes, se acha a autarquia, sobretudo nestes últimos tempos (2019 será mesmo assim porque as eleições europeias e legislativas estão mesmo aí). Podem ajudar, como disséramos, a agilizar a promoção de resoluções que se exigem no momento. E aí todos podem ficar a ganhar.
Também é do maior interesse a entrada em funcionamento do Conselho Municipal da Juventude que terá responsabilidades similares, embora mais centrada nas questões que afectam as gerações mais novas. Aqui as temáticas da criação de novos parques infantis ou espaços desportivos para a população poderiam ser discutidas.
Os conselheiros têm de ser os flautistas "bondosos" de Ovar (em contraste com a personagem macabra de Hamelin) e das suas freguesias, cativando através da sua "música" os autarcas para a realidade local e acordando-os da sua jornada sonâmbula em direcção aos recantos idílicos mas traiçoeiros onde a Divindade da Política Nacional os espera de forma a obrigá-los a perder mais tempo nos combates em sua honra. Todas as suas energias cairão metaforicamente no Sorvedouro da Ninfa Guardiã, e os magos não se enganam quanto aos seus auspícios - dessas energias todas, apenas uma minoria será ressuscitada e recompensada pelo destino com novos patamares de ascensão, todas as outras foram investidas em vão e cairão no vazio universal. Por outras palavras, há políticos (minoria) destinados à glória e ao êxito numa escola mais global, mas outros (maioria) que se iludem em sonhos que nunca serão concretizados, embora tentem a sua sorte e persistam nesse sentido. Não sabemos em qual destes dois grupos se acharão as pessoas que nos representam, só o futuro o dirá. E não vale a pena entrarmos em esforços de adivinhação porque a política é um labirinto autêntico, e quem sonha com o topo, sabe que o caminho é longo, penoso e difícil.
Se a melodia dos nossos conselheiros for interessante (leia-se recolha de testemunhos, recomendações e sugestões), talvez os ouvidos dos representantes locais cedam à consciência de que é necessária a sua presença recorrente na sede do concelho, e se tomem assim decisões imediatas que favoreçam a resoluções de grandes questões tais como o declínio actual da Arte Xávega, o problema de infiltrações no Palacete dos Castanheiros, o estado degradante e duvidoso das estações de Esmoriz e Ovar, o caso da necessidade de requalificação da Escola Secundaria de Esmoriz, a lamentável insegurança em torno dos postes de electricidade no Furadouro (em risco de queda iminente), etc.
Entre 2013 e 2017, a gestão camarária em relação a Esmoriz foi indubitavelmente positiva com a requalificação da praça dos Combatentes do Ultramar, a Semi-Reabilitação Ambiental da Barrinha de Esmoriz, a conclusão da ligação por ecopista da mancha florestal entre Esmoriz e Furadouro (iniciada no mandato anterior de Manuel Oliveira) e a intervenção em alguns arruamentos. Mas em 2018 e 2019, anos que coincidem curiosamente com os sacrifícios exigidos pela Ninfa Guardiã do Sorvedouro das Energias Políticas, assistimos a um afrouxamento claro e inequívoco do investimento em Esmoriz. A reabilitação do Esmoriztur é a única grande obra estrutural em curso, além da intervenção cirúrgica em mais algumas ruas. Mas ainda há muito por fazer em Esmoriz, como já mencionamos em cima através de alguns exemplos. Não queremos que o mandato entre 2017 e 2021 se paute por um investimento limitado e sem grandes obras estruturais (além do Esmoriztur) porque Esmoriz não é uma aldeia ou uma vila, é uma cidade em crescimento e terá de ser tratada como tal. Já nos custa bastante sermos uma espécie de segunda escolha face a Ovar, agora não nos obriguem a ser uma terceira escolha só por causa das eleições europeias e legislativas. Lisboa ou Bruxelas não podem ser prioridades máximas dos nossos protagonistas concelhios em detrimento de Esmoriz.
E isto não é uma crítica destrutiva, daí o nosso apelo aos flautistas, sendo que, nestes também se poderão integrar todas as vozes da cidade de Esmoriz (independentemente dos seus cargos actuais ou vocações partidárias) e das restantes localidades do concelho.




Imagem nº 1 - Depois de ter conseguido ludibriar os ratos que assolavam a cidade de Hamelin, o flautista convenceu as crianças a seguirem-no, tendo depois encarcerado as mesmas numa caverna. Uma das fábulas mais antigas e épicas do mundo ocidental.

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