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sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Não se percebe...

O assunto da Arte Xávega é demasiado relevante, mais importante do que pugnas partidárias de âmbito interno e externo, para que o deixem morrer sem convocar reuniões de emergência e tomar as respectivas medidas de apoio. Nos últimos 15 anos, a Arte Xávega perdeu aqui muito dos seus barcos e dos seus pescadores praticantes. O número de companhas diminuiu. É uma realidade facilmente observável. Na Praia de Esmoriz, denotámos esse declínio, embora a tradição ainda resista aqui de uma forma heróica através do esforço incondicional de uma dúzia de lobos do mar. 
Será que a autarquia e as juntas locais procuraram aperceber-se das razões de queixa dos pescadores? O que foi feito desde então para proteger esta tradição nos panoramas local e nacional? O que anda a correr mal? Que apoios ou privilégios podem ser atribuídos para atenuar as adversidades que a comunidade piscatória enfrenta? Já foi efectuado algum procedimento para levar este assunto ao Parlamento?
Não creio que exista aqui falta de peixe, pelo que me parece que é um caso de fundos de apoio. 
Como é lógico, é sempre bonito erigirmos monumentos, símbolos e exposições sobre a nossa Arte Xávega, de forma a aludir à sua história e aos portadores da sua glória passada. Esta arte piscatória também cabe bem em qualquer discurso devidamente articulado, mas ninguém ousa questionar o seguinte - "Existe ou não uma crise actual da Arte Xávega no nosso concelho?".
Estranha-me muito sinceramente o silêncio municipal acerca da saída recente d'O Jovem, a última embarcação da Praia do Furadouro a operar de acordo com aquela vocação piscatória (e que decidiu rumar para São Jacinto), e mais ainda, a passividade de grande parte da oposição local. 
Não se passa nada. 
Talvez falar do Carnaval e dos seus preparativos seja mesmo mais importante do que abordar o estado actual da Arte Xávega. É pena, não deveria ser assim. O que está em causa é toda uma tradição secular que sustentou a vida de muitas famílias e até da própria comunidade. Se dessem os mesmos apoios anuais às Companhas (similares àqueles grupos que participam naquela festividade, e atenção nada contra isso porque temos de respeitar minimamente o impacto e a história dessa tradição festiva), talvez as coisas até se reequilibrariam...
Agora não se percebe como aumentam orçamentos para tradições festivas, e deixam a Arte Xávega a viver de esmolas.
Mas este rumo pode ser alterado, basta que os actuais autarcas e presidentes da Junta locais se sentem todos à mesa e se comprometam a fazer um levantamento do número de praticantes desta arte (por freguesia no concelho) e das queixas/dificuldades que estes têm a transmitir. Um verdadeiro trabalho de proximidade poderia ajudar a conhecer e até resolver alguns dos problemas que a Arte Xávega hoje enfrenta no concelho.


Imagem relacionada

Imagem nº 1 - A Arte Xávega vive dias difíceis no concelho de Ovar. 
Foto meramente exemplificativa retirada algures da Internet

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