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quinta-feira, 25 de abril de 2019

45 anos de 25 de Abril (Opinião)

Pela liberdade, valeu a pena certamente. A possibilidade de cada um poder reflectir e exprimir as suas opiniões é, sem dúvida, o principal legado desta revolução que acabou com um sistema ditatorial que perdurou por algumas décadas. É claro que, por vezes, são cometidos excessos ou atropelos na liberdade de expressão que acabam por enveredar pelos caminhos da calúnia ou difamação, e isso não é correcto. No entanto, mais vale, liberdade a mais (mesmo que se confunda com o "pecado da libertinagem") do que a sua total ausência. Todos temos direito a pensar por nós próprios, ter uma identidade única e que não seja ditada a todo o custo por terceiros que apenas defendem os seus interesses. 
Também é verdade que, por outro lado, se colocou fim à terrível guerra colonial em África, e o nosso país acompanhou posteriormente a evolução moderna dos novos tempos. Por exemplo, o analfabetismo quase desapareceu.
Todavia, nem tudo foi/é um mar de rosas. E no plano económico, as reticências são imensas. Não se pode dizer que a democracia portuguesa é uma das melhores do mundo. Três bancarrotas em 45 anos são prova disso. Até mesmo nos dias de hoje, ninguém pode negar que a austeridade sufocante tornou-se numa realidade indubitável (aliás, é uma conjuntura visível ao longo desta última década), as injustiças sociais aumentaram, a classe média foi quase engolida pela crise, os pobres ficaram mais pobres, e só os poderosos conseguiram manter o seu estatuto. E isso afastou uma boa parte do povo da democracia, muitos deixaram inclusivamente de votar. Porquê? Porque se fartaram do rumo dos acontecimentos. 
Hoje iremos ouvir certamente discursos floreados de muitos protagonistas políticos, munidos dos seus cravos nos respectivos trajes cerimoniais, contudo ano após anos tais mensagens revelam ser ocas, isto é, na prática, uma considerável parte dos portugueses continua a viver com grandes dificuldades. Na verdade, os portugueses têm de suportar todo o tipo de impostos (o IVA atingiu máximos históricos, o IRS também aumentou, o IMI dobrou o seu valor, os preços dos transportes públicos também seriam inflacionados, introduziram-se portagens sem grande enquadramento legal, centenas de milhares de portugueses emigraram, fecharam-se hospitais, freguesias e escolas, a conta da electricidade é das mais altas da Europa, tudo isto aconteceu nos últimos dez anos para desgraça das famílias portuguesas).
Todos apertaram o cinto, e de que maneira, mas da classe política não vimos grandes sacrifícios ou perdas de mordomias. Até as suas subvenções vitalícias acabaram por ser repostas com retroactivos, o que indignou muitos cidadãos.
O 25 de Abril é, sem dúvida, uma data bonita que continua a dar-nos a esperança de um futuro melhor. Mas Portugal para se transformar numa democracia de topo terá de zelar pela transparência ao mais alto nível, e pela distribuição equilibrada da riqueza. As influências nefastas têm de acabar nos círculos do poder, e devem escolher-se as pessoas com base nos seus méritos e capacidades de representar os interesses públicos.
Meus senhores, há muito para fazer. 
As palavras são sempre bem-vindas neste dia, mas quando repetidas excessivamente, sem efeitos práticos, tendem a cair na sua vulgarização.
O 25 de Abril deverá motivá-los a fazer mais em prol do povo que já sofreu muito na pele desde 2011. 
Já agora, um bom feriado para todos os nossos leitores!
E viva a liberdade, e bem-haja aos corajosos que há 45 anos atrás, deixaram o conforto dos seus lares/aposentos para idealizar a construção de uma sociedade mais justa. 



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