As Taxas sobre o Multibanco, "um tratado da falta de bom senso" (opinião)

Li há dias que eminentes banqueiros do nosso país defenderam a necessidade de se criar uma taxa sobre o uso do Multibanco. E houve um deles que chegou mesmo a sugerir pagamentos anuais de cerca de 20 euros nesse sentido.

Claro que esta ideia só poderia sair de um fórum que reuniu os grandes representantes das entidades bancárias portuguesas. No entanto, o recado foi deixado à classe política, por muito que a agitação à posteriori nas redes sociais tivesse sido evidente.

A ideia de cobrar uma taxa de multibanco seria aceitável em Portugal se não estivéssemos já a pagar taxas de manutenção, ou se até o dinheiro do Estado (isto é, de todos nós) não tivesse sido canalizado para salvar alguns bancos privados que tão bem conhecemos só porque foram alvo de gestões ruinosas. Aliás, também cheguei a folhear no passado alguns jornais e revistas que expuseram a conclusão de que cada português já "pagou" (indirectamente) entre 1300 e 1600 euros no âmbito das intervenções de resgate bancário efectuadas pelo Estado.

Em Portugal, sempre vigorou aquele lema "de sermos fortes com os fracos, e fracos com os fortes". Não me admira que haja um Berardo que chegue ao ponto de esboçar um riso mordaz na Comissão Parlamentar de Inquérito, e outros que, recorrendo a estratagemas subtis, conseguem escapar ao pagamento das suas avultadas dívidas bancárias. E isto em Portugal, é frequente no que toca aos poderosos, quando estamos a falar em milhões. Até há perdões bancários a clubes de futebol. Mas se o Zé da Esquina dever mil euros ao banco e não conseguir pagar, fica logo sem a sua casa (vai logo viver para a rua como um sem-abrigo), e é esta a triste realidade que temos. As elites ainda demonstram arrogância para com o povo miúdo, mas são tão sensíveis e misericordiosas com os donos disto tudo.
E agora querem cobrar ao povo uma taxa sobre o uso do multibanco?! Aqui em Esmoriz, existem caixas de multibanco que, muitas vezes, não têm dinheiro ou não dispõem das funcionalidades todas. E no restante país, o mesmo se sucede.
Sejamos ponderados! Depois de todos os sacrifícios dos portugueses nos últimos anos, este é o pior timing para arranjar forma de obrigar os portugueses a pagar mais à banca. Deviam estar gratos aos esforços de todos nós contribuintes que ajudámos a salvar bancos e muitos empregos. E não era da nossa lavra ir em socorro de gestões privadas.

Direitos da Foto Meramente Exemplificativa - Andreia Patriarca (Jornal O Público)