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sábado, 4 de maio de 2019

Descongelamento das carreiras dos professores e o desvario total da classe política (opinião)

Mário Nogueira, responsável máximo do sindicato da FENPROF, estará perto de conseguir aquilo que muitos julgavam impensável até há poucos meses atrás: o descongelamento total das carreiras dos professores. Esta exigência implica naturalmente uma elevada despesa (nem sequer estamos a falar de "investimento" porque o retorno económico é zero). O Ministério das Finanças, liderado pelo ministro Mário Centeno, prevê uma despesa orçamental de 635 milhões de euros todos os anos, aos quais se somarão ainda outros custos. Os valores podem chegar até aos 800 milhões anuais.
Caso o decreto seja aprovado, cerca de 20.000 professores passam para o último escalão, auferindo a partir de agora cerca de 3.364,63 euros mensais. 
O Governo socialista ameaça demitir-se porque não quer comprometer o equilíbrio das contas públicas. No entanto, estão sozinhos e não têm força suficiente para travar a proposta na Assembleia da República. Nem os parceiros da geringonça, leia-se CDU e BE, compreendem o que está em causa. Continuam sempre sensíveis às causas dos sindicatos (e daí os seus dirigentes terem integrado as manifestações sindicalistas do dia 1 de Maio) e esquecem-se, várias vezes, que não estamos numa Alemanha ou Inglaterra, onde o contexto económico permite valorizar e premiar, de forma diferente, os altos profissionais da Função Pública. Por seu turno, PSD e CDS-PP, uma vez mais de mãos dadas, acreditam que o impacto orçamental é mínimo e apoiam (como os tempos mudam!) esta causa sindical. Mas esta é mais uma decisão populista e eleitoralista. Estivessem no poder, e teria muitas dúvidas se deixariam passar este decreto. 
De facto, meus senhores, esta não é a altura de se descongelarem as carreiras dos professores, e não será apenas pelo motivo de isso implicar mais um sacrifício adicional aos portugueses, mas porque atrás daqueles profissionais (que me merecem o maior respeito porque nos transmitiram educação e todo o tipo de sabedoria), virão outros da função pública exigir o mesmo tratamento. Os enfermeiros foram os primeiros a demonstrar que querem ser contemplados com uma medida similar.  Associações ligadas ao exército e às autoridades policiais estão também atentas ao dossier e ponderam agir, não aceitando ser colocadas de parte. 
Ou seja, os 800 milhões poderão afinal ainda não ser a avalanche propriamente dita, mas antes os primeiros blocos de neve a dispersar e a rebolar pela encosta. E claro, a avalanche vai cair em cima dos portugueses e, em particular, do sector privado. Há comentadores que já abordam a possibilidade de um novo aumento do IVA (cuja taxa já é bastante elevada) ou de outros impostos. É isto que queremos? Neste processo, não estaremos a gerar riqueza social (pelo contrário!), apenas a tirar de um lado para colocar noutro. 
A Função Pública em Portugal tem talvez os melhores sindicatos da Europa, e até já ganham um salário mínimo (635 euros, mais uma carga laboral semanal de 35 horas) superior aos dos privados. Estes últimos não são levados muito a sério, parecem carne para canhão. Poucos são os sindicatos que os defendem. E ninguém fala desta realidade nas televisões nacionais!
Em Portugal, é tão fácil fazer política de populismo e não medir as consequências de precedentes que poderão ser graves factores de risco para a estabilidade económica nacional. Talvez, não tenha sido por acaso que já tivéssemos ido a três bancarrotas nos últimos 40 anos. Sim, houve muita corrupção, mas também assistimos claramente a inúmeros casos catalogados de gestões danosas e irresponsáveis.
Será que "queremos" o regresso da Troika?
Eu não quero, mas há quem ainda não tenha aprendido as lições do passado. Temos certamente bons professores no nosso país, mas maus alunos na classe política. 



Imagem relacionada

Imagem nº 1 - Os professores merecem ter mais direitos certamente, mas o descongelamento das carreiras é uma utopia para a realidade económica nacional.

Um comentário:

  1. Olá
    Dividam os 600 milhões que cuatariam as reivindicações dos professores, pelo número de professores e tirem as vossas próprias conclusões....
    Cumprs
    Augusto

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