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sábado, 20 de julho de 2019

Entrevistas com Memória IX


Filipe Cayolla tem 53 anos e reside em Esmoriz. No âmbito profissional, é gestor (na sua empresa que executa interiores de hotéis) mas já também desempenhou funções noutras áreas distintas. 
Todavia, é mais concretamente no campo político que o seu nome tem sido veiculado. Filipe é hoje uma das figuras mais proeminentes do PAN (Pessoas-Animais-Natureza), sendo actualmente porta-voz da Comissão Política Distrital de Aveiro.
Em 2017, foi candidato à Câmara Municipal de Matosinhos. Não conseguiu ser eleito para a vereação, mas o partido obteve votação suficiente para eleger um deputado na Assembleia Municipal. 
Filipe Cayolla é o nosso convidado do mês de Julho.



1. Filipe, como nasceu a sua admiração pelo projecto do PAN? Quando decidiu aderir a esta causa?

R: Descobri o PAN (antes de este ser formalizado como partido) em Janeiro de 2011, através do seu site (cujo link, a minha Mãe me enviou, dizendo ser a minha cara), desconhecendo totalmente os seus membros. 
Descontente com o panorama politico nacional e após ter lido o Manifesto, achei muito interessante a nova abordagem política e por isso preenchi o formulário de adesão. 
Mais tarde, assim que o partido foi aprovado pelo Tribunal Constitucional, fui convidado para uma apresentação formal, altura em que me filiei (no intuito de apoiar o partido, nunca imaginando que poderia vir a participar nos seus órgãos). 
Quando foi definida a data das legislativas, o PAN concorreu em todos os círculos eleitorais, tendo sido convidado para a encabeçar a lista. 
Não havendo ainda um programa político, quis saber mais, por isso convidaram-me a participar no 1º Congresso como delegado. Quando cheguei li o esboço do programa (que iria ser aprovado) identifiquei-me totalmente. Nesse mesmo congresso fui eleito comissário político nacional e entretanto fui sendo convidado para assumir diversas funções no partido.




2. Considera que o PAN poderá ser uma mais-valia no hemiciclo parlamentar? Em que sentido?

R: O PAN é e foi uma lufada de ar fresco no panorama politico português!
Nunca tendo havido figuras ilustres e mediáticas no seu seio, mas tão somente pessoas comuns que querem tornar o mundo melhor, altruístas que estão na política pelas causas e não para fazer carreira. Pessoas que percebem que só é possível a sobrevivência da humanidade na terra se a defendermos como um todo. 
As Pessoas são Animais, Animais são Natureza e sem salvaguardarmos as Pessoas, os outros Animais e a Natureza não teremos lugar neste planeta! 
No PAN queremos mudar o mundo dentro das regras existentes, somos adeptos do diálogo e da transparência. Discutimos ideias (e não pessoas), procurando soluções abrangentes (se possível consensos) de forma positiva e não demagógica.
Mesmo antes de elegermos (deputados, para as assembleias de freguesia, concelhias, regionais e ou da república) já participávamos e ajudávamos na mudança (dentro da esfera política e associativista, com programas e ideias).
Não somos de direita ou de esquerda e queremos mudar o paradigma vigente.
Não estamos alinhados com qualquer outro partido, somos totalmente independentes e dizemos o que realmente achamos (a verdade é que a extrema esquerda nos diz de extrema direita e vice versa).
O PAN, com um só deputado no parlamento, desenvolveu mais trabalho, apresentou e fez aprovar tantas propostas como alguns grandes grupos parlamentares, também o tem feito nas autárquicas (sejam elas de qualquer cor) e junto da sociedade civil.




3. O PAN é dos partidos que mais cresce entre os jovens, segundo uma sondagem recente. Onde está a chave deste sucesso?

R: Creio que está na sensibilidade dos jovens para as causas que defendemos, seja a humanitária, animal ou ambiental. Creio que a nossa postura e um certo cariz “irreverente” também tem ajudado. Pois, mais do que as gerações mais velhas, serão eles quem mais terão a perder pela inércia, más decisões e pelas prioridades trocadas dos sucessivos governos. 
Eles têm consciência que não adianta promover o desenvolvimento económico e resultados a curto prazo, quando vêem diminuir a igualdade de oportunidade, reconhecem existir maiores amplitudes sócio-económicas, perda de biodiversidade e graves impactos ambientais, que colocam o seu futuro em risco.
Contudo julgo que o sucesso não é só entre os mais jovens mas em todos os grupos etários, pois há muita gente que já não se revê nos tradicionais partidos e vota PAN.




4. Acredita que falta verdadeiramente uma política ambiental em Portugal? E em que estado estará aqui o zelo pelos direitos dos animais?

R: Falta uma verdadeira política ambiental em Portugal, na Europa e no Mundo!
Já para não falar da comunidade científica que não tem dúvida em relação às alterações climáticas, vejam-se as recentes declarações de, figuras e líderes com impacto mundial e nacional, como António Guterres, Príncipe Carlos de Inglterra, Leonardo di Caprio, Harrison Ford, Marcelo Rebelo de Sousa, entre outros.
Em nome do desenvolvimento estamos a hipotecar o futuro de todos. Continuamos a aumentar a emissão de gases com efeito de estufa, a poluir o ar, o mar, os rios, a terra, e as reservas freáticas, a extinguir espécies e a fomentar desigualdades e injustiças.
A política ambiental não passa exclusivamente pela redução da poluição, mas por muito mais, incluindo as questões animais e humanitárias.
Está claro que os mais afectados serão os países e as populações mais pobres, por outro lado, a ONU apresenta-nos números que afirmam que a pecuária intensiva é de longe a indústria com maior impacto nos gases com efeito de estufa (quase o dobro de todos os transportes juntos, incluindo navios, aviões e todos os tipos de meios terrestres). Por isso, mesmo sem falarmos nas questões éticas e na saúde humana, é fundamental diminuir e controlar a pecuária de forma rigorosa.
A ONU (e muitas outras organizações credíveis mundiais) também reconhece que se  diminuíssemos drasticamente o nosso consumo de carne só traríamos impactos positivos na saúde humana (já para não falar que é nesta industria onde se utiliza a maior parte dos antibióticos produzidos pelas farmacêuticas e o que mais contribui para a criação de resistência por parte das bactérias)
Para além disso, o nosso zelo pelos animais aumenta quando tomamos consciência que eles, como nós, são sensientes (sentem dor, prazer ou ansiedade). Quem de nós não reconhece isso nos animais que têm em casa!?
Será que o consumidor comum tem consciência que, nos nossos dias, a cada 4 dias em todo o planeta, matamos mais animais para nosso consumo, que todos os humanos mortos em guerras desde o início da humanidade?




5. Que medidas importantes o PAN já conseguiu fazer discutir e aprovar no Parlamento através da representação do deputado André Silva?

R:  Julgo que foram as seguintes:


  • Intérpretes de língua gestual nas urgências
  • Fim do abate de animais de companhia
  • Opção vegetariana nas cantinas públicas
  • Possibilidade de adopção por casais do mesmo sexo
  • Alteração do estatuto jurídico do animal
  • Distribuição de fruta no pré-escolar público
  • Nutricionistas e psicólogos no SNS
  • Mais salas de apoio à vítima em esquadras de polícia
  • Tara recuperável para garrafas de plástico
  • Fim do uso de animais selvagens no circo
  • Lei das beatas
  • Lei da regularização das propinas
  • E outras medidas negociadas e incluídas no programa do governo.




6. A nível europeu, o PAN conseguiu uma boa votação e elegeu um eurodeputado. O que pensa das capacidades de Francisco Guerreiro? Acredita que ele poderá realizar um bom trabalho? 

R: Sim, sem dúvida, estávamos a contar elegê-lo mas não sabíamos que seria com tanta facilidade (foi o 16º dos 21 eleitos).
Conheço o Francisco Guerreio desde que assumiu funções como comissário político do PAN, em 2013, é uma pessoa inteligente, serena e humilde, tem o perfil de um moderador que consegue encontrar consensos.
Desde antes das anteriores europeias (onde foi o segundo na lista do PAN) que está por dentro de muitos assuntos europeus, do trabalho e do funcionamento do parlamento europeu e tem-se vindo a preparar ainda mais para o trabalho que está e irá desenvolver.
Acredito que o Francisco Guerreiro será no parlamento europeu aquilo que o André Silva é na Assembleia da República, um deputado excelente que trabalha e lidera uma equipa de profissionais e voluntários, que fazem mais do que grandes grupos parlamentares.




7. Pensa que o PAN poderá aprender bastante com esta experiência europeia onde terá a oportunidade de dialogar com representantes de partidos verdes e ambientalistas de outros países?

R: Sem dúvida que sim, mais do que isso, o Francisco já foi eleito vice presidente na comissão da agricultura e integra as delegações do Japão e da Coreia do Sul, a primeira como membro efectivo e segunda como suplente (o que mostra como estamos bem posicionados no grupo dos verdes europeus), pelo que terá de dialogar com representantes de todos os partidos e de todos os países europeus e mesmo com os ministros que assumem esse pelouro e outros elementos dos diversos governos.




8. A nível local, e como vive em Esmoriz, diga-nos como vê a cidade. Considera-a mais evoluída ou ainda há muito para fazer?

R: Adoro viver em Esmoriz (com a Barrinha a Norte, a Praia a Poente e o Pinhal a Sul), tenho o privilégio de ter o conforto urbano e estar próximo da natureza, mas há muito por fazer e a diversos níveis:

  • Transportes públicos
  • Apoio social aos mais desfavorecidos 
  • Dinamização do comércio local e promoção da cidade como destino turístico sustentável (tirando partido da sua privilegiada localização no que a surf, kite, paddle, windsurf, observação de aves, praia, provas de orientação, etc, etc).
  • Limpeza urbana e das praias 
  • Construção de rampas e acessos para deficientes 
  • Organização do estacionamento automóvel
  • Apoio às associações de animais e aos cuidadores 
  • Urbanização, vias de comunicação e áreas industriais 
  • Erosão costeira 
  • Manutenção das vias pedonais e zonas ajardinadas.




9. E a Barrinha de Esmoriz? Como homem atento ao ambiente, qual é a avaliação que efectua em torno deste sítio ambiental que integra a Rede Natura 2000?

R: As obras e a abertura dos passadiços na Barrinha, têm prós e contras, mas julgo que o saldo é positivo, senão vejamos:


Contras:

  • Estas obras foram mais uma operação estética que do que uma operação profunda (que acabe com a afluência de poluentes).
  • Intrusão humana num espaço que estava “selvagem”, com as suas consequências para as espécies locais e migrantes que aí vivem ou que por aí passam. Infelizmente pouco se sabe (ou sei) das consequências desta invasão, pois não creio que tenham havido sérios estudos de impacto ambiental que consigam avaliar com exatidão o impacto nas espécies.
  • As dragagens e expelição para o mar de lamas tóxicas (que a comunidade científica normalmente prefere não mexer e deixar o tempo assimilar, em vez de poluir e ir afectar no imediato o mar e o próprio local).

A Favor:

  • Remoção de lixo.
  • Permissão de acesso às pessoas, fomentando o usufruto dos espaços naturais, hábitos desportivos, a observação de aves e a criação de ligações pedestres e de bicicleta entre Paramos e Ovar.
  • Informação sobre área e regras de conduta.
  • Limpeza (apesar de muito parcial) de plantas invasoras, plantação (ainda que aparentemente fora de tempo e com densidade discutível) de outras espécies.
  • Construção do passadiço só no perímetro, distanciando a passagem humana e maximizando as áreas de habitat selvagem na zona central.
  • Ao permitir-se o acesso a zonas anteriormente interditas à maioria da população, deixa-se de esconder as muitas descargas poluidoras existentes que vão desaguar à Barrinha.
  • Alerta-se para a necessidade de defender o ambiente e sensibiliza-se a população para as necessidade de manutenção dos animais selvagens.


Mas é necessário:

  • Garantir que todas as indústrias (suiniculturas, cromagens, papel, etc) que usam os ribeiros que desaguam na Barrinha tenham as suas águas convenientemente tratadas e que não haja descargas poluidoras.
  • Garantir que as industrias de Esmoriz deixem totalmente de descarregar na Barrinha águas não tratadas.
  • Acabar com a poluição doméstica que descarrega diretamente os seus esgotos na Barrinha ou afluentes sem qualquer tipo de tratamento.
  • Controlar os químicos, pesticidas, herbicidas e outros, que provêm da agricultura e da industria, e que são descarregados na Barrinha e nos seus afluentes.
  • Impedir ou limitar o acesso, quer por terra quer por água, a zonas de maior fragilidade e ou de nidificação.
  • Melhor e mais cuidada manutenção dos passadiços e da sua envolvente (pois há tábuas partidas, lixo lançado, dejectos caninos, zonas em que as invasoras estão a proliferar e ´é necessário remover e replantar árvores que não vingaram, etc).
  • Replantar espécies autóctones e controlar as invasoras. 
  • Maior sensibilização para a defesa ambiental e animal (promovendo-se sessões de esclarecimento sobre a Barrinha e as espécies que lá vivem, à população em geral e a alguns grupos em particular). 
  • Levar o tema às escolas da cidade. 
  • Fiscalização e responsabilização dos responsáveis por poluição e danos causados no meio ambiente e nos bens públicos.




10. Por fim, e relativamente ao tema do aquecimento global, considera que os líderes mundiais têm levado o tema a sério? Caminhamos para uma hecatombe? Ou ainda vamos a tempo de mudar o rumo? 

R: Acho que não têm levado muito a sério e só agora alguns o estão a levar.
Temos, por um lado, as posições e declarações recentes de António Guterres (que foi capa da Time) e de Marcelo Rebelo de Sousa, que demonstraram uma preocupação aguda perante a inércia actual, mas no espectro contrário há outros, como Donald Trump e Jair Bolsonaro, que o negam e tomam decisões absurdas que nos distancia do rumo necessário para a mitigação dos problemas que enfrentamos a nível mundial.
A ciência é quase unânime e diz que a actividade humana tem grande influência nas alterações climáticas, sendo que um aumento de poucos graus na terra extinguirá espécies, fará subir os níveis do mar e trará grandes e dramáticas mudanças climáticas.
Ninguém sabe ao certo se vamos ou não a tempo, mas há que colocar mãos-à-obra e tentar, pois já é bem visível o degelo dos glaciares e dos polos.
Se todos fizermos um pouco e conseguirmos mudar os nossos hábitos, mesmo que não se consiga reverter a situação na totalidade, poderemos minorar os efeitos.
Sou um optimista e espero que ainda se vá a tempo, dentro da informação a que vou tendo acesso, procuro fazer a minha parte, ser coerente com o que defendo e divulgando a mensagem (por isso estou no PAN!).


Agradecemos, desde já, pelo facto de ter disponibilizado tempo para responder à nossa entrevista.




Imagem nº 1 - Filipe Cayolla, Porta-voz da Comissão Política Distrital do PAN Aveiro, foi o convidado do nosso blogue para a entrevista mensal referente a Julho.





Imagem nº 2 - Filipe Cayolla realça a identidade original e o valor das causas seguidas pelo partido.






Imagem nº 3 - Filipe Cayolla e alguns membros do PAN juntamente com o deputado André Silva.

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