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quarta-feira, 22 de abril de 2020

Em diálogo com Jaime Almeida


À conversa com um convidado especial
5 Perguntas de Rotina, 5 Respostas de Quarentena
Entrevista Publicada Originalmente na Página da Comissão de Melhoramentos de Esmoriz

Hoje é dia de falarmos com Jaime Almeida, Presidente da Junta de Freguesia de Válega. Um homem que já vai no terceiro mandato à frente desta freguesia e cujo empenho em prol da mesma tem justificado diversos elogios da sua comunidade. Vamos tentar saber o que ele nos tem para dizer neste momento conturbado vivido pela sociedade portuguesa.


1 – Olá Sr. Jaime Almeida. Que impacto sentiu quando foi decretado o Estado de Quarentena em Ovar? Acha que foi uma medida justa? Ou o Estado de Emergência Nacional só por si bastaria? 📌

R: O impacto foi, inegavelmente, enorme, quer a nível social, quer a nível económico. De facto, a Covid-19 trouxe muitos transtornos e incertezas à vida das pessoas que se repercutirão, de sobremaneira, no futuro. O “cordão sanitário” terá sido encarado por algumas pessoas, eventualmente, como uma medida algo impopular, no entanto, foi de extrema necessidade do ponto de vista da saúde pública. Importa referir que foi a Autoridade de Saúde do Centro quem fez a avaliação do risco sanitário, chegando à conclusão de que havia uma contaminação comunitária ativa em Ovar. Ovar era, e é, um dos epicentros da Covid-19 que se iniciou como surto epidémico. Tratou-se, sem sombra de dúvidas, de uma medida de carácter excecional em circunstâncias muito excecionais. Se nada fosse feito e de forma diferenciada em relação ao resto do país, provavelmente, o número de infetados seria, neste momento, muito maior, não só em Ovar, bem como nos concelhos limítrofes. No presente, o número de infetados em Ovar, comparativamente, por exemplo, aos distritos de Lisboa, Porto ou Maia é bastante significativo. Temos quase metade do número de casos infetados em relação a esses concelhos, que têm um contingente populacional bem mais elevado. A propagação da Covid-19 deverá continuar a preocuparmo-nos a todos, sem exceção. Estamos longe de vencer este inimigo sem rosto e imprevisível. O fim do “cerco sanitário” em Ovar não significa que já está tudo bem, pelo contrário. É importante, que a população do Concelho de Ovar, incluindo a de Válega, continue a agir de forma responsável, tendo em conta todas as indicações da DGS e do Ministério da Administração Interna.



2 – Em Válega, existem, neste momento, 96 casos, número que corresponde a 15% das infecções existentes no concelho. Esta estatística preocupa-o? 📌

R: Claro que me preocupa imenso. De facto temos assistido ao aumento do número de infetados confirmados na Vila de Válega, sendo que há famílias inteiras que vivem na mesma casa que estão contaminadas. Tal facto explica-se pelo recrudescimento da realização de testes. Preocupa-me, logicamente, toda a população da Vila de Válega, no entanto, não posso deixar de referir com especial destaque, a população mais idosa, eu próprio já tenho 76 anos, daí a Junta de Freguesia de Válega ter criado o programa “Nós Levamos até si”, estando disponível para apoiar, logisticamente, idosos, (entre os quais, incluem-se os infetados com Covid-19), doentes crónicos ou pessoas sob quarentena obrigatória ou profilática, sem retaguarda familiar ou rede de vizinhança, que necessitem de adquirir bens de primeira necessidade e/ou medicamentos e pagarem faturas.



3 – Que procedimentos foram adoptados recentemente por parte da Junta de Freguesia de Válega de forma a atenuar a propagação do COVID-19? 📌

R: No sentido de reforçar as medidas de prevenção e contenção do Coronavírus (COVID -19), impostas pela Direção-Geral da Saúde, a Junta de Freguesia de Válega cancelou, logo no dia 12 de março, a sessão de outorga dos “Protocolos de colaboração na área social, cultural, educativa, desportiva e recreativa de 2020”. Implementámos, desde a primeira hora, um Plano de Contingência que foi sendo adaptado e continuará a sê-lo com o evoluir da situação pandémica. Entre outras, destacam-se as seguintes medidas e/ou ações:

- Suspensão de todas as atividades sociais, culturais e/ou recreativos programadas pela Junta de Freguesia para o Auditório da Freguesia de Válega;
- Encerramento do Pavilhão Gimnodesportivo de Válega;
- Encerramento do Cemitério de Válega, mantendo-se, apenas os serviços mínimos (em caso de funeral);
- Encerramento de todas as casas de banho públicas na Freguesia de Válega;
- Encerramento dos Serviços de Atendimento da Junta de Freguesia ao público, não havendo lugar a contactos presenciais, mantendo-se, apenas, em funcionamento o contacto à distância, através de meios tecnológicos de informação e comunicação;
- Divulgação na nossa rede social (www.facebook.com/jfvalega) das indicações da DGS;
- Emissão de declarações para circulação de pessoas de acordo com as indicações camarárias.
- Aquisição de uma máquina de lavar e outra de secar roupa, oferecidas à Unidade de Saúde Familiar de Válega, para agilização da lavagem e secagem de fardamentos do pessoal clínico e não clínico;
- Aquisição de resguardo em acrílico, ofertado à Unidade de Saúde Familiar de Válega a ser colocado na Secretaria;
- Aquisição de resguardos em acrílico colocados nos Serviços de Atendimento da Junta de Freguesia de Válega;
- Criação do programa “Nós Levamos até si”;
- Contacto com a Paróquia de Santa Maria de Válega, que disponibilizou a Casa da Giesteira, que dispõe de vários quartos e beliches, para auxiliar o Município de Ovar na luta contra o Coronavírus, naquilo que vier, futuramente, a ser necessário;
- Participação no Gabinete de Crise da Comissão Municipal de Proteção Civil de Ovar;
- Cancelamento de todos os eventos culturais e recreativos públicos previstos para o ano de 2020, cuja organização é da responsabilidade da Junta de Freguesia de Válega, de forma evitar ajuntamentos, na salvaguarda da saúde pública.



4 – O impacto será certamente duro na economia local. O vosso organismo público está a preparar algum plano de apoio ou até mesmo interceder junto de outras entidades para que algo seja feito para proteger a atividade laboral? 📌

R: Sem sombra de dúvidas que o impacto na economia local será nefasto. A nível económico, os setores secundário e terciário têm pouca expressão na freguesia, sobressaindo atividades como a indústria das madeiras, a construção civil e o pequeno comércio. Já com bastante significado, encontramos o setor primário, designadamente a agricultura e a pecuária. Neste momento difícil, temos apoiado alguns agricultores, quer a nível logístico, quer a nível burocrático. Por exemplo, no lugar de Paçô houve produtores de leite que se viram confrontados com a situação do camião do leite não poder passar na ponte de Pintim que está, por questões de segurança, interdita a pesados. Daí termos nos responsabilizado pela abertura do barramento em betão que estava colocado na Rua de Paçô. Ao mesmo tempo, diligenciámos junto da Câmara Municipal de Ovar a emissão de declarações com vista ao escoamento de produtos agropecuários e obtenção de alimentos para o gado bovino. Distribuímos viseiras pelos estabelecimentos comerciais que têm estado em funcionamento na venda de bens de primeira necessidade.
Dentro da nossa esfera de competências e das nossas limitações, estaremos atentos ao evoluir da situação, procurando, ao mesmo tempo, manter uma “pressão dialogante” com outras entidades, no sentido de ajudar na retoma económica na Vila de Válega.
Um dos problemas, decorrentes da propagação da Covid-19 no concelho de Ovar, foi o aumento do número de desempregados e das pessoas que ficaram privados de qualquer fonte de rendimento. Daí estarmos em contacto, e em articulação, com o Centro Comunitário de Esmoriz, a Divisão de Ação Social da Câmara Municipal de Ovar, a Fundação Padre Manuel Pereira Pinho e Irmã, e a Conferência Vicentina da Freguesia de Válega, no sentido de acompanharmos as situações de vulnerabilidade social sinalizadas na Vila de Válega.
Implementámos o “Bazar Solidário de Válega” para angariação de bens alimentares (cereais, azeite, óleo, atum, salsichas, leite, açúcar, grão, feijão, pão, arroz, massa, fruta, produtos hortícolas, carne, peixe, entre outros) e de higiene (geral e feminina), que está a ter uma boa adesão.
Por outro lado, como já referi, anteriormente, cancelámos todos os eventos culturais e recreativos públicos previstos para o ano de 2020, cuja organização seria da responsabilidade seria da Junta de Freguesia de Válega. Para além do objetivo sanitário, há outra finalidade: em compensação, a verba orçamentada para realização das iniciativas, foi canalizada para fazer frente às necessidades de carácter social e humanitário que estão a surgir no contexto da crise pandémica que enfrentamos.



5- É o seu último mandato à frente de Válega. O próximo ano será o seu derradeiro. Quais as melhores recordações e feitos que guarda deste seu período? 📌

R: Entrei pela “porta grande” e quero sair pela “porta grande” como costumo dizer. Tudo farei, para continuar a trabalhar, desinteressadamente, em prol do bem-estar e da melhoria da qualidade de vida das gentes de Válega. Os feitos são atribuídos aos heróis. Eu não me considero um herói. Assim sendo, que seja a História a fazer-me justiça. Em relação às recordações são muitas, porém, destaco as amizades que fiz, de vários quadrantes políticos, no decorrer dos três mandatos, que me deixam marcas por todo o sempre. Uma palavra de apreço a todos os que me acompanham ou acompanharam nos executivos: Raul Teixeira, Augusto Pinho, Ana Costa, Marisa Couto, Vítor Resende, António Afreixo, Liliana Cruz, Artur Pereira e António Almeida.
Quero terminar esta entrevista, agradecendo o empenho e dedicação de todas as entidades, sem exceção, que fazem parte do Gabinete de Crise da Comissão Municipal de Proteção Civil de Ovar. Com a união de todos, vai demorar, mas, no fim, tudo ficará bem!


Agradecemos o tempo que nos concedeu.
Um abraço





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