A investigadora Sónia Cruz, do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM), laboratório associado da Universidade de Aveiro (UA), acaba de conquistar uma bolsa de 2,3 milhões de euros, atribuída pelo Conselho Europeu de Investigação (ERC, nas siglas em inglês). A bolsa permitirá desvendar os mecanismos que possibilitam a incorporação e manutenção em células animais de cloroplastos fotossinteticamente ativos.
Esta capacidade, relativamente restrita na natureza, é intrigante, inclusivamente porque algum material genético essencial ao normal funcionamento dos cloroplastos foi transferido para o núcleo da célula vegetal durante o processo evolutivo da vida na Terra, afirma Sónia Cruz. A investigadora considera ainda que a compreensão dos próprios processos celulares que possibilitam a incorporação destes organelos, provenientes de algas, em células de lesmas marinhas, constituirá um avanço significativo nos domínios da biologia celular e da fisiologia.
O projeto “KleptoSlug”, “Kleptoplasty – The sea slug that got away with stolen chloroplasts”, com a duração de cinco anos, permitirá, através de um estudo comparativo envolvendo diferentes associações animal-alga, identificar os mecanismos moleculares que possibilitam a retenção e manutenção de uma estrutura proveniente de uma célula vegetal, dentro de células animais. Permitirá ainda estabelecer de que modo o cloroplasto, e a fotossíntese em particular, se tornaram essenciais ao metabolismo destes animais, determinando para isso quais os processos fisiológicos no animal dependentes dos produtos da fotossíntese.
As bolsas individuais ERC Starting Grant, atribuídas no âmbito do programa Horizonte 2020, destinam-se a impulsionar o percurso de cientistas em estágios iniciais de carreira, contribuindo, designadamente, para a formação das suas equipas de investigação e para a realização de atividades de investigação de excelência em qualquer domínio. O processo de seleção é extremamente competitivo, com a taxa de sucesso da edição de 2020 a cifrar-se em cerca 13%.
O ERC (European Research Council), instituído pela União Europeia em 2007, é a mais importante organização para financiamento de investigação de excelência e temas de fronteira. O ERC atribui quatro tipos de bolsa: Iniciação, Consolidação, Avançadas e bolsas de Sinergia. Há ainda um quinto tipo, a Prova de Conceito, que apoia a passagem da investigação de ponta financiada com estas bolsas para a entrada no mercado.
Uma das duas bolsas atribuídas a Portugal nas Ciências da Vida
Sónia Cruz é, assim, a mais recente investigadora da UA (CESAM) a juntar-se aos cerca de 9500 investigadores de topo financiados, desde 2007, através das diferentes modalidades de bolsas do ERC. O financiamento de 2.25 milhões de euros é atribuído para um período de 60 meses. A estas bolsas de iniciação corresponde, por norma, um máximo de 1.5 milhões de euros. O financiamento extra, neste caso, foi justificado pela necessidade de adquirir novo equipamento para analises moleculares detalhadas de isótopos naturais estáveis, como o 13C e 15N. A bolsa agora obtida foi uma das duas obtidas por Portugal na área das Ciências da Vida, de entre um total de mais de 900 candidaturas.
“A investigadora Sónia Cruz, o CESAM e a UA estão de parabéns! Sónia, por ter convencido o júri da excelência e inovação da ideia apresentada, enquanto o CESAM e a UA estão de parabéns pelo seu contínuo suporte à investigação e aos seus investigadores”, comenta Artur Silva, Vice-reitor da UA para Investigação, Inovação e Formação de 3º Ciclo.
“A continuação do sucesso da UA neste tipo de bolsas europeias de elevado mérito, que temos vindo a ter nos últimos anos, resulta da qualidade da investigação que vai realizando, da excelência das infraestruturas que existem na UA e do esforço desenvolvido pelo gabinete de apoio à investigação. Este trabalho de suporte aos investigadores da UA irá continuar e, se possível, ainda aumentar”, anuncia o membro da equipa reitoral.
Para além da bolsa de Iniciação agora atribuída a Sónia Cruz, o historial da UA inclui várias bolsas ERC atribuídas a investigadores do CICECO-Instituto de Materiais de Aveiro: duas bolsas (Consolidação e Prova de Conceito) atribuídas já este ano ao investigador e professor João Mano - para além de uma bolsa Avançada anteriormente conquistada pelo investigador -, duas bolsas de Consolidação (Luís Mafra e Nuno João Silva) e ainda mais duas atribuídas à investigadora Mara Freire (Iniciação e Prova de Conceito).
Texto e Foto enviados pelo Departamento de Comunicação da Universidade de Aveiro
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