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sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Necrópole do Chão do Grilo - para quando a sua valorização e reaproveitamento históricos? (Artigo de Opinião)

Já muito falámos aqui da Necrópole do Chão do Grilo, situada algures na mancha florestal que vai desde o lugar da Torre até Gondesende. O melhor ponto de acesso dá-se pela rua da Saibreira. Para os leitores que não estão familiarizados, podemos traçar a seguinte síntese da estrutura: trata-se de um antigo cemitério que, possivelmente, existiu entre os séculos V-VIII d. C., coincidindo em grande parte com a era dos suevos e visigodos. O espaço só seria redescoberto em 1931, tendo motivado Rui de Serpa Pinto e a restante equipa erudita daquela altura a empreender os procedimentos arqueológicos que se impunham. Ao todo, foram detectadas 24 sepulturas, mas julga-se que muitas outras estariam ainda por descortinar, dado que só havia sido explorada uma parte do terreno. Só numa [sepultura] apareceram ossos, restos do crânio "casco" e "duas canas das pernas ao lado de outra". 

No entanto, a grande descoberta que, na altura, tinha causado surpresa na comunidade esmorizense, acabaria por cair gradualmente no esquecimento. É certo que a Junta de Freguesia de Esmoriz teve a oportunidade de convidar, há três ou quatro anos, o arqueólogo Gabriel Rocha Pereira para que este realizasse sondagens no local, tendo sido relatadas mais novidades ou conclusões interessantes, nomeadamente a existência de um antigo povoado da Idade do Ferro que teria vivido nas imediações da necrópole (embora não tenha provavelmente grande ligação à estrutura fúnebre porque a existência desta é muito posterior). Todavia, podemos, desde já, verificar que o espaço tem, sem dúvida, potencial arqueológico!

A verdade é que, exceptuando a primeira exploração de 1931 (de proporções aceitáveis, mas incompleta), nunca houve mais uma grande investigação em torno do local. Como é lógico, e para que tal acontecesse, teria que ser canalizada uma verba ambiciosa, e todos sabemos que Esmoriz enfrenta problemas/desafios mais sérios neste momento. Todavia, compete aos organismos públicos locais pressionarem o Ministério da Cultura e as suas Direcções-Gerais para que possam obter comparticipação num futuro projecto global de investigação arqueológica deste espaço que parece ter um potencial histórico relevante. Também envolver as universidades seria uma excelente ideia.

Acreditamos que, se as escavações avançarem, serão encontrados artefactos com valor histórico. Aliás, não é muito comum detectarmos por aí necrópoles ou cemitérios antigos que possam conter largas dezenas de sepulturas. Alguma "manifestação social" ocorreu ali, embora não se conheça o seu contexto particular e as suas vicissitudes.

Sabemos que, por entre aqueles séculos (V-VIII d. C.), e após a era da ocupação romana, Esmoriz esteve incluído primeiramente no reino suevo, e depois, no reino visigodo (a partir de 585). Por outro lado, o nome da nossa cidade poderá advir de Hermerico I, rei que trouxe o povo suevo desde o Reno até à Península Ibérica, e que instalou a sua capital na antiga cidade romana de Bracara Augusta, assumindo o domínio do Noroeste Peninsular. Alguns autores lançaram a hipótese de que as terras que herdaram o nome deste rei ("terras de Hermerico"), eram localidades "privilegiadas" pelos soberanos suevos. Não sabemos se isto é verdade porque efectivamente a informação existente para os tempos dos suevos e visigodos é bastante escassa, pelo que estes raciocínios e teorias são meramente especulativos.

Mas quando não há documentos suficientes para encontrar as respostas que procuramos, isso não quer dizer que não existam outros métodos (ou formas) de chegar ao conhecimento - e a arqueologia é um deles.

A Necrópole do Chão de Grilo pode ter segredos importantes que estão ocultados por debaixo da terra. Talvez um dia, quando a conjuntura for mais próspera, se possa tirar a "prova dos nove"! E se as descobertas forem consideráveis, a ideia da criação de um Centro Interpretativo seria certamente algo a considerar!



Um comentário:

  1. Olá
    Aquando da construção do novo parque de estacionamento da Cordex ( 1ª fase) tive oportunidade de fotografar as sepulturas encontradas como resultado de escavações feitas no local.
    Pouco tempo depois enviei as mesmas para as entidades competentes, no sentido de que fossem preservadas e o resultado foi o seu soterramento para dar lugar ao parque de estacionamento agora existente.
    Há cerca de um ano voltei a enviar as imagens para as Entidades competentes. Os emails andaram das secretarias do Norte para o Centro mas o resultado foi nada!
    Ninguém, das entidades oficiais, quer saber do «achado»...ou então, como diz o Povo, «Valores mais altos ( mais baixos, digo eu) se levantam»....
    Cumprimentos
    Augusto

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