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quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Umas eleições com resultados que nos preocupam (Opinião)

Os resultados das eleições presidenciais de 2021 já foram conhecidos, e como se esperava, Marcelo Rebelo de Sousa venceu à primeira volta. Não votei nele por uma questão de protesto face à realidade actual, mas considero que era o candidato com melhores argumentos para a função. Mas os 60,7% que obteve são um "exagero" porque não o posso considerar como um grande presidente, contudo a modesta concorrência permitiu-lhe uma vitória fácil. 

Marcelo é um presidente que, na minha opinião, se expõe demasiado, ao ponto de se tornar vulgar em certas ocasiões. É precisamente o contrário de Cavaco Silva que passava despercebido e que, muitas vezes, preferiu o silêncio em vez de criticar a política de austeridade que se abateu sobre o povo português. Claro que se pedia um presidente mais interventivo, contudo Marcelo fez que se passasse do 8 para o 80, e como diz o ditado, o que é demais também é demais. Não penso que tenha feito um primeiro mandato medíocre porque ajudou nos consensos políticos, contudo também não cumpriu algumas das metas que havia estabelecido (uma delas, o objectivo de dar uma segunda oportunidade aos sem-abrigo).

Marcelo teve certamente os votos de muitos sociais-democratas e socialistas porque soube conjugar a sua orientação política de origem com a interpretação da realidade governativa actual. Tem esse mérito, mas voltamos a mencionar que a sua vitória esmagadora se deve também muito a uma concorrência retalhada e com nomes pouco galvanizadores. 

Poderia ter surgido um bom candidato na esquerda, mas os socialistas (que não se reviam em Marcelo), os bloquistas e os comunistas não souberam trabalhar numa candidatura conjunta. Ana Gomes não é má de todo, mas a questão é que também faz muita demagogia e se envolve nalgumas lutas que não são as dela, embora tenha o direito à sua opinião. Ana Gomes também teve algumas escolhas discutíveis para a sua lista e os apoios que recolheu (embora tivesse do seu lado o ministro socialista Pedro Nuno Santos e o deputado do PAN - André Silva) não foram suficientes. Marisa Matias, candidata do BE, poderia ter desistido a favor de Ana Gomes, talvez teria sido o mais sensato porque a bloquista, de acordo com as sondagens prévias, não iria repetir o resultado de há anos atrás. Claro que ainda temos João Ferreira que, na nossa opinião, discursa bem e de uma forma fluída, mas que nunca iria conseguir alavancar um grande resultado porque a sua votação não iria muito além da esfera social de inclinação comunista.

À direita, André Ventura, líder do Chega, conseguiu um terceiro lugar, superando duas das três anteriores candidaturas de esquerda. A comunicação social considera que o responsável pelo novo partido de extrema-direita teve um mau resultado por não ter chegado ao segundo lugar (Ana Gomes teve 12,9% contra 11,9% de André Ventura), mas não é essa a leitura que deve ser feita. André Ventura testou a sua popularidade nestas eleições. Se o Chega repetir um resultado destes nas próximas legislativas (2023), conseguirá automaticamente eleger entre 15 a 20 deputados de uma assentada. Como é lógico, a concorrência em legislativas é bem mais forte do que em presidenciais, e será difícil a André Ventura repetir os 11,9%, contudo se a conjuntura económica se mantiver desfavorável (e o impacto da pandemia será duro nos próximos anos), poderá alcançar um resultado similar e tornar-se no partido de alternativa à direita tradicional. Como é lógico, é um risco para a nossa democracia - André Ventura não vê todos os portugueses de uma forma igual e utiliza um discurso, bem articulado, mas populista e, nalguns casos, retrógrado e utópico. André não tem a "varinha mágica" (ninguém se iluda!) que vai salvar o país, mas a verdade é que, o seu partido cresce e seduz inclusivamente novos eleitores (que já não votavam há muito tempo) e outros que antes costumavam votar no CDS-PP ou no PSD (isto é, pertenciam à ala direita deste partido). É altura para uma reflexão profunda!

Eduardo Mayan Gonçalves, candidato da Iniciativa Liberal, obteve 3,2 %. Foi um bom resultado que lhe permitiu apresentar algumas medidas que podem favorecer a iniciativa privada e a circulação saudável da economia com a "menor intervenção possível" do Estado, mas o problema é que estas ideias só serão profícuas em tempos de prosperidade, cenário que está longe de acontecer, neste momento, em Portugal. 

Tino de Rans, o mais humilde de todos, não foi além dos 2,9%, mas ajudou a animar um pouco estas presidenciais. Talvez, tenha sido o candidato mais genuíno, rebatendo qualquer artificialismo, mas lá está, ter "bom coração", só por si, não chega para ocupar o cargo mais alto da nação. São necessárias outras competências, nomeadamente "conhecimento de causa". 

Por fim, uma palavra sobre a abstenção. 60,5% dos portugueses não foi votar. Ou seja, 6 em cada 10 pessoas preferiram ficar em casa. Compreende-se que a pandemia tenha provocado o medo em muitos cidadãos que preferiram resguardar a sua própria saúde. Talvez tivesse sido melhor adiar as eleições presidenciais, mas os apelos sociais de nada valeram... No entanto, a abstenção não se poderá justificar apenas pela "conjuntura covidiana" - há pessoas que não foram votar porque já não confiam no sistema político em Portugal. Mais um assunto para reflexão!

Esperemos sim é que o próximo mandato de Marcelo Rebelo de Sousa (2021-2025) seja produtivo e benéfico para a evolução económica e social do país. A verdade é que terá, pela frente, desafios e obstáculos mais difíceis e que, na maior parte dos casos, resultarão do impacto deste vírus que teima em não desaparecer.





Imagem nº 1 - Marcelo Rebelo de Sousa vence Eleições Presidenciais de 2021 e avança para segundo mandato.
Retirada do "Jornal Alvorada"

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