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quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Papas e Cardeais Portugueses

Quais os nomes dos nossos Papas? Quem foram os nossos primeiros cardeais? Duas questões que seguramente ainda hoje originam muitos debates, derivados da ausência de documentação para estes períodos mais remotos. Este nosso artigo visa problematizar em torno destas questões!


Papas Portugueses ou originários da antiga Lusitânia


O Primeiro Papa Lusitano, embora anterior à fundação da nossa nacionalidade, foi Dâmaso I (viveu entre 305-384 d.C.). É difícil determinar o seu local de nascimento, embora as teorias actuais apontem para Guimarães ou Idanha-a-Velha. Existe ainda quem defenda que tivesse nascido em Tarragona, Madrid ou Arguelaguer. Muitas terras ibéricas reclamam as suas origens, mas a sua potencial naturalidade lusitana parece ganhar  mais força. 
No ano de 366 d.C, Dâmaso, homem de elevada cultura (era poeta e arquivista!), atingiria o solo pontifício, o que não fácil visto que a sua ascensão não fora totalmente consensual (Dâmaso chegou a ser acusado de adultério e de estar envolvido em homicídios, nos primeiros anos de governo pastoral - o imperador acabou por absolver e apoiar o Papa Lusitano). 
Enquanto Sumo Pontífice, exigiu a organização dos arquivos da Igreja, ordenando ainda a destruição dos documentos deturpados e apócrifos que poderiam ser utilizados pelos hereges. Combateu ainda o arianismo, doutrina considerada como herética. 
Durante o seu papado, o imperador Teodósio I declara a religião cristã como a oficial do Império, lançando assim perseguição a todas as outras que deixariam de ser toleradas, contrapondo assim o Édito de Milão (313 D.C.) do imperador Constantino que garantia liberdade religiosa.
Dâmaso restaurou os santuários dos mártires e dedicou-lhes epigramas (isto é, poemas) de louvor, mostrando assim que a fé cristã cresceu e sobreviveu à custa de muitos sacrifícios. Diga-se ainda que um dos seus secretários foi São Jerónimo que procedeu a revisões latinas das Sagradas Escrituras. Este Papa lusitano faleceria em 384 d.C, ao fim de 18 anos de pontificado.



Imagem nº 1 - Retrato do Papa Dâmaso I.


Com a fundação oficial do reino de Portugal, algo que se dará apenas em 1143 (Tratado de Zamora), apenas teremos posteriormente um Papa. Trata-se de Pedro Hispano, o homem cujo nome identifica actualmente um dos melhores hospitais do país, localizado em Matosinhos. Sem dúvida, uma personalidade da Ciência... e da Religião.
Nascido em 1205, provavelmente em Lisboa, Pedro viria a completar a sua formação em Paris. Ele foi autor de várias obras de teor medicinal, filosófico e religioso. De entre as quais, destacava-se o Thesaurus Pauperum, um livro "económico", que apresentava cuidados e terapias médicas, destinado às classes mais pobres.
No ano de 1276, e após uma carreira religiosa de respeito (prior da Colegiada de Guimarães, arcebispo de Braga, bispo de Túsculo...) atinge o trono pontifício, sob a designação de João XXI. O seu pontificado terá durado 8 meses... e 8 dias, quando inesperadamente o tecto do edifício, onde se encontrava, ruiu, provocando assim a sua morte (embora não tenha sido imediata, mas apenas ao fim de alguns dias).
Durante o seu curto papado, procurou lançar uma Cruzada ao Oriente, destinada a proteger os interesses dos cristãos que se sentiam ameaçados pelo avanço dos sultões mamelucos do Egipto. Procurou ainda estabelecer alianças com o Império Bizantino. Todos estes projectos não foram concluídos, dado o seu curtíssimo pontificado.
Na Divina Comédia de Dante (uma obra fantástica com finalidades semelhantes à Auto Barca do Inferno de Gil Vicente), o Papa João XXI faz parte dum escasso leque de personalidades que consegue entrar no Paraíso idealizado por aquele poeta italiano.



Imagem nº 2 - Pedro Hispano, uma das figuras mais marcantes do século XIII.



Os Primeiros Cardeais Portugueses


O mistério adensa-se, quando tentamos descobrir quem foi o primeiro cardeal português. Tradicionalmente, aceita-se que o Mestre Gil (ou Egídio Júlio) foi o pioneiro, embora em data incerta. Todavia, nada disto está cientificamente comprovado. Aliás, a documentação da época não comprova o seu estatuto de cardeal. Da sua vida, apenas se sabe que foi filho de Julião Pais, chanceler do reino, e que foi tesoureiro da Diocese de Coimbra e cónego de Viseu. Por isso, as dúvidas são maiores que as certezas!
Em seguida, temos Paio Galvão (conhecido em Espanha como Pelayo Gaitán). Este, sim, sabemos que foi cardeal-bispo de Albano (Itália) em 1213, tendo ainda liderado a Quinta Cruzada (1217-1221) que resultou num autêntico desastre, em pleno Egipto. O nosso cardeal não aceitou uma proposta de paz do sultão Al-Kâmil que estava disposto a oferecer-lhe Jerusalém, pedindo apenas em troca a retirada das suas tropas das terras faraónicas. D. Paio Galvão, erudito mas arrogante, não quis ceder e tentou conquistar todo o Egipto pela força das armas. Apesar da conquista de Damieta, os cruzados seriam derrotados quando marchavam rumo ao Cairo. O cardeal teve que regressar à Europa com um tremendo dissabor. Em relação às suas origens, pouco claras, discute-se se seria vimaranense (ou interamnense - isto é, oriundo de uma outra região do Entre-Douro-e-Minho) ou leonês. De facto, Paio Galvão parece ter alguma família na cidade de Léon, mas também não é menos verdade, que existem documentos que o associam a Portugal (caso da Crónica de Ernoul do Século XIII - ver página 417), mais concretamente a Guimarães, aonde terá começado a sua carreira no Mosteiro de Santa Marinha da Costa (o falecimento de D. Pedro Galvão, suposto pai de Paio Galvão, parece estar presente na documentação desta instituição - ver Tomás de Encarnação, História Eclesiástica Lusitana). 
Depois, é a vez de Ordonho Álvarez que foi cardeal em 1279, depois de ter sido arcebispo de Braga. Contudo, terá nascido em território espanhol, visto que foi aí que iniciou a sua carreira eclesiástica.
No século XIII, temos ainda Pedro Hispano, futuro Papa João XXI, este sim nascido em Lisboa e mais tarde, cardeal-bispo de Túsculo. Dele já falamos em cima!
Em suma, Paio Galvão (possivelmente nascido em Guimarães) e Pedro Hispano (nascido em Lisboa) parecem ter sido, de facto, os primeiros cardeais portugueses!


Imagem de Paio Galvão, O.S.B.

Imagem nº 3 - D. Paio Galvão, ilustre cardeal do nosso reino!


Ficheiro:Ordonho Alvares.JPG

Imagem nº 4 - Ordonho Álvares, um cardeal-bispo dado tradicionalmente como português, embora as últimas investigações apontam para uma naturalidade espanhola.


A todos eles dedico este meu poema:


As Origens Eclesiásticas da nossa Nação
(Poema da autoria do Cusco de Esmoriz)


Um País,
Dois Papas Cultos
Homenageados agora pelo Cusco de Esmoriz
Que não espera receber insultos!

Dâmaso, que Papa virtuoso!
Ultrapassaste muitos escândalos,
Num período algo tumultuoso,
Recheado de vândalos.

Pedro Hispano, o nosso génio literário!
Querias lançar uma Cruzada,
Mas o tecto ruiu e caiu-te todo o tipo de pedrada,
Cessando o teu pontificado temporário.

Mestre Gil e Ordonho Álvares,
Vidas desconhecidas
Para Tu, Senhor Historiador, esmiuçares,
Desde que as mesmas não estejam irremediavelmente perdidas!

Paio Galvão de Guimarães,
Cardeal mal sucedido na missão a Constantinopla,
E, no Egipto, ignoraste os experimentados capitães,
Encerrando assim esta nossa copla!


Pronto, esgotou-se a minha inspiração! Não consigo fazer mais do que isto! A sopa mágica acabou de gerar os últimos efeitos. Agora não tenho cabeça para mais nada! Espero que este texto tenha sido útil para muitos dos nossos estimados leitores, aumentando assim a sua bagagem cultural! Um abraço do vosso ser lendário preferido, o Cusco de Esmoriz!


Fontes Consultadas sobre os nossos Papas (1 anterior e o outro posterior à Nacionalidade)



Fontes Consultadas sobre os Primeiros Cardeais Portugueses

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