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terça-feira, 6 de outubro de 2015

Coligação PSD & CDS venceu as eleições legislativas, mas Esquerda reconquistou a hegemonia parlamentar




Tabela º 1 - Comparação dos resultados observados entre as Eleições Legislativas de 2011 e 2015.
Blog: Aventar




1. Leitura dos Resultados

Não há dúvidas de que a coligação governamental foi uma das vencedoras da noite (embora não consideremos que tenha sido a "grande vitoriosa"), alcançando um triunfo que há dois anos atrás seria impensável dado o elevado descontentamento da população. Efectivamente, os portugueses escolheram, neste passado domingo, o projecto da coligação PSD & CDS como se tratasse dum "mal menor", descartando  por outro lado "aventuras" que poderiam sair muito caras no futuro. No entanto, há algo que ninguém pode negar - o governo perdeu a maioria absoluta, o que no nosso entendimento, constitui uma posição clara de que os portugueses tencionam uma política mais moderada e/ou menos austera/asfixiante. Será que Pedro Passos Coelho e Paulo Portas compreenderão estes sinais? Estarão ambos dispostos a fazer cedências nas negociações e alterar parte do seu programa político? 
Por seu turno, o Partido Socialista foi, sem dúvida, o grande derrotado da noite, e não soube tirar proveito dos 4 anos de descontentamento popular em torno do actual governo. O abismo começou com as longas e fracturantes eleições primárias no seio do seu partido, seguiu-se depois a detenção do ex-primeiro ministro José Sócrates, e como se não bastasse, a campanha eleitoral do partido foi muito mal concebida. A nosso ver, António Costa não tem condições para continuar à frente do partido, tendo em conta os motivos que alegou para justificar a saída do seu antecessor - António José Seguro. 
Em terceiro lugar, ficou o Bloco de Esquerda que foi a maior surpresa da noite, duplicando praticamente a percentagem da votação recolhida. A boa performance de Catarina Martins nos debates televisivos bem como a eficiência dos seus discursos cativantes justificaram a escolha dum número significativo de eleitores. Os bloquistas deixarão de ter 8 deputados e passarão agora a ter 19. 
A CDU caiu para quarta força política, embora tenha melhorado ligeiramente a sua votação em relação a 2011, o que lhe permitirá eleger mais um deputado. Um resultado com sabor agridoce, visto que os comunistas, apesar do seu pequeno crescimento, almejavam aumentar ainda mais a sua expressão a nível parlamentar.
O PAN (Pessoas, Animais e Natureza) partilha também com o Bloco de Esquerda o facto de ter alcançado um resultado muito positivo e, em simultâneo, inesperado. O partido ambientalista logrou eleger um deputado pelo círculo de Lisboa, acabando com uma série de 16 anos que não tinham vislumbrado qualquer entrada duma nova força política na Assembleia da República.
Derrotados desta noite eleitoral saíram ainda o Partido Democrático Republicano de Marinho Pinto e o Movimento Livre de Rui Tavares que não conseguiram eleger qualquer deputado.





Imagem nº 1 - Pedro Passos Coelho e Paulo Portas, representantes máximos da coligação de direita, deverão continuar à frente do governo. No entanto, perderam a maioria absoluta, o que pode comprometer o cumprimento integral da nova legislatura prevista para os próximos 4 anos.
Foto: Sapo/Lusa



2. Abstenção bateu recordes

A abstenção nas eleições legislativas de 2015 cifrou-se nos 43%, número que contrariou as projecções iniciais mais optimistas (citadas inclusive nos discursos iniciais dos responsáveis partidários) e que culminou num novo recorde negativo verificado neste capítulo. A tendência do abstencionismo tem vindo a acentuar-se nos últimos anos. O descrédito dos portugueses em relação à classe política é, cada vez mais, evidente. Registaram-se ainda 3,7 % de votos brancos/nulos.
Os votos em pequenos partidos sem representação parlamentar (rondaram, ao todo, os 7 %) também ajudam a compreender algum desgaste em termos de crença na actual "partidocracia".
É urgente devolver a credibilidade à classe política e a esperança ao povo.



3. Coligação de Esquerda - É possível?

Será que o tremendo antagonismo face às políticas de direita será suficiente para que a Esquerda esqueça as acérrimas divisões que vigoram entre si e se prontifique a propor uma governação alternativa?
Apesar dos apelos recentes do Bloco de Esquerda e da CDU para uma tentativa de aproximação por parte do Partido Socialista (no sentido de formar um novo governo de Esquerda), a verdade é que o cenário idealizado em cima é inviável ou inverosímil, visto tratarem-se de forças políticas com visões completamente distintas para o país. Para que tal acontecesse, António Costa teria que abdicar de grande parte da identidade do seu partido (o qual até partilha mais pontos em comum com as forças do governo do que com a oposição mais à esquerda) para formar um novo governo que, apesar de maioritário, iria depender dum entendimento consensual entre três partidos que, desde sempre, mantiveram profundas divergências.
Por outro lado, o Partido Socialista será, de qualquer das formas, chamado a participar na governação do país, até porque é a única força política que poderá viabilizar os projectos do actual governo.
Em jeito de remate, cremos que o governo de Pedro Passos Coelho irá manter-se no poder (sem haver lugar a qualquer coligação de esquerda), mas será indubitavelmente obrigado a ceder em futuras negociações perante uma Esquerda pouco flexível.



4. As leituras infelizes de Berlim e Bruxelas

Como tem sido apanágio nos últimos anos, a Comissão Europeia tem sempre que meter o bedelho nas questões que dizem exclusivamente respeito a Portugal e aos portugueses. O problema é que as intervenções infelizes têm-se amontoado, e os senhores que tutelam a União Europeia só conhecem uma palavra no seu dicionário para os países mais frágeis - austeridade.
Dentro deste contexto, o Presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, afirmou que a austeridade não impediu a vitória da coligação PAF, algo que no seu entender até foi uma boa notícia (veja-se Jornal Económico). Mais desinibido nas palavras, o Ministro das Finanças Alemão, Wolfgang Schauble, julga que a vitória da coligação é um encorajamento para a política de austeridade que tem sido seguida (fonte: Diário de Notícias).
É claro que discordamos prontamente destas análises tendenciosas que visam defender um modelo penoso (com exageros à mistura) que Bruxelas e os credores internacionais impuseram a Portugal e a outros países vulneráveis. Não cremos que a austeridade tenha saído vencedora nas eleições de Domingo. Aliás, a dita austeridade ficou "maneta" porque a partir de agora as medidas mais delicadas dificilmente passarão no Parlamento. 
Por fim, e embora sem querer agoirar ainda mais este tópico, a Comissão Europeia já veio avisar que os portugueses terão que trabalhar mais 10 anos (isto é, 45 anos ao todo) para que possam ter acesso a uma reforma decente. Pelos vistos, os tempos áureos do "sonho europeu" já se esfumaram... 



5. Os resultados em Esmoriz

A coligação "Portugal à Frente" foi largamente a mais votada no distrito de Aveiro e no concelho de Ovar. No caso da freguesia de Esmoriz, os resultados não foram diferentes. Os partidos de direita alcançaram aqui uma vantagem considerável de 11% sobre o Partido Socialista. Mas o Bloco de Esquerda também obteve um resultado muito interessante.
A taxa de votantes situou-se nos 59%, número ligeiramente superior à média nacional.
Num dia de mau tempo (chuva torrencial e fortes rajadas de vento), a descentralização das secções de voto (postura que vigora, salvo o erro, desde 2013) poderá ter contribuído para que a abstenção não fosse muito elevada na Cidade da Tanoaria.



Tabela nº 2 - Os resultados do dia eleitoral na Freguesia de Esmoriz
Retirado do Site - OvarNews

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