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sexta-feira, 10 de maio de 2019

Pro Meritis Civitatem V


"Deus constrói o seu templo no nosso coração sobre as ruínas das igrejas e das religiões."


Ralph Waldo Emerson
Filósofo e poeta norte-americano
(1803-1882)


Datada do século XVII (ou de, pelo menos, dos finais do século XVIII), a Capela das Alminhas do Pinto situa-se actualmente junto à linha viária que compreende a ligação entre a rua dos Castanheiros e a rua Alexandre Sá Pinto, isto é, já nas imediações do Intermarché de Esmoriz.
Apesar da ausência de dados ou factos concretos na documentação a respeito dos primórdios deste templo, sabemos, pelo menos, que esta ermida se encontrava inicialmente isolada num lugar então circundado por pinheirais da Família Pinto.
Na tradição popular, as Alminhas eram locais de paragem quase obrigatória para os fiéis, constituindo assim padrões de culto dos mortos. De acordo com o arqueólogo Gabriel Rocha Pereira, "estas humildes memórias de piedade têm, portanto, um considerável valor etnográfico, uma vez que nelas se actua o ingénuo sentido artístico do povo português". Gabriel relembra-nos que muitas "Alminhas" já se perderam no país por motivo de abandono ou de fúrias "modernizadoras e destruidoras". 
Segundo o que nos conta Gil Candal, "à Capela das Alminhas do Pinto acorriam, outrora, marítimos e náufragos para agradecer as benesses recebidas em horas de aflição e amargura, e outros devotos a solicitar remédio para os seus males em tempos de doenças".
No interior, a pequena capela guardava um painel alusivo às Almas do Purgatório, algo que a tornava mais especial. Informaram-nos que esse painel não terá resistido ao avanço dos tempos, podendo o mesmo ter sido destruído ou até furtado. 
Efectivamente, no século XX, aquele pequeno centro de peregrinação e devoção locais começou a acusar um evidente estado de ruína. A estrutura apresentava fissuras, a porta achava-se estroncada e a imundície abundava no espaço. O surgimento de uma nova estrada moderna também não ajudou, dificultando ao início a sua visibilidade e acesso. A ermida estava semi-soterrada. Era pois preciso fazer algo.
Dentro deste contexto, e já na qualidade de proprietária da capela, a Comissão de Melhoramentos de Esmoriz, na altura presidida por Florindo Pinto, envidou esforços para a sua reedificação. A nova capela nasceria ligeiramente mais a poente, após negociação com os proprietários dos terrenos situados nas proximidades, e obedeceria fielmente às características e moldes de construção da primitiva ermida. O templo reedificado seria inaugurado a 31 de Março de 2002, dia de Páscoa.
O investimento total cifrou-se em valores significativos, segundo o que foi reportado num orçamento a que tivemos acesso. A Comissão de Melhoramentos investiu uma parte, a autarquia de Ovar suportou 50%, e ainda houve lugar para que empresários e gentes anónimas da região fizessem os seus próprios donativos.
A zona envolvente da ermida foi também reabilitada e ajardinada devidamente. Ali seria plantada uma oliveira que hoje assume proporções mais "adultas" e belas, "adornando" de forma natural aquele espaço.
No dia da inauguração da capela reedificada, largas dezenas de pessoas decidiram comparecer. O Pároco de Esmoriz, Fernando Campos, abençoou as imagens do Sagrado Coração de Jesus e da Nossa Senhora Auxiliadora. No evento estiveram igualmente presentes: Armando França, Presidente da Câmara Municipal de Ovar, que felicitou a Comissão de Melhoramentos de Esmoriz e elogiou a visão empreendida neste dossier; Eduardo Nunes, em representação da Comissão Administrativa da Junta de Freguesia de Esmoriz que assinalou este marco através da declamação de um poema; e por fim, Florindo Pinto, Presidente da Comissão de Melhoramentos de Esmoriz, que deixou agradecimentos a todos os que apoiaram a obra, tendo relembrado que muitos populares cederam gratuitamente água, electricidade e materiais para que tudo corresse da melhor forma. A porta da capelinha haveria de ser oferecida por um industrial do ramo.
Florindo deixou também um recado ao executivo da Junta de Freguesia de Esmoriz da altura por não ter colaborado activamente neste projecto de reedificação da Capela das Alminhas do Pinto.
De acordo com as edições do Jornal A Voz de Esmoriz referentes a Março e Abril de 2002, os méritos da concretização deste sonho devem-se igualmente a Manuel Jardim (um dos técnicos mais bem qualificados que actuou sob a supervisão de José Américo, vereador do pelouro de Obras e Ambiente) e aos irmãos Albertino e Fernando Pereira (os quais traçaram o projecto).
A Capela das Alminhas do Pinto sobreviveu aos novos tempos, e ainda hoje é um dos edifícios mais simbólicos da zona nascente da Cidade de Esmoriz. E tais méritos devem ser atribuídos a um povo que congregou esforços para que tal tradição religiosa jamais caísse no esquecimento.





Imagem nº 1 - A Antiga Capela das Alminhas encontrava-se em péssimo estado.
Direitos da Foto - Arquivos do Jornal A Voz de Esmoriz




Imagem nº 2 - A Capela encontrava-se, nesta situação decadente, no ano de 2000 (isto é, dois anos antes da reedificação).
Direitos da Foto - Arquivos do Jornal A Voz de Esmoriz





Imagem nº 3 - Estado actual da já reedificada Capela das Alminhas.
Direitos da Foto - Comissão de Melhoramentos de Esmoriz





Imagem nº 4 - Pedra com inscrição da reedificação a 31 de Março de 2002.
Direitos da Foto - Comissão de Melhoramentos de Esmoriz




Imagem nº 5 - O interior da capela, ainda hoje estimada e venerada pelos moradores de Gondesende e da restante cidade de Esmoriz. 
Direitos da Foto - Comissão de Melhoramentos de Esmoriz

3 comentários:

  1. GASTOU-SE 756 MIL EUROS ONDE? APENAS NISTO 756 MIL EUROS? HÁ AQUI ALGO MUITO ERRADO EM CONTAS !!!!!!!!!!

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  2. Sim, o valor parece excessivo... Vou ver se errei ao registar a verba total extraída do orçamento. De qualquer das formas, retirei o valor até ter a certeza do investimento canalizado. Vou tentar saber mais através de pessoas a respeito desse investimento. E depois direi aqui se tiver novidades. Abraço

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