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domingo, 10 de maio de 2020

Rubrica Perspectivas Descomprometidas (Tema VII - Reflexão de Quarentena)


Reflexão de Quarentena II


A pandemia encontra-se em outra fase. Serviços, irão abrindo aos poucos, mas com as devidas restrições. É perfeitamente natural que se tenha de acautelar a Economia: as vidas, os trabalhos das pessoas não podem ficar estagnados para sempre. Se, por um lado, a saúde é muito importante  e deverá ser sempre o mais importante; por outro lado, no mundo em que vivemos, o vil metal é que manda.
Por falta dele, pessoas passam necessidades e é nisto que devemos pensar igualmente. O Primeiro Ministro disse, que caso tivessem de dar um passo atrás dariam. Espero que não tenham de dar esse passo.
Eu até posso apontar falhas ao governo, porque as tem; porém também não gostaria de estar no lugar deles, muito menos do Primeiro Ministro e Ministra da Saúde. Não, não é nada fácil. 
Quem sabe, de facto lidar com isto? Ninguém.
O trabalho da DGS tem sido incansável, mesmo que incompreendido por muitos. Mas não é nada fácil. Nada mesmo.
A Dra. Graça Freitas é humana. Tem falhas como todo nós. Talvez, não saiba usar tão bem as palavras, tal como sabe usar a sua experiência de médica. No início, até disse que a pandemia não iria chegar a Portugal. Sabemos hoje que é errado, mas se calhar foi o que lhe disseram para dizer, ou, se calhar pensava que não viria mesmo.
 Não deixa de ser caricato, só que não adianta «continuar a chover no molhado». Deixemos de dar tanta importância ao que já passou e foquemo-nos no imediato, no quotidiano e adaptarmo-nos diariamente à nova vida.
Todavia, por exemplo, no que concerne à abertura de creches, prés e ATL´S, parece-me que estão com pressa demais. Então, se dos os alunos mais velhos, só irão e com os devidos cuidados, os que terão de fazer exames, pergunto-me eu, porque razão se tem de «sacrificar» os mais pequenos, as suas famílias, os seus educadores e os seus assistentes?
Se foi feito em parceria com a DGS e o governo e , sim, a DGS, é de uma importância extrema e deve «estar sempre na linha da frente» e deve ser sempre ouvida, quer por nós, quer pelo governo, só que, no caso das escolas e de outros locais onde existam profissionais de algum ramo, quem sabe mais e verdadeiramente do que lá se passa e das condições são os próprios.
Bem sei, que não é de agora que se ouve todos devidamente. Só que talvez nos tempos que correm fosse melhor começar a ouvir ou a ouvir mais. Eu não entendo de Saúde, como tal, vou tomar os conselhos da DGS ou de um profissional de saúde ou quem estudou essa área.
Portanto, se eu trabalho numa escola, que me desculpem, mas sei mais de escolas do que a DGS e o governo. Eu e os que lá trabalham. Sim , todos, porque os mais esquecidos desses trabalhadores são sempre os funcionários.
As crianças de tenras idades não são robôs, nem entendem verdadeiramente o facto de terem de estar socialmente distantes dos demais. Quando isto se iniciar, se já choram, por os pais terem de ir embora, imaginem agora há tanto tempo em casa. Vão agarrar-se aos assistentes, aos educadores. E o que eles irão fazer? Deixar a criança a chorar sem lhe dar carinho?
As crianças partilham objetos, mesmo que se diga que não se pode, as crianças metem coisas na boca. Quem está na sala, se numa situação normal, já é complicado, imaginem agora com todas estas regras. 
Não, não estou contra que haja regras: é perfeitamente compreensível dada a situação. Mas sei do que falo e bem. É a minha área, pronuncio-me sobre o que sei. Sobre o que não sei, tento saber com quem sabe. É simples de entender, porém, difícil, para colocar em prática, porque querer, dizem que é poder, mas há quem não queira fazer um esforçozinho!
Mas pensaram devidamente nas crianças? Nas famílias? No pessoal docente e não docente? Querem que se façam as omeletes sem terem muitas vezes os meios. E já agora, conseguem higienizar tudo da forma como pretendem? Sabem, é que há profissionais a dar assistência a filhos com menos de 12 anos. Podem usufruir ainda desse direito. E nada  contra isso, mas e o resto? 
Faltarão quando isto começar, 20 dias para o fim do ano letivo. Para quê a pressa? E farão testes a quem trabalha nas escolas, tudo bem, e às famílias? 
Não seria melhor abrir em Setembro com todos os profissionais ao serviço, mesmo que uns tenham de ir de tarde, outros de manhã e não se encontrem do que abrir a 20 dias de fechar sem entender o que são de facto crianças e escolas e as condições humanas e de infraestruturas das mesmas.
Deus queira que não.  Porém, posto isto, não me parece que as coisas correrão bem. Ou pelo menos, não da forma que eles esperam.
E podem dizer-me que as coisas têm de ir aos poucos ao normal. Eu não me oponho à abertura destes serviços, conquanto, não agora. 
Também compreendo que os pais possam ter locais onde deixar os filhos, mas até mesmo ATL, me parece ainda também cedo, embora, não da mesma forma do que as creches e prés. Mas, é um serviço de apoio à família. Creches e prés, não são. 
As creches e prés são locais onde se educa e ensina crianças, também se trata delas, mas são sobretudo um local de educação e aprendizagem. Para quem deseja unicamente que se trate apenas dos filhos, tem as amas e similares.
E dizer que vão abrir por causa dos pais e dos seus trabalhos, é incongruente, pois os pais ainda têm direito à baixa por assistência aos filhos. E há pais que têm filhos de creche e de pré, mas também têm de escola primária e estes só regressam em setembro e também têm direito a assistir os mesmos. Então, por quê terem de ir de imediato os mais pequenos, que são de todos eles, os mais vulneráveis e os que menos entendem o que se passa.
E poderei também estar enganada, mas não me parece. Os profissionais de todas as áreas (uns mais do que outros) ficarão cansados demais e até depressivos, porque têm sobre os ombros tarefas que lhes serão impossíveis de realizar por muito que queiram. E, até mesmo quem está em casa há tanto tempo com os filhos, corre este risco também.


Ana Roxo
Licenciada em Estudos Portugueses e Germânicos
Poetisa/Escritora natural de Esmoriz




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Imagem meramente exemplificativa retirada do Diário de Leiria

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