terça-feira, 6 de outubro de 2015

A não-comparência do Presidente do República nas cerimónias do 5 de Outubro

Há datas que marcam a história dum país. O dia 5 de Outubro enche-nos de orgulho porque assinala a instituição (desde 1910) dum regime político que acabou definitivamente com os privilégios de nascença, criou um Estado Laico assente num Parlamento que representaria a soberania total do povo e favoreceu os valores da meritocracia em detrimento dos laços familiares de sangue ou da elite nobiliárquica.
De modo a materializar todos estes ideais, muita gente arriscou a sua carreira e inclusive a vida. Quem não se recorda do golpe fracassado no Porto em 1891, no qual 12 militares revolucionários perderam a vida? E no dia da revolução, não perderam a vida 37 pessoas (somando-se a estas mais 14 que, durante os dias seguintes, sucumbiram aos ferimentos contraídos)? Por outro lado, quantos republicanos não foram descriminados ou até perseguidos nos tempos da monarquia?
É claro que não nos revemos no regicídio do rei D. Carlos em 1908, um acto de cobardia que decerto não dignificou a causa republicana. Contudo, naquela altura era evidente que a monarquia portuguesa já estava "caduca" e não oferecia soluções para suprir as necessidades extremas dum povo bastante empobrecido. O seu período áureo residia num passado cada vez mais distante, e por isso, começou a crescer o sentimento popular de mudança para um regime mais justo e igualitário.
A Primeira República (1910-1926) revelará uma terrível instabilidade política, social e económica, mas a sua malograda experiência servirá de lição para que viesse a ser aprimorada mais tarde. O processo de amadurecimento deste sistema político até aos dias de hoje é inegável, apesar do actual sistema político albergar ainda muitos "cancros" ou "vícios nefastos" que, desde há décadas, minam a transparência em Portugal. Por outras palavras, a evolução foi lenta (com avanços e recuos) desde 1910 até à actual data em que redigimos este artigo, mas podemos dizer que valeu a pena, embora também respeitemos, como é óbvio, o ponto de vista contrário por parte de adeptos monárquicos.
Se antes de 1910, os portugueses não poderiam eleger o seu representante máximo (o rei), a verdade é que, desde aquela data, passaram a poder fazê-lo, escolhendo então o Presidente da República.
Neste âmbito, consideramos que a falta de comparência do seu titular máximo (o Presidente da República) é inadmissível, visto que se Cavaco Silva actualmente detém o referido cargo de prestígio, certamente o deverá a todos aqueles que, no passado, se bateram pela instituição da República. Não há justificações sensatas para a sua ausência nas cerimónias oficiais. A nosso ver, as pessoas e os partidos não são eternos, o país sim é o que nos une a todos enquanto portugueses.
Viva Portugal! Viva a República! Viva o 5 de Outubro!


Imagem retirada de: http://www.ordemengenheiros.pt/

Nota-extra: Neste texto, não queremos, de modo algum, denegrir a história portuguesa nos tempos da Monarquia, porque também aí vivemos eras de ouro (por exemplo: nos tempos dos Descobrimentos). E logicamente admiro alguns reis portugueses que tivemos no passado, nomeadamente D. Afonso Henriques (fundador da nacionalidade), D. Dinis (poeta e exímio administrador do reino), D. Manuel I (o rei mais bem sucedido na era da expansão portuguesa)... Agora creio que os tempos da monarquia fazem parte do passado, e espero que consigam compreender esta minha opinião. A República parece-me um regime mais moderno ou igualitário. Exposto isto, sublinhamos que este artigo teve como principal intuito criticar a decisão presidencial revelada em cima.

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