quarta-feira, 19 de julho de 2017

Especial Autárquicas (Esmoriz & Ovar) I - Um mês de Julho ameno para o debate político



Ovar - PSD parte como favorito, mas não vence nenhum dos dois primeiros rounds


Os meses de Junho e Julho não foram ainda escaldantes no panorama político. O debate ainda não atingiu um nível de ardor que, por exemplo, se vislumbrou noutros tempos. Ainda assim, muitos partidos iniciaram agora a sua campanha eleitoral, pelo que há muitos trunfos e dados a serem jogados nos próximos meses. 
Todavia, nestes inícios do mês de Julho, vieram à baila dois debates ou confrontos de ideias. E em ambos os casos, os sociais-democratas, favoritos aos triunfos em Ovar e Esmoriz (devido à obra feita), não foram felizes no que diz respeito à argumentação apresentada. 
A história do abate de árvores no Jardim Almeida Garrett em Ovar, denunciada essencialmente por Filipe Marques Gonçalves e Fernando Almeida (candidatos do CDS-PP) e também por Vítor Amaral (cabeça de lista do PS; este refere que as árvores abatidas seriam mesmo centenárias), não foi bem tratada do ponto de vista político pelo executivo municipal. Apesar de um comunicado (tardio) emitido a frisar que havia algumas árvores em risco de queda, a verdade é que outras foram igualmente arrancadas, sem que esse perigo realmente existisse. Tivemos acesso a essa informação, e o camião que rapidamente ficou empilhado de troncos das árvores abatidas demonstra que o corte não foi meramente circunstancial ou cirúrgico, apesar da configuração actual do jardim não denotar uma mudança drástica face à realidade anterior. Relembramos que esta não é a vez em que o executivo de Salvador Malheiro é alvo de críticas devido ao tratamento concedido às árvores. Recordamos os casos da errónea e arriscada trasladação das árvores centenárias de Cortegaça (no âmbito da Remodelação do Largo do Campo, Rua Olívia e Florindo Cantinho e Rua dos carris) e a eliminação de outras na Avenida 29 de Março em Esmoriz. Estas e outras matérias necessitam de uma maior sensibilidade ambiental por parte da autarquia.
O segundo confronto em que os sociais-democratas não conseguiram vencer, mas aqui também a oposição não soube superar na argumentação, refere-se essencialmente aos méritos em torno da reabilitação da Barrinha de Esmoriz. Rogério Ferreira, recém-nomeado candidato do PS Esmoriz, alega que o mérito das obras de requalificação deve ser imputado ao governo socialista de António Costa, enquanto os dirigentes municipais eleitos pelo PSD, reclamam para a autarquia de Ovar uma importante fatia do êxito, olvidando os outros intervenientes. O problema é que nenhuma das partes tem razão quando reivindica o sucesso exclusivo para o seu partido, quando este deve ser repartido pela Sociedade Pólis, Estado/Governo Socialista Português, autarquias sociais-democratas de Ovar e Espinho (sem esquecer o papel de Manuel Oliveira, anterior presidente socialista da Câmara de Ovar, que pressionou para viabilizar o início dos estudos ambientais em 2011), e claro, a União Europeia (subsidiou 85% do projecto). E aqui também devemos incluir todos os cidadãos (anónimos ou não) que, anos após anos, fizeram de tudo para que a Barrinha fosse intervencionada. Ainda assim, o projecto, apesar de devolver a Barrinha à população (com a instalação de um interessante percurso moldado por passadiços de madeira e uma ponte), peca por não resolver o problema das fontes poluidoras. E neste ponto em concreto, devemos elogiar o recente projecto de recomendação do Bloco de Esquerda que alerta para esse facto alarmante. A Barrinha só terá paz quando as entidades poluentes forem devidamente castigadas.
Por seu turno, o PCP Ovar, representado pelo candidato Carlos Silva, pugnou ultimamente pela defesa da integridade e polivalência do Hospital de Ovar e pela reabilitação do Bairro do Lameirão.
Como notícia positiva deste rescaldo político, há a salientar o alargamento do executivo para nove vereadores (devido ao facto do concelho passar a ter agora 50 mil eleitores) em vez dos tradicionais 6 (ao qual acrescia a figura presidencial). É provável que uma terceira força política consiga eleger um representante, intrometendo-se entre os dois principais partidos dominantes - PSD e PS.
Em termos de favoritismo, esse está todo ele do lado de Salvador Malheiro. Apesar de alguma demagogia inerente ao seu discurso, a verdade é que a obra deixada ao concelho foi importante. O seu papel pressionante na requalificação parcial da Barrinha de Esmoriz, a criação do Orçamento Participativo, a dinamização festiva, a reabilitação da Praça dos Combatentes do Ultramar, o rejuvenescimento urbano da parte nascente da cidade de Esmoriz, a construção do Centro Cívico de Cortegaça (futura sede de freguesia da vila), a criação de Unidades de Saúde (uma delas nascerá brevemente em Válega), entre outras obras, são factos que não podemos escamotear, sob pena de nos acusarem de desonestidade intelectual. O PS teria que realizar uma campanha perfeita para poder destronar Salvador Malheiro, o verdadeiro líder do partido social-democrata a nível concelhio e até distrital. O candidato socialista Vítor Amaral é uma pessoa credível e decerto que apresentará um projecto construtivo, mas tem a missão inglória de enfrentar o PSD de Ovar mais forte dos últimos trinta anos.




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Imagem nº 1 - Filipe Marques Gonçalves tem sido até ao momento a revelação deste período pré-autárquico. O cabeça-de-lista do CDS-PP "quer mais" para o concelho de Ovar e tem deixado várias sugestões a partir da sua página. Poderá o CDS voltar a desempenhar um papel de relevo nos quadros municipais?




Esmoriz - António Bebiano é uma certeza, Rogério Ferreira pode ser a surpresa


António Bebiano, actual presidente da Junta de Freguesia de Esmoriz, parte como favorito à vitória. Realizou um bom trabalho juntamente com a sua equipa, e parece estar de pedra e cal no lugar de representante máximo dos esmorizenses.  A ele se atribuem várias façanhas, nomeadamente: a criação da Universidade Sénior de Esmoriz, a dinamização do Arraial da Barrinha, a promoção de encontros de urbanismo, a intervenção nalgumas ruas, a criação do átrio da Junta de Freguesia de Esmoriz para eventos culturais, o apoio concedido junto das colectividades, a instalação de gabinetes de apoio psicológico e de incentivo ao emprego, etc.
Todavia, favoritismo não deve ser confundido como prenúncio de uma vitória antecipada, visto que as surpresas também acontecem nas eleições. Para isso, não nos podemos esquecer que este executivo também cometeu algumas falhas, apesar do interessante trabalho encetado. Por exemplo, a rua dos Tanoeiros permanece esquecida, mas não é a única em Esmoriz a precisar de uma repavimentação urgente. Além disso, a Junta de Freguesia deveria ter exercido uma maior pressão junto da autarquia de forma a assegurar o arranque imediato das obras de requalificação do Esmoriztur, impasse que se mantém até à data, apesar das promessas recentes. Também alguma sinalização de trânsito merece ser alvo de uma revisão cuidada, bem como as condições sociais pouco dignas que se vislumbram em algumas habitações na zona à beira-mar. É necessário também esboçar um plano de dinamização turística da cidade, e provavelmente, lançar um projecto de apoio à reabilitação dos nossos palheiros.
E no papel de observadora crítica, deve entrar finalmente a oposição local. Rogério Ferreira foi o candidato escolhido pelo PS para encabeçar a lista à Junta de Freguesia de Esmoriz. Professor com alguma ligação à nossa terra (embora também associado a Santa Maria da Feira), Rogério já veio prometer um "espírito reflexivo, de permanente insatisfação para com a realidade imperfeita, onde, num ambiente de exigência e rigor se façam convergir todas as capacidades e competências para uma Cidade melhor e de maior qualidade". O candidato ainda vai mais longe, afirmando: "Trago muitos sonhos e o sonho comanda a vida, e é nesta simbiose entre sonho e realidade, que com uma equipa credível e envolvida com a população, tornaremos Esmoriz numa cidade de total sucesso, de melhor qualidade e de elevado reconhecimento".
Se até então temos apreciado o trabalho de António Bebiano à frente dos destinos da cidade de Esmoriz, também é justo reconhecer que Rogério Ferreira parece apostar, à primeira vista, numa mensagem mais alegre e cativante do que aquela que os seus antecessores apresentaram em 2013 e cujos resultados foram horripilantes (tanto nas eleições intercalares como no sufrágio geral de 2013). Mas para Rogério se tornar no principal challenger de António Bebiano, terá que estar atento a uma importante jogada de tabuleiro - a eventual recandidatura independente de Rosário Relva será sempre uma machada fatal nas aspirações socialistas, visto que a sua lista resultou de uma cisão com dirigentes daquele partido em 2013. E nesta dança do eleitorado, todos os detalhes podem fazer a diferença. Se Rosário se recandidatar, o PS poderá melhorar o resultado e até disputar a segunda posição, mas só um milagre o fará triunfar diante dum eleitorado social-democrata unido e coeso. O problema é que o grande mistério neste momento é saber se a ex-presidente, cujo seu principal êxito político repousou no abatimento de várias dívidas herdadas de mandatos anteriores, se se recandidatará. Ninguém sabe a resposta a este dilema, mas é claro que o PS será a parte mais interessada.
João Santos, candidato do Bloco de Esquerda, dirigiu-se, e bem, aos esmorizenses, defendendo que é necessária uma oposição mais activa e irreverente nas assembleias de freguesia, de forma a contrastar com a "pasmaceira" dos últimos tempos, em que a oposição era essencialmente feita por dois ou três cidadãos sem filiação partidária nas duas intervenções permitidas que precediam o início dos trabalhos. Também Carlos Alexandre que avança pelo CDS-PP já anda a realizar campanha pelos mercados da nossa terra, escutando as preocupações da população e identificando assim eventuais resoluções para os seus problemas. Bloquistas e Centristas querem alcançar representação na Assembleia de Freguesia, pelo que deverão fazer chegar as suas ideias o mais depressa possível à comunidade esmorizense.
Por fim, estranhamos que o PCP ainda não tenha escolhido o cabeça-de-lista para Esmoriz. Partir tarde nunca é boa ideia!





Imagem nº 2 - Conseguirá Rogério Ferreira reerguer o Partido Socialista em Esmoriz? O candidato parece apostar numa mensagem mais alegre e activa. 



Nota Adicional - O "Especial Autárquicas (Esmoriz & Ovar)" é uma nova rubrica, de regularidade mensal, em que procuraremos acompanhar o estado das diversas candidaturas autárquicas às cidades de Esmoriz e Ovar, deixando sempre o nosso ponto de vista, seja ele elogioso ou crítico.

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