segunda-feira, 25 de maio de 2015

Um ensaio sobre a barbárie do Estado Islâmico

Mais de 400 mulheres e crianças acabam de ser executadas, sem direito a julgamento, na cidade síria de Palmira, cujas ruínas romanas milenares (Património Mundial da UNESCO) estão também em risco de desaparecer. Esta é a prática recorrente do Estado Islâmico que comete massacres atrás de massacres, sem qualquer respeito pela dignidade humana. Destroem os mais belos edifícios da nossa História e queimam inclusive seres humanos, em nome duma convicção doentia que nada tem a haver com os ensinamentos de Deus (seja ele dos cristãos, muçulmanos, judeus...). 
Todavia, confesso que já não são as atrocidades do Estado Islâmico que me surpreendem (os instintos maquiavélicos daquela seita numerosa deixaram de ser novidade aos olhos do mundo!), mas sim a inércia ou a passividade do Ocidente ou dos "Charlie's" que pouco ou nada fazem para inverter o rumo dos acontecimentos na Síria e no Iraque. 
Não tenho dúvidas de que uma força internacional (composta por soldados de várias nações - sejam eles oriundos da América, Europa, África, Ásia ou Oceânia) rapidamente arrasaria com este califado do Demónio. É certo que alguns soldados perderiam as vidas, mas o Inferno seria aniquilado ao fim de poucos meses de duros combates. Se tal acontecesse, não duvido que milhares de vidas inocentes seriam poupadas nos tempos vindouros. 
O Estado Islâmico é apenas fruto da anarquia que se vive em países como o Iraque ou a Síria. Anarquia essa que, no Iraque, teve o seu início aquando da invasão norte-americana promovida por George W. Bush (ex-presidente dos EUA) em 2003. Afirmava ele que era preciso combater o terrorismo e as armas de destruição maciça que o Iraque possuía. Apesar da investigação da ONU não ter encontrado provas das ligações do regime tirânico de Saddam Hussein à al-Qaeda nem sequer qualquer arma de destruição maciça, os norte-americanos avançaram para uma invasão ilegítima que se traduziu na morte em vão de vários civis e soldados. O resultado está hoje à vista de todos. O Iraque até se pode ter livrado duma ditadura terrível, mas mesmo assim bateu ainda mais no fundo, pois mergulhou na pior das anarquias. O seu exército, destroçado pela invasão americana, não tem meios para travar os jihadistas, sendo que estes últimos, através dum intenso jogo psicológico, incutem medo e punições cruéis àqueles que os ousarem enfrentar no terreno. Agora sim, o cenário terrorista instalou-se no Iraque. Até Barack Obama, actual Presidente dos EUA, já não hesita em apontar o dedo a George W. Bush pelo aparecimento do Estado Islâmico, mesmo sendo consequência não-intencional da referida invasão. O que é certo é que actualmente não podemos negar que o Iraque tornou-se num país ainda mais sangrento, inseguro e refém do terror. Aquela célebre cimeira das Lajes jamais deixará boas recordações para a Humanidade, e em nada, repito - em nada, contribuiu para a paz mundial!!!
Na Síria, os efeitos da Primavera Árabe rebentaram praticamente depois da deposição do regime líbio de Muammar al-Gaddafi. O ditador sírio Bashar al-Assad teve a sorte de uma boa parte do seu exército se ter mantido fiel ao regime (apesar dum número considerável de deserções) senão a esta hora já tinha conhecido o mesmo destino que o congénere líbio. Inicialmente, o Ocidente apoiou os movimentos de oposição ao regime, através de armas e financiamento, mas ignorou ou subestimou os grupos extremistas que integravam as fileiras de resistência ao regime opressor de Damasco. E a verdade é que o Estado Islâmico surgiu em força na Síria e também mantém hoje células na Líbia, onde recentemente foram, por exemplo, decapitados 21 cristãos coptas do Egipto. A Primavera Árabe também ocasionou a instabilidade que o Estado Islâmico desejava para assim ganhar posições nesses países seriamente debilitados.
O presidente norte-americano Barack Obama, talvez condicionado por um Prémio Nobel da Paz que lhe foi entregue precipitadamente, rejeita qualquer intervenção de grande escala, preferindo apenas o recurso a drones e raides aéreos que possam fragilizar algumas células e estruturas do Estado Islâmico. Mas é um método insuficiente porque afinal o Estado Islâmico continua a avançar no terreno - apoderou-se de Palmira (Síria) e de Ramadi (Iraque).
Além dos EUA, os restantes países do Ocidente, embora continuem a censurar as práticas do califado, cingem-se apenas às palavras e não aos actos. É muito pouco! 
No meio disto tudo, tenho algumas perguntas a fazer - A quem é que interessa de facto a existência do Estado Islâmico? E porquê? Serão as indústrias de armamento que "aplaudem" estas guerras? Haverá interesse na debilitação do Mundo Árabe, mesmo quando o EI já ameaçou entrar um dia em Israel? Quais as razões desta inércia colossal? Será falta de vontade ou antes confluência de poderosos interesses ocultos?
Entretanto, enquanto discutimos isto, mais pessoas morrem inocentemente, e na Europa surgem novos recrutas que entregam, de forma absurda e impensável, a sua alma ao Estado Islâmico, pensando que estão a caminho dum Paraíso que afinal só existe na cabeça deles.





Imagem nº 1 - O Estado Islâmico segue impune, e muito o deve à passividade evidenciada pelo Ocidente que não faz o suficiente para terminar com esta saga infernal.

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