Recordando o Ti’Telmo
O Ti'Telmo, mais conhecido por Telmo Pinho Grosso, foi um dos verdadeiros lobos do mar, o barqueiro exímio da Arte Xávega de Esmoriz. Infelizmente, já cá não está entre nós, mas o seu legado permanece nas memórias descritivas de todos nós.
Graças a ele e a vários pescadores da nossa terra, seriam servidas nas mesas de várias casas e restaurantes as melhores sardinhas, carapaus, robalos, solhas, peixes-aranhas, cavalas, etc.
Sabemos ainda que escreveu alguns versos que integraram os seus poemas e fados.
Deixamos um deles que reflecte as aflições vividas em alto mar, quando se procurava garantir o sustento da comunidade diante de ondas e correntes terríveis, e em alturas, em que só a intercessão divina era a derradeira esperança para abençoar a coragem destes homens que ajudaram a erguer uma terra durante décadas, honrando uma tradição de séculos!
O MAR
(Poema da autoria de Ti'Telmo)
Pescador, velho lobo do mar
Que pedes para te levar
Com saudades de te ver
Porque não te posso esquecer
No tempo que eu andava
Em cima de ti navegando
Trabalhando e chorando
E te pedia por amor
Ó mar não sejas traidor!
O céu azul revoltado
Enraivecido pelo vendaval
O tempo não pode acalmar.
O que fazes lobo do mar?
Ó Deus peço-vos rezando
Que o tempo vá acalmando
E que o céu fique claro
Para eu poder navegar
Que eu não posso mais chorar
Ó mar não sejas traidor!
Já não vejo espuma branca
Das tuas enormes vagas
Já tenho as velas rotas
Já não tenho forças nos braços
E não vejo o tempo de abrandar
Ó Deus, como hei-de passar?
Os mastros já caíram ao mar
Está-se tudo a despedaçar
E eu ficarei sem vida
Ó mar não sejas traidor!
Agora navegamos devagar
Sem nada poder arranjar
Com tudo desmantelado
E tudo esfarrapado
E o barco moribundo
São medalhas deste mundo
Que nós podemos ganhar
Enquanto não há calmaria
É trabalhar de noite e de dia
Ó mar não sejas traidor!
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