sábado, 11 de maio de 2013

A lenda da bicha de Sete Cabeças de Silvalde

"Conta-se que, junto à ribeira de Silvalde, nas proximidades de uma ponte, havia um campo onde uma mulher trabalhava. Um dia, viu vir em sua direcção "um bicho nunca visto, que só de cabeças tinha muitas” e de cujas intenções a mulher fez tal juízo que logo deitou a correr no meio de uma grande gritaria. E porque estas coisas do susto se pegam como peste e maleitas, com ela fugiram todos os que por ali mourejavam.
À noite, o povo acordou sobressaltado com o alvoroço dos animais e foi ver o que se passava: encontrou animais mortos e esquartejados. Ficou um de vigia, na companhia de uma corneta para pedir socorro. E este foi pedido ao romper da aurora e o vigilante contou ter visto uma bicha "que só de cabeças tinha muitas” e que embora lhe tenha batido com o ancinho, tinha fugido.
Foram à procura de tal bicho e depois de muitos dias acharam-no. Na luta travada, um camponês pereceu e morta a bicha "cortaram-lhes as cabeças e acharam o número sete”.
Enterraram-na junto a um pilar da velha ponte e ali construíram uma capela para celebrar tão estranho caso. Uma cheia do rio levou a capela, mas, hoje, ainda há uma pequena placa em azulejo a contar a lenda" (Portal da Câmara Municipal de Espinho)

Hoje, trago-vos uma lenda que marcou a História de Silvalde. É claro que, do ponto de vista científico, tem pouca validade, tal como a maior parte dos restantes mitos existentes.
Em primeiro lugar, não encontramos, após uma pesquisa extensiva, a data concreta para a alegada ocorrência, o que é já por si algo a lamentar. Em segundo, nunca seria inteligível a existência duma espécie com sete cabeças. Aliás, o número sete tem, por si, um impacto mitológico reconhecido. Se a lenda mencionasse a existência de um animal que possuísse no máximo 2 cabeças (isto já seria possível, embora não sendo natural) e outras deformações, então aí o grau de veracidade poderia aumentar. Mesmo assim, não deixaria de ser um cenário improvável. 
A forma como o relato foi exibido dá a entender que tudo terá partido dum boato popular, generalizado mais tarde pela comunidade, atravessando diversos séculos e gerações. 
Mesmo assim, é um mito curioso que foi devidamente preservado, conferindo, em parte, uma identidade a Silvalde. Não será por aí que deixará de ter valor, até porque tem sido parte assente nas tradições desta freguesia do Município de Espinho. Por outras palavras, esta lenda está inserida na própria cultura da vila.




Imagem nº 1 - Azulejo existente em Silvalde que procura representar o monstro contido na lenda.



Imagem nº 2 - Outra representação possível. Neste caso, poderíamos estar perante a Hidra de Lerna que, ao possuir 7 ou mais cabeças, era temida por muitos. Está bem patente na mitologia grega.

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