sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Câmara Oculta XXV

Um azulejo da autoria de Maria Manuela Ferreira retrata, no cimo da parede, uma mulher segurando um cantil junto à ria de Aveiro (ou outro curso de água daquela cidade, dado que o nome da capital de distrito surge na legenda desta obra artística). A imagem representada não é fruto do acaso, pelo que ousamos interpretá-la. Um cantil serve para recolher água para consumo próprio ou outros fins, e metaforicamente, o fontanário que recebeu esta tal "desenho artístico em forma de azulejo" assume o mesmo papel que qualquer curso de água, matando a sede e as necessidades de quem, no passado, muito sofreu com as adversidades da vida e do tempo. É certo que os moradores não trariam agora cantis, mas antes baldes e garrafões. No entanto, a comparação é praticamente perfeita. 
Os restantes azulejos são preenchidos por desenhos de circunferências. Sabemos que outrora existiu ali uma torneira que fez a diferença na vida de muitas pessoas. Hoje a mesma já não existe (terá sido arrancada?). Talvez o espaço tenha perdido a sua funcionalidade desde há umas boas décadas para cá. Já não se pode regressar a um passado (sobretudo distribuído pelos séculos XVIII, XIX e primeira metade do séc. XX) aonde chafarizes, fontanários, repuxos, tanques e lavadouros eram espaços públicos destinados a combater a escassez de água nas aldeias, vilas e cidades. 
Este pequeno espaço simboliza esses tempos em que qualquer fonte de água era um meio de sobrevivência e sustento de várias famílias pobres. 
E providenciar tais meios livres e gratuitos, naqueles tempos, corresponderia a um gesto de grande nobreza política, tendo a sua conta a finalidade social a que se destinavam. 
Já agora, este fontanário que fotografamos localiza-se na rua dos Castanheiros, em Esmoriz. Não sabemos quando foi construído, mas parece-nos que já contará, pelo menos, com várias décadas de existência.




Imagem nº 1 - Um dos fontanários antigos da cidade de Esmoriz.
Foto da nossa autoria

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