sábado, 1 de junho de 2013

Enigmas do Cusco I - O fim polémico dos Templários

Como já constataram, iniciamos agora uma nova rubrica que visará abordar temas fascinantes que marcaram a História Mundial. Mistério, Polémica e Conspiração incorporam um leque de palavras que irão seguramente visionar com bastante frequência nesta nova secção de textos.
Com esta rubrica, pretendemos não só divulgar os nossos conhecimentos à comunidade esmorizense, bem como tentaremos atrair um maior número de leitores portugueses e estrangeiros.
Exposto este prólogo, iniciaremos a abordagem dos últimos anos de existência da Ordem dos Templários. Seriam eles culpados dos crimes que lhes imputaram no século XIV? Ou tudo não passou duma conspiração com fins devidamente pré-estabelecidos?


Templários - Culpados ou Inocentes?


No ano de 1291, São João de Acre, último reduto cristão na Palestina, cai às mãos de Bairbairs, sultão egípcio que era conhecido pela sua severidade e intolerância no campo de batalha. A chacina foi enorme. A Cristandade ficou destroçada com a perda do seu derradeiro bastião na Terra Santa, mas a verdade é que, desta vez, não reagirá, ao contrário dos últimos dois séculos. A Europa está envolvida em guerras civis, os soberanos já não mostram tanto interesse pelo Médio Oriente. 
As Ordens Militares que tomaram uma parte tão importante no âmbito das Cruzadas, manteriam o seu poderio económico no Ocidente, mas a sua importância bélica seria agora diminuída pois o tradicional palco do Oriente tinha desaparecido. Os muçulmanos controlavam agora, por inteiro, a Palestina. 
A Ordem dos Templários, fundada em 1119 pelo cavaleiro francês Hugo de Payens (e mais alguns aristocratas), tinha formado, ao longo da sua existência, inúmeros jovens nobres que renunciariam às riquezas e se predispunham a combater pela fé cristã. Contudo, e como já disséramos, esta instituição vivia agora uma crise de identidade nos anos iniciais do século XIV.
 Em termos económicos, a situação estava longe de ser crítica, dado que possuíam controlo sobre inúmeras terras e propriedades. Por exemplo, no Sul de França, controlavam quase toda a região do Languedoc. O seu poderio financeiro era um facto assinalável.
Nesse mesmo país, reinava Filipe IV, cognominado de "O Belo", um homem ambicioso que desejava reforçar o seu poder. Para alcançar tal objectivo, ele parecia estar disposto a tudo. 
Num golpe surpreendente, embora já planeado há algum tempo, ele ordena o aprisionamento de todos os templários. Estes são apanhados desprevenidos e detidos no malogrado dia 13 de Outubro de 1307.  O processo guiado pelos franceses Filipe, o Belo, rei de França, e Clemente V, um papa frágil e influenciável, mencionava inúmeras acusações aos membros desta Ordem. Os templários são acusados de terem efectuado práticas de sodomia (homossexualidade), de cuspirem na Cruz, de adorarem ídolos pagãos, entre outras insinuações gravíssimas.
Inicialmente, os guerreiros da fé, liderados pelo grão-mestre Jacques Bernard de Molay (também ele francês com 63 anos completados em 1307), refutam todos estes ataques. Posteriormente, surgem algumas confissões, embora obtidas através de práticas de tortura ou de interrogações habilidosas.
Refira-se que mesmo com a detenção inesperada de muitos templários, não se descobriram, nos seus castelos e conventos, estátuas dedicadas a ídolos nem outras provas que pudessem ser consideradas flagrantes. Tudo não passaria pois duma conspiração planeada por Filipe, desejoso de se apropriar dos inúmeros bens da Ordem, isto para além de lhes retirar influência e poder no seu país.
Muitos templários acabam mesmo por ser condenados à fogueira, não pelas heresias que afinal nunca cometeram, mas porque detinham inúmeros bens e a sua utilidade já não era assim tão apreciada. Constituíam pois um entrave aos desejos da Coroa Francesa.
Jacques de Molay, grão-mestre da Ordem desde 1298, e Geoffroi de Charnay, preceptor da Normandia, acabariam por ser condenados à morte na fogueira em Março de 1314. 
A lealdade dos templários para com a Santa Sé tinha sido também esquecida. O Papa Clemente V agia, nesta questão, como se fosse um vassalo do rei de França, quando deveria ser exactamente ao contrário... Basta recordar que este senhor tinha sido o antigo arcebispo de Bordéus, tendo recebido o apoio do rei de França, aquando da sua elevação a Sumo Pontífice. Clemente V, ou Bertrand de Gouth (seu nome de nascimento), tinha que compensar agora Filipe e aprovar tudo o que ele desejasse fazer.
Os tribunais estavam controlados de tal forma que a desgraça dos templários era inevitável. 
Em 1307, o grão-mestre Jacques de Molay foi convidado a assumir a culpa (que não tinha!). Se efectuasse a confissão, a pena de morte pela fogueira poderia ser comutada pela detenção perpétua. Contudo, Jacques recusou tal cenário, assumindo até ao fim a sua inocência. O julgamento demorou uns longos 7 anos que equivaleram a torturas sistemáticas no seu líder e demais cavaleiros da Ordem. 
O fim do martírio do grão-mestre e do seu fiel preceptor chegava pela via da fogueira em 18 de Março de 1314, sendo curioso o seguinte relato sobre as eventuais incidências que envolveram execução. Não saberemos se Jacques de Molay proferiu tais palavras, mas a lenda da maldição dos templários nasceria neste preciso momento:


"A tranquilidade e passividade dos Templários contrastavam com o cenário da execução. O padre convocado para confessá-los recebeu como resposta - “Guarde suas orações para o Rei”. Às margens do Rio Sena, um palanque havia sido armado e a família real, assim como grandes autoridades do Reino da França, observavam quando o fogo fosse ateado à pira de execução.
É nesse instante que Jacques DeMolay estendeu seu braço em direcção ao palanque e pronunciou sua maldição – “Nekan, Adonai! Chol-begoal!”; palavras hebraicas que significam “Vingança, Senhor! Abominação a todos!” Em seguida, o Grão-Mestre convocou seus três algozes, Papa Clemente V, Rei Filipe, o Belo, e Cavaleiro Guilherme de Nogaret [conselheiro do rei], a comparecem diante do Tribunal dos Céus dentro de um ano para serem julgados. Por fim, amaldiçoou a dinastia de Filipe por 13 gerações. As chamas, então, consumiram seu corpo, mas nem um grito de dor do Grão-Mestre dos Templários foi escutado e o choque de suas palavras era visível no rosto das autoridades presentes"

(excerto do artigo de Hugo Lima)


De facto, as últimas alegadas palavras de Jacques de Molay não parecem ter sido em vão. A maldição dos templários faria com que o rei de França e o Papa tivessem muito pouco tempo para festejar a vitória na sequência da grande conspiração que tinham encenado. 
Passava pouco mais de um mês da execução, quando Clemente V, com 50 anos, falece em Roquemaure (França), vítima talvez duma úlcera gastrointestinal ou de lúpus. Ainda no ano trágico de 1314, mais concretamente em Novembro, o rei Filipe, o Belo, também não escapa à maldição, tendo sucumbido devido a uma forte queda, enquanto caçava montado no seu cavalo. O monarca tinha vivido apenas 46 anos.
Todos tinham falecido em menos de 1 ano!
Mas a história não fica por aqui pois os sucessores de Filipe também foram invocados na suposta maldição. De facto, o seu  filho mais velho, Luís X, o Teimoso, não governaria por mais de dois anos. Os seus dois outros filhos, Filipe V, o Alto, e Carlos IV, o Belo, tornaram-se reis da França, mas antes que catorze anos se passassem, estavam todos mortos.
A única parte da profecia que não bate certo está relacionada com o falecimento de Guilherme de Nogaret, conselheiro real, visto que este já teria desaparecido em 1313, isto é, ainda antes da execução em 1314. Logo, não poderia ser invocado na maldição, pois a sua morte já teria ocorrido. 
Todavia, é possível que tenha existido um equívoco da potencial testemunha que assistiu às ocorrências, até porque poderia perfeitamente estar a referir-se a Guilherme de Paris, dominicano, confessor do rei e inquisidor que também se destacou no processo de julgamento dos templários. Este terá sido esfaqueado até à morte, pouco tempo depois da execução dos principais dignitários da Ordem do Templo. Tal como nos outros dois casos, não terá chegado são e salvo a 1315. 
Se esta lenda, tal como muitas outras dos templários (nomeadamente a do Santo Graal), tem algum fundo de veracidade, não o sabemos. Certo é que a revolta dos templários, inocentes em toda esta cabala, deveria ser enorme. A sede de justiça deveria ser infinita! Afinal, quem conduziu este processo, sabia muito bem  o que estava em causa. Não eram as questões religiosas que os incomodavam... Os interesses eram outros. A influência e o património dos Templários eram pois alvo de inveja e cobiça.



Imagem nº 1 - Jacques de Molay alegou sempre a sua inocência até ao fim do processo.


PS: Em Portugal, o rei D. Dinis agiu de forma mais moderada do que Filipe, o Belo. A Ordem do Templo foi encerrada, como o Papa Clemente tinha exigido, contudo o rei português transferiu os seus bens para uma nova Irmandade - a Ordem de Cristo, sem que tenham sido realizadas perseguições aos templários portugueses... O processo de extinção fora pacífico no nosso país.


Fontes Consultadas:

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