domingo, 8 de dezembro de 2019

Rubrica Perspectivas Descomprometidas IV (Tema: Natal, quadra de amor, abnegação ou de hipocrisia?)


Natal, quadra de amor, abnegação ou de hipocrisia?


Desde o século V que se celebra o Natal a 25 de dezembro. A palavra advém do latim: Natalis e esta quadra está aí a bater à porta, mas será que o iremos abrir a porta para ele entrar pleno, em força e de forma verdadeira? Ou iremos deixar o Natal na rua, ou apenas na entrada da porta sem o deixar avançar mais?

Pois é, será que ainda se vive o verdadeiro espírito de Natal? Ou será que muitos se esquecem? A confraternização, o amor, a verdadeira união da família, que não deve ser só no Natal.

Será que ainda se pensa mais no Natal como a celebração do nascimento do Menino Jesus? Será que se dá mais importância aos pinheirinhos, aos Pais Natais, às luzinhas que piscam, à oferta desenfreada de prendas, que, parece que quem não dá ou não pode dar assim tantas se sente ostracizado e parece que nem entende por quê?

O comércio «ataca», querem vender, vender e vender. Claro que vivem disso, mas será justificável tanta publicidade, tanto incentivo ao consumo?

As pessoas andam todas solícitas, alegres, com corações quebrantados e bondosos, mas será assim todo o ano? Será que ajudam alguém e se ajudam durante o resto do ano, ou, só ajudam no Natal? Sim, pode ser melhor do que nada e é, conquanto, não cheirará a umas rabanadas de hipocrisia? Há quem ande a lixar a vidinha do outro o ano inteiro, mas agora, não (ah, pois, é Natal, tenho de fazer de conta)!

Impera muitas vezes a inveja, o ódio, o complexo de inferioridade porque este pode dar aquela prenda ou recebeu a prenda que eu queria e eu não.

Os pobres continuam a existir, continua a existir a solidão, continua a existir gente sem Natal, só que, por outro lado, estes não têm Natal o ano todo.

Vivemos numa era de tanta coisa, de tanta tecnologia, porém, muitas vezes de costas voltadas para o outro. Tanta coisa e nada ao mesmo tempo, aquele vazio que as pessoas sentem e parece que nem sabem qual o motivo.

Será que seremos os Scrooge do século XXI? Teremos nós de resgatar os Natais do passado, do presente e do futuro, como esta personagem de Charles Dickens em «Um conto de Natal»?

Será que o espírito do Natal original precisa ser resgatado da hipocrisia, da luxúria e do deslumbramento que caracteriza cada vez mais o Homem do nosso século?

Ou seremos nós fantasmas de nós mesmos?


Afinal, onde andará o verdadeiro Natal?



Ana Roxo
Prosadora e Poetisa Esmorizense
Licenciada em Estudos Portugueses e Germânicos






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