Em primeiro lugar, é uma boa notícia saber que só existem 304 casos activos no concelho de Ovar (embora o número total de infectados desde o início da propagação da pandemia em Portugal seja de 692 no concelho, no entanto, existem já 353 recuperados e 35 óbitos a lamentar), o que reflecte a ideia de que o Gabinete de Crise de Ovar e as Cercas Sanitárias cumpriram a sua missão de conter a contaminação comunitária. Apesar de um certo excesso ao nível de algumas intervenções ou afirmações políticas, a verdade é que a maior parte das decisões tomadas, durante esse período, pelo Presidente da Câmara Municipal de Ovar, Salvador Malheiro, foram acertadas e isso ajudou, quer gostemos ou não do actual executivo, a evitar que mais pessoas fossem contagiadas, e até a salvar vidas humanas.
Mas o que nos leva hoje a redigir este artigo é a interpretação das medidas tomadas recentemente pela autarquia que permitirão aliviar a condição económica crítica das famílias e empresas. É certo que deverá haver uma maior ajuda do Governo ao concelho de Ovar, tendo em conta que este sofreu mais na pele os efeitos da conjuntura. Contudo, voltamos à pergunta do costume - serão estas medidas da edilidade suficientes para inverter a quebra do último mês e meio?
Em primeiro lugar, há procedimentos com os quais concordamos - a isenção de taxas municipais previstas para a ocupação de espaços (caso do mercado municipal), o aumento dos apoios às IPSS's e às corporações de bombeiros, a isenção dos pagamentos relativos aos Contratos de Incubação da Incubadora de Empresas de Ovar, a implementação de uma estrutura que acolha vítimas de violência doméstica, o pagamento imediato a fornecedores, o aumento do número das bolsas de estudo a atribuir e a utilização de cartazes e dos meios de comunicação para sensibilizarem a população para o uso de máscara e outros procedimentos cívicos.
Estas decisões permitirão reforçar o papel já acrescido das entidades que se dedicam a servir a sociedade, em tempos mais difíceis. Por outro lado, haverá estímulos para a inovação, o que pode até resultar na criação de alguns postos de trabalho, embora não se esperem milagres neste ponto. E claro para uma retoma económica gradual, tem que se continuar a sensibilizar a população para os perigos do contágio. Tudo isto me parece bastante pertinente.
Mas não posso afirmar que este pacote de medidas é suficiente, pelo que espero um novo conjunto de iniciativas por parte da autarquia. Apesar da inequívoca utilidade desta sua primeira versão apresentada, penso que a autarquia poderia tomar decisões mais arrojadas futuramente:
- Redução do IMI para o mínimo legal (0,30%) - a autarquia alega que está a tentar resolver o assunto com a Autoridade Tributária de forma a poder praticar alguma redução no âmbito do IMI familiar, mas não sabemos que decisão será tomada.
- Descontos na Conta da Água para os próximos 3 meses, o que justificaria um acordo com a ADRA.
- Cancelamento de todas as festividades de Verão e utilização de parte da sua verba para incentivar empreendimentos solidários que sirvam a população, de forma a garantir que os voluntários não tenham despesas acrescidas ao nível do transporte e aquisição de produtos alimentares que serão depois doados aos mais necessitados. Por outro lado, o aumento gradual dos apoios às IPSS's e Bombeiros Voluntários de Esmoriz e Ovar tem de ser mantido nos próximos 2 anos.
- Reforço das acções de limpeza, desinfecção e higienização dos vários lugares do concelho.
- Colocação de novos cartazes que apelem os cidadãos a apoiarem o comércio local.
- Atribuir mais incentivos fiscais às empresas, com mais de 20 trabalhadores, que tenham mantido todos os seus postos de trabalho.
- Premiar as três melhores empresas do concelho ao nível da sustentabilidade e do recurso ao tele-trabalho.
- Vigiar o acesso às praias, fazendo que só os verdadeiros praticantes de desporto náutico possam aceder e desaconselhar tentativas de ajuntamentos de mais de dez pessoas.
- Apostar em campanhas de sensibilização social junto de creches, escolas, firmas (com mais de 50 trabalhadores) e lares, de forma a garantir-se o cumprimento das normas de higiene, o distanciamento social, o uso de máscara e a adopção das posturas recomendadas. A equipa responsável por essas acções deverá elaborar um relatório e apurar se a lei está a ser cumprida de forma a proteger alunos, trabalhadores e idosos.
- Pressionar junto do Governo para que mais medidas de alívio sejam implementadas, de forma excepcional, no concelho. O Hospital de Ovar precisa também de ser apoiado.
Sabemos que a autarquia terá que abrir os cordões à bolsa e até, em último caso, condicionar ou até colocar em causa o equilíbrio financeiro que se vislumbrara nos últimos 10 anos, mas poderá não ter muitas mais alternativas, de forma a atenuar, a todo o custo, os números do desemprego e de insolvências que se possam vir a registar nos próximos meses. Como é lógico, o combate à crise exigirá sacrifícios das autarquias que vão ter que abdicar de parte das receitas (impostos) e aumentar as despesas para apoiar a sociedade neste momento tão difícil.
No entanto, a comunidade terá de saber contribuir, respeitando a lei e a emergência sanitária, porque só assim voltaremos mais depressa à normalidade.
Imagem meramente exemplificativa retirada do Site Terra Nova
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