sábado, 11 de fevereiro de 2017

Renascer deixou boa impressão no Concurso Nacional de Teatro e sonha com potenciais distinções

O Grupo de Teatro Renascer apresentou ontem à noite a peça "Flor Alma Espanca" no auditório Theatro Club  da Póvoa de Lanhoso, no âmbito da Final do Concurso Nacional de Teatro de 2017, organizado pela Federação Portuguesa de Teatro. Todas as 10 companhias candidatas ao Prémio "Ruy de Carvalho" (o qual distingue o melhor espectáculo) terão a oportunidade, durante este mês de Fevereiro, de apresentar as suas produções então seleccionadas pela qualidade evidenciada durante os últimos tempos.
Além do prémio principal, existem outras categorias que serão premiadas (por exemplo: cenografia, jogo de luzes, sonoplastia, melhor actor, melhor actriz...). O Grupo de Teatro Renascer espera pois arrecadar alguma distinção depois de ter despendido tantas horas no desenvolvimento daquele seu projecto teatral. Nesta sexta-feira à noite, diante de uma boa casa, a colectividade natural de Esmoriz causou boa impressão, e não era caso para menos!
A peça "Flor Alma Espanca" foi redigida por Leandro Vale (um dos grandes nomes do teatro nacional) e encenada por Vera Gomes. O enredo visava descrever a vida atribulada de Florbela Espanca (1894-1930), uma das figuras mais geniais da nossa literatura. Os seus três conturbados casamentos são recordados, bem como os seus dilemas pessoais. A encenação tem ainda a particularidade de congregar alguns sonetos magistrais da poetisa que são cantados em coro por um elenco trajado de uma forma lúgubre e nostálgica. Também é justo salientar que o jovem cantor Rui Tavares, com recurso a uma viola e ao seu canto, participou no final da peça para assim conceder um toque especial, e uma visão um pouco mais optimista da poesia florbeliana.
Era certamente assim que Florbela adoraria ser recordada. A magia da sua poesia confinava-se à arte da escrita que traduzia todas as suas angústias e desilusões. Esta peça, de elevada qualidade ao nível da sonoplastia e do jogo de luzes, tenta ainda a valorizar a visão de que Florbela não se cingiu apenas a expressar os sentimentos e as vivências da sua existência, efectuando também alguma crítica social e contrariando todos aqueles que julgam que a poetisa terá ignorado a realidade e as dificuldades sociais do seu tempo.
Florbela Espanca terá vivido em Esmoriz por volta do ano de 1925, no lugar da Casela. Não sabemos se chegou efectivamente a residir na nossa terra (na altura, aldeia) por dois anos, como propõem alguns registos biográficos, mas é indubitável que chegou a viver na casa do médico Mário Lage, com o qual contraiu casamento. 
O Renascer propôs-se a desenterrar a sua história. Não foi fácil adaptar a peça de Leandro Vale (apesar da qualidade, achamos que era demasiado curta) aos palcos, e tentar estendê-la com momentos musicais de elevada qualidade. Um trabalho que não era fácil, porque o Renascer poderia cair no erro de desvirtuar o trabalho de Leandro, mas felizmente, o resultado final comprova que tudo foi preparado com a minúcia necessária.
Foi um trabalho de rigor, aprimoramento e de qualidade, repleto de pertinência cultural e histórica, além de se tentar recordar o legado de Leandro Vale (foi um mecenas também do Renascer, tendo cedido a este grupo vários ensinamentos e meios logísticos) e de Florbela Espanca (que teve uma passagem pela terra que é representada pelo Renascer nos palcos nacionais).
Póvoa de Lanhoso rendeu-se à mestria da peça, e o Renascer pode mesmo sonhar com eventuais distinções no âmbito do Concurso Nacional de Teatro de 2017. A peça pauta-se pelo primor, e embora acreditando na qualidade das outras companhias candidatas, a verdade é que ninguém poderá retirar o mérito do trabalho então desenvolvido pela colectividade que, em 2017, assinalará 25 anos de frutuosa existência.
Em breve, o júri deverá divulgar os resultados finais.





Imagem nº 1 - A peça "Flor Alma Espanca", redigida por Leandro Vale e encenada por Vera Gomes, recorda a biografia de uma das poetisas mais marcantes da história literária nacional - Florbela Espanca. A encenação contempla cantos intercalados de sonetos magníficos da poetisa natural de Vila Viçosa, com o elenco do Renascer trajado com cores lúgubres (julga-se que o preto e o branco eram as cores preferidas de Florbela).




Imagem nº 2 - Foto em grupo tirada a caminho da Póvoa de Lanhoso, onde o Renascer esteve a bom nível.

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