domingo, 16 de junho de 2019

Rubrica Perspectivas Descomprometidas (Tema I - "O Extremista")


O extremista

O extremista, segundo o dicionário é aquele que é de extremos, mas tudo o que é novidade ou diferente para muitos é extremista.
O extremista acaba com as tradições, acaba com a cultura do povo, como as touradas, as corridas de galgos, as batalhas de cães, etc. Obviamente, que, para o extremista radical todas as tradições devem ser mantidas mesmo que sejam nocivas. Vale tudo pela tradição. Mas, afinal, temos tantas boas que devem ser mantidas e que não prejudicam ninguém, então qual o motivo de, em pleno século XXI, se querer manter tradições medievais. E, por exemplo, em relação às touradas, já foram abolidas mais do que uma vez. O mais conhecido abolicionista foi Passos Manuel. E não viveu no século XXI. Enfim, incongruências.
Sim, porque ele é que é extremista por pensar diferente. É ele que mata ou usa outro ser vivo para se regozijar. Sim, o extremista também come, mesmo que seja omnívoro, mas se for vegano ou vegetariano, então, é extremista à brava. Não, matar para comer, não é o mesmo que matar por prazer, simplesmente. E, sim, é um pouco hipócrita comer uns animais e não outros, mas todo o ser humano encerra em si um pouco de hipocrisia. O problema é quando essa característica é a que mais salta à vista. Isso, sim, é preocupante.
O extremista defende ideias novas, o extremista não pode ser ambientalista, o extremista não pode ser um «urbano depressivo que só come alfaces» e depois? O não extremista fez-vos algum mal? Pensa diferente de ti e depois? Pior seria se pensássemos todos de igual modo.
O extremista deve conformar-se com a sociedade em que vive, com a situação política, económica, social. Ele só deve reclamar nas redes sociais. 
O extremista acha que quem defende todas as formas de vida como sencientes é chalupa ou que os outros só querem pôr os animais em primeiro lugar. Deve haver gente assim, mas ele toma a parte pelo todo. Mas, ao menos um animal que cuidemos, não nos irá dar facadas nas costas.
O extremista acha que sabe tudo sobre tudo; só que não sabe nada! O extremista acha que é bom ser o Dantas do século XXI. Não gosta de quem lhe poderá escrever um manifesto! Pimba, pum!
O extremista não deve votar em partidos diferentes, porque todos eles são extremistas e não são bons. Sim, porque o extremista se conforma com os extremos, passando a redundância, dos anos em que vota nos mesmos ou nem sequer vota e se queixa da corrupção, mas não quer tentar apostar na diferença. Queixa-se do estado do país, mas também contribui para o estado em que se encontra, mas o não extremista, igualmente. Temos todo o mundo nas mãos!
O extremista não gosta da mudança. O extremista gosta de apoiar «lobbies», mas nem sempre sabe, porque é arma de arremesso fácil, ou pode ser arma de arremesso fácil, dos media.
O extremista não gosta de quem põe os dedos nas feridas e fala de tudo o que interessa, mesmo que pareça estúpido e desnecessário. O extremista tem medo: até é natural. O não extremista também poderá ter medo da mudança. Todo o ser humano tem. Todavia, muitas vezes, temos de tentar ultrapassar, transpor o limite dos nossos medos.
O extremista preocupa-se com a parte em vez de se preocupar com o todo. O extremista pode ser racista ou, talvez, não. Do racismo tanto pode ser vítima o branco ou o negro. O extremista até pode ser boa pessoa, mas o não extremista também pode ser. Têm apenas pontos de vista diferentes sobre este ser ou parecer.
O extremista pode não gostar do ativista, porque as ideias e o que defende são estapafúrdias, porém, se calhar, o não extremista ativista, ao menos, tenta fazer alguma coisinha!
O extremista muitas vezes é treinador de bancada, chefe de gabinete, que não sai do lugar para tentar conhecer outras realidades.
O extremista pode preocupar-se com a vida sexual do vizinho, como se fosse da conta dele, a forma e o modo como ele se relaciona. O extremista acha que pode haver exageros e, até pode haver. Há sempre quem o faça em todas as esferas da vida, mas não foi o extremista que foi, no geral, morto, ostracizado, vilipendiado e, ainda é, só por levar a sexualidade de forma diferente.
O extremista deveria achar que o que conta mesmo é a forma como a pessoa conduz o barco da sua vida. Não, a pessoa não será perfeita, nem tem de ser. Ninguém o é, mas, se tentar fazer o bem, mudar nem que seja um pouquinho o mundo, isto, não deveria ser de mais importância, do que apenas trivialidades?
O extremista fala de política e de outros temas, conquanto muitas vezes, nem se informa sobre o tema que está a debater.
O extremista, o radical, não quer tentar ser borboleta. Não quer tentar a metamorfose por medo de errar, mas erra constantemente, por nada tentar mudar.
O extremista existe, até é inteligente: só não deve ter receio e deve pensar pela sua própria cabeça, sem se ver no espelho de uma sociedade decadente!
O extremista parece que abomina a novidade!


Ana Roxo
Poetisa e Escritora de Contos natural de Esmoriz
16 de Junho de 2019
(O texto é irónico e satírico. Atenção à interpretação do mesmo)





Um comentário:

  1. Nota-Extra: A Rubrica "Perspectivas Descomprometidas" é da autoria de Ana Roxo e conhecerá uma periodicidade mensal aqui no blogue.

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