quinta-feira, 30 de abril de 2020

Em diálogo com Filipe Cayolla


À conversa com um convidado especial
5 Perguntas de Rotina, 5 Respostas de Quarentena
Entrevista Publicada Originalmente na Página da Comissão de Melhoramentos de Esmoriz


Hoje é dia de falarmos com Filipe Cayolla, gestor e empresário (numa empresa que executa interiores de hotéis) e porta-voz do PAN Aveiro, sendo natural de Esmoriz. Vamos tentar saber como ele tem encarado este contexto adverso provocado pelo contágio do COVID-19.


1 – Olá Filipe. Que impacto sentiu quando foi decretado o Estado de Quarentena em Ovar? Acha que o levantamento da Cerca Sanitária aconteceu no momento certo? 📌

R: Olá, antes de mais queria agradecer o convite. O estado de calamidade municipal foi decretado um dia antes do estado de emergência nacional. Havendo um foco do vírus no concelho era imperativo controlá-lo e por isso pareceu-me sensato e oportuno decretarem o estado de quarentena. (Porque já estava consciente e preocupado com a situação, encerramos a nossa empresa na quarta-feira anterior ao levantamento da cerca.)
Contudo existiram algumas situações que não foram consideradas:
Casos de familiares estarem proibidos de entrar para dar apoio a idosos que se encontravam sozinhos e vice-versa.
Assim como casos de pessoas de fora do concelho que não se podiam deslocar a Ovar para assegurar a alimentação de animais domésticos (o Grupo Parlamentar do PAN teve oportunidade de solicitar ao Governo algumas alterações, que nunca obteve resposta).
Não sendo especialista, considero que a renovação do estado de calamidade municipal foi excessivo, pois as diferenças entre a situação de Ovar e os concelhos circundantes pouco mais foi do que a limitação da circulação de e para o concelho, não acreditando que tenha trazido mais valias significativas.



2 – Acha que o Governo, e até mesmo a autarquia de Ovar, têm cometido algum excesso de zelo ou será que a sua actuação teria sempre de assumir estes moldes? 📌

R: Sendo o Governo e a autarquia constituídos por seres humanos, é natural que acertem numas coisas e errem noutras.
Mas parece-me que tanto o Governo como a autarquia deveriam ter agido mais cedo.
O primeiro atrasou-se na implantação de medidas preventivas e o segundo manteve a festa de Carnaval e, até aparecerem os primeiros casos, muito pouco fez no município.
Acho que os parâmetros definidos para a cerca sanitária deveriam ter sido melhor pensados e implementados. Mas, à data da implantação da cerca, com o aumento descontrolado de casos no Concelho e a total incapacidade de detetar todas as cadeias de transmissão de contágio, parece-nos que foi uma decisão importante para a contenção que se exigia.
Na realidade todos estes cenários são novos e a comunidade cientifica ainda não dispõe dos dados necessários para as decisões que se impõem.
Dada a situação de Ovar, era necessário atuar, pelo que as medidas inicialmente tomadas demonstraram a consciência politica da situação e a definição dos modelos de atuação que foram entendidos como adequados à realidade vigente.
As medidas de proteção, higiene e distanciamento social serão uma constante até que a população esteja imunizada ou até que surja uma vacina, por isso, o retorno terá que ser faseado, gradual e acima de tudo bem monitorizado para que possamos começar a retomar a atividade económica sem cair numa crise pior mais à frente, por pressa desse retorno.



3 – Conhecendo bem a área da hotelaria, como antevê aí o impacto da crise que entretanto se avizinha? 📌

R: A Hotelaria, como todas as outras atividades económicas, está a ser profundamente afectada pela crise que já chegou.
Contudo, para mim, a Vida está antes da economia e acredito que se tivéssemos deixado a pandemia proliferar à vontade, para além da perda de muitas mais vidas (que não têm preço), as consequências económicas ainda seriam mais graves (veja-se o que aconteceu e está a acontecer em Espanha, no Reino Unido ou nos EUA).
Sabemos que a sociedade nunca mais será como antes e que este é um desafio na forma como também a hotelaria terá que se posicionar (acredito que no futuro, pelo nosso clima, pela proximidade dos mercados europeus e por termos conseguido controlar melhor do que alguns países esta crise, podemos vir a ser beneficiados como destino turístico).



4 – Existe o risco de o Verão trazer menos receitas, caso o turismo seja consideravelmente condicionado por esta situação? 📌

R: Naturalmente que sim. Os sectores vão ter que se adaptar e reinventar porque nada será igual. Este pode ser um momento para repensar todo o modelo social e económico. Há muitos projetos inovadores que têm sido desenvolvidos e que demonstram o elevado potencial dos portugueses na definição de novas soluções (a OCDE considerou Portugal como um dos países que mais projetos de inovação desenvolveu neste período). A aposta terá que ser por aqui.
Ovar ressente-se dos graves reflexos que a cerca provocou na economia local. Por isso, será necessário dar-lhe uma especial atenção e perceber que medidas podem ser promovidas no sentido de incentivar a sua recuperação económica e laboral.
No dia 28 de Abril, irá decorrer uma reunião com a equipa de investigadores que acompanha o Governo na informação científica necessária para a tomada de decisões e que nesse âmbito irão ser esclarecidas muitas das duvidas que o PAN (e outros partidos) tem relativamente às medidas futuras.



5 – Por fim, qual é a posição geral do PAN em torno deste contexto em concreto? Que medidas o partido sugere para combater a propagação do COVID-19 bem como para enfrentar a crise económica que está aí à porta? 📌

R: Desde o inicio desta crise que o PAN tem apresentado propostas nas mais diversas áreas; relações internacionais, saúde, educação, justiça, economia, ambiente e agricultura.
No parlamento europeu questionamos a Comissão Europeia sobre as relações bilaterais com a China (pelo atraso superior a um mês na comunicação da Pandemia à OMS, o comércio de animais exóticos e o acordo comercial e de investimentos entre a UE e a China previsto para finalizar em 2020).
Na Assembleia da República, em relação à saúde, alertamos e propusemos desde o primeiro momento, medidas de rastreio e proteção de todos os profissionais de saúde, segurança e proteção civil, mas também de todos os que em época de confinamento tiveram que assegurar o funcionamento do país.
Em relação ao controlo dos Preços, o PAN apresentou uma medida que pretendia a fixação de preços de equipamentos de proteção e desinfeção.
Foram apresentadas também medidas de apoio para os trabalhadores independentes, apoio para as famílias com menores de 12 anos poderem garantir a sua subsistência enquanto estivessem confinadas e em medida de assistência familiar, apoios para a situação especifica dos sócios-gerentes das empresas, entre outros, que podem ser consultadas através do site da AR ou nas páginas oficiais do PAN.
Quanto à reabertura das atividades económicas e o levantamento das demais medidas de contenção, parece-nos mais do que relevante que estas medidas estejam devidamente alinhadas com as recomendações resultantes do conhecimento científico sobre a Covid19.
Devemos, antes, manter um registo responsável e as medidas de levantamento das limitações até aqui adoptadas devem ser tomadas com a devida segurança, cautela, de forma faseada e gradual. Mais do que nunca é tempo de sermos disciplinados e responsáveis, fazendo prevalecer as regras de saúde pública.


Agradecemos o tempo que nos concedeu.
Um abraço



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