O Luís degusta uma sangria com toda a calma do mundo. Sabe que se sente quase em família juntamente com o seu grupo de amigos. Estão todos na mesma mesa, consumindo toda uma variedade de produtos provenientes de diversas barraquinhas ou palheirinhos. As papas de sarrabulho estão quentinhas, os hambúrgueres e os cachorros são de dimensão quase colossal e claramente compostos por diversos ingredientes, as natas do céu são um paraíso para qualquer paladar ambicioso, e os mais contidos não hesitam em saborear uma pequena concha de caldo verde ou até uma moderada sardinhada.
O fumegar dos assados é uma tentação para quem deseja procurar uma refeição calórica, após um dia laboral extenuante. O principal amigo do Luís, o Bruno não resistiu e mandou mesmo vir um valente prato de frango.
O grupo de amigos do Luís fala de tudo um pouco. Questões como a participação recente de Portugal no Mundial, como a eutanásia ou até a legislação sobre as touradas estão em cima da mesa. Tudo é debatido com a maior das cordialidades até porque todos já se conhecem há muito tempo.
Na mesa ao lado, outro grupo, embora composto por jovens estudantes. Aqui fala-se de tudo, menos de exames porque é altura de aproveitar as férias e fazer abstrair a mente. Enquanto esperam ser servidos, os rapazes procuram mirar as musas do Arraial, mas também falam muito de futebol, voleibol, surf e praia. Aqui a preferência gastronómica vai para os produtos típicos de fast-food. Por conseguinte, na barraca dos Escuteiros de Esmoriz, não hesitarão em desfrutar de um hamburgão ou de um cachorrão.
Mais abaixo, nova mesa, desta feita, o Josefino, o Álvaro e o Manuel são os protagonistas. Três homens de três partidos diferentes e conhecedores de todos os meandros políticos locais. Debatem, também em regime de tréguas, os sucessos e insucessos da cidade de Esmoriz e do concelho de Ovar. É ainda uma espécie de "revista" dos rumores locais. Ali se glorificam vultos, e se condenam outros à banalidade. Às vezes, também se deixam levar pela sua "partidarite aguda", mas no fundo, é tudo boa gente.
Apesar das suas diferenças abissais, todos estes protagonistas das inúmeras conversas paralelas de mesa "quadrada" acabarão por aderir a um procedimento comum. Depois de deixarem a sua própria assembleia, rumam em direcção ao palco, à zona exterior reservada ao público, passa assistirem a mais um espectáculo musical assegurado por um protagonista de dimensão nacional.
Ali todos dançam, estejam sóbrios, semi-sóbrios ou até embriagados. Vareiros e não-vareiros, esmorizenses e não-esmorizenses, gentes genuínas e trabalhadoras, juntam-se e festejam em consonância. A diversão consegue mesmo ser contagiante. Uns fazem-na propagar logo aos outros. Se a música é sobejamente alegre, muitos teatralizam imediatamente o "comboinho", ou dançam mutuamente, cruzando os braços uns nos outros. Também há aqueles que, com um copo de cerveja na mão (servida ali nas proximidades), apenas contemplam o ambiente.
Não é fácil estimar quantas pessoas visitaram já o Arraial da Barrinha. Apontaríamos que, ao fim dos onze dias de festividades (as quais cessam neste Domingo à noite), poderão ter estado entre 10 a 15 mil visitantes.
Agora confesso que já começa a ficar tarde e não tenciono detalhar ainda mais a narração desta crónica. Hoje é mais um grande dia no Arraial com a presença dos Blind Zero. Cabe a si leitor aderir a esta iniciativa (isto se ainda não o fez!) e escolher em que mesa prefere sentar-se, sabendo que poderá criar a sua própria tipologia de conversação, a qual poderá ser bem diferente (se assim o entender!) daquelas que apontámos em cima. Ementas não faltam para todos os gostos.
Nota-Extra: Todos os nomes utilizados nesta crónica fantasiada são naturalmente fictícios.
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