domingo, 8 de março de 2020

"Liberdade acima da Angústia, esse Vazio Incapacitante" (Artigo de Opinião)


LIBERDADE ACIMA DA ANGÚSTIA, ESSE VAZIO INCAPACITANTE…


Há cerca de vinte anos atrás uma amiga convidou-me a aparecer num grupo de música e a participar como organista porque não tinham ninguém. Para mim na altura seria uma “lufada de ar fresco” pois estava a passar por uma “idade das trevas”, onde várias situações arrasaram a minha vida como uma “tempestade perfeita”, tinha “engolido uma granada” e andava a apanhar os bocados e a tentá-los juntar de novo. Comecei a treinar em casa as pautas e a partir desse dia todas as noites tinha pesadelos, sonhava que entrava na sala e começava a tocar e toda a gente se começava a rir, a angústia foi aumentando de dia para dia, mas desistir não era opção. Aquele sofrimento antecipado angustiava-me profundamente. Quando chega o dia lá fui com a minha amiga que me apresentou ao animador que coordenava os trabalhos do ensaio. Estavam umas dezenas de pessoas, mas não olhei para ninguém. Sentei-me para tocar e o animador deu as instruções, começamos e paralisei, não conseguia sequer raciocinar e acompanhar as pessoas que estavam a cantar, sentia todos os “olhos da sala” postos em mim, a certa altura o animador pensou que estava a gozar com ele e expulsou-me da sala, a minha amiga veio comigo, pedi-lhe muita desculpa e fui para casa o mais embaraçada possível. Ainda hoje quando passo pelo animador ou ouço o nome dele fico terrivelmente constrangida. Foi uma fase difícil, tudo corria mal até que percebi que estava a atrair tudo o que me angustiava, tudo o que tinha medo. O problema estava em mim. Deixara de confiar nas pessoas, não queria sair, vivia angustiada, com um vazio incapacitante. Nesse período li muito, dormi muito, refleti muito, escrevi e pintei desenfreadamente até ficar bem, a minha Família e o meu Gato eram o meu “porto seguro”. Tive a sorte de não ter entrado em depressão ou esgotamento, estava triste, desiludida, injustiçada e revoltada de “sentir na pele” a capacidade do ser humano olhar para os fins sem se preocupar com os meios e voltar a confiar levou o seu tempo, criando em mim mais defesas.

Esta pequena estória da minha história que partilho será igual ou parecida com milhares de estórias na história da humanidade e a isto se chama crescer, aprender e evoluir através dos erros, da experiência, sem vitimizações, verdade “nua e crua”, a dor e o sofrimento acrescentam-nos sabedoria e que sirva de ajuda a outros, e após alguns anos os tormentos do passado ganham uma leveza tal que acabam por “voar” para longe do sentir. É importante saber que atraímos mais do mesmo se nos deixarmos ir nesta corrente tormentosa, daí o ser positivo e alegre mudar tudo.

A angústia é um sentimento muito visceral, muito profundo, vai ao fundo da nossa caixa de medos e sem controle acaba por apoderar-se e esvaziar o nosso ser. Percebi que os “fantasmas do passado” e os “novelos da vida” têm que ser enfrentados e desenleados na nossa cabeça, para serem entendidos e perdoados. O passado é estático e só serve para aprendermos a lição e depois deixá-lo ir em paz.

A angústia aparece numa notícia inesperada, numa expetativa, aparece com a doença seja sua ou de um familiar ou amigo, numa espera por resultados, numa perca de confiança, com o desemprego, com o medo descontrolado do futuro dos filhos, dos companheiros, dos amigos, com o medo da morte, com o sentido de posse, etc., etc. E como ter liberdade, ser livre, derrotando a angústia? Como acabar com este vazio incapacitante? Como evitar pensamentos deambulantes e atrofiadores que enjaulam o raciocínio?

Parar com o sofrimento antecipado! O problema da angústia é estar constantemente a antecipar cenários que potencialmente possam existir, e quando temos o resultado a maioria das preocupações acaba por não existir, mas o desgaste da angústia quase permanente já fez os seus estragos.

Viver o presente, viver esta respiração, momento a momento, é a melhor opção para nos libertarmos deste vazio. Passado serve para aprender, o futuro é incerto, e criatividade só para os nossos trabalhos, deixar de criar cenários imaginados aumenta a nossa qualidade de vida mental, logo física e espiritual. Devemos controlar os pensamentos, pois só se consegue pensar uma única coisa de cada vez, pensar bem, com tranquilidade e acima de tudo ter consciência que estamos a “comandar o navio” e não podemos “naufragar” porque somos os “comandantes” à espera das “tempestades” e queremos sair delas “sãos e salvos”. Já bastam as múltiplas variáveis que não conseguimos controlar, e ao acrescentarmos a preocupação excessiva e antecipada deixamos de estar preparados para o que possa vir e nos arrasar. A mudança é inevitável, tudo muda, tudo passa, e aceitar isso adaptando-nos diminui consideravelmente a angústia, e tudo o que nos atormenta.

Estar e ser “aqui e agora” sem projetarmo-nos para o futuro torna-nos mais conscientes, mais vivos e menos ansiosos, se não estivesse tão distraída com o futuro tinha evitado a “tempestade perfeita” que me assolou nesse período.

Sejam felizes e estejam atentos ao melhor da vida!


Sandra M. Rocha 
5 de Novembro de 2019




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