quarta-feira, 8 de maio de 2019

Do populismo eleitoralista à confusão total (opinião)

A novela do descongelamento da carreira dos professores chegou a um ponto em que ninguém sabe distinguir os argumentos válidos da desinformação latente. Os nossos deputados ainda há algum tempo estavam interessados em criar legislação própria para combater as fake news, contudo desta vez, parecem ser eles mesmos os artífices das mesmas. 
Começando pelo Partido Socialista que começámos por absolver no artigo anterior redigido em torno deste assunto, ficámos agora a saber que, em 2017, foram a favor do descongelamento das carreiras, renegando posteriormente tais tendências. 
Mário Centeno, Ministro das Finanças em Portugal, refere que se o governo acedesse às reivindicações de Mário Nogueira (representante sindical da FENPROF) isso implicaria uma despesa orçamental extraordinária com os professores de 800 milhões todos os anos. Agora a UTAO (Unidade Técnica de Apoio Orçamental) menciona que a despesa se ficará apenas pelos 398 milhões de euros, não estando em causa o cumprimento das regras europeias. Realmente, percebe-se que Portugal nunca teve grandes classificações a Matemática nas escolas e, neste caso, todos atiram valores diferentes para o ar. Desinformação total.
Mas as contradições não são exclusivas do Partido Socialista. Dentro deste contexto, o Partido Social-Democrata e o CDS-PP abandonaram igualmente a posição inicial de apoiar incondicionalmente a causa dos professores, fazendo agora uma alusão mais veemente à cláusula da salvaguarda financeira. Um recuo que faz sentido (tendo em conta a nossa opinião geral) mas que poderia ter sido evitado se os dois partidos de direita não tivessem adoptado uma posição previamente populista.
Quanto ao Bloco de Esquerda e à CDU, mantiveram a sua coerência e continuam a exigir todo o tipo de direitos para a função pública. Mas o problema é que a factura exigida ao Estado pelos professores não é barata (independentemente do custo total se cifrar em quase 400 milhões ou 800 milhões ao ano), e como é evidente, outros profissionais de topo da função pública, apoiados pelos respectivos sindicatos, irão exigir tratamento similar. Agora multipliquem os valores em cima por 3, 4 ou até 5 vezes mais para valorizar todo o tipo de carreiras. Será isto comportável para os bolsos dos portugueses? Não, nos parece.
Devemos estimar e apoiar os professores, enfermeiros, polícias e todos os outros através de medidas que favoreçam o seu bem-estar, contudo não podemos cair no risco de esbanjar os poucos tostões que o país acumulou ao longo dos últimos anos para satisfazer pretensões desproporcionais. Fizeram-se tantos sacrifícios para haver rigor e equilíbrio nas contas públicas.
Ainda assim, a austeridade continua a ser elevada, e recordamos que o país esteve há poucos anos em "coma financeiro", altura em que levámos com uma intervenção externa de má memória (Troika). Não podemos cair novamente no risco de colocar o Estado a viver acima das possibilidades financeiras. Isso sempre deu mau resultado, tal como o populismo e a teatralização em anos eleitorais.



Imagem relacionada

Imagem nº 1 - Debates intensos, com muita desinformação à mistura, complicam o entendimento da temática do descongelamento das carreiras dos professores.
Retirada de: https://expresso.pt/

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