quinta-feira, 21 de março de 2019

Dia Mundial da Poesia V - "A Voz do Sino"


"A Voz do Sino"
(Poema da autoria de Francisco Pinho*)


O velho sino de Esmoriz, badala,
Em voz que me enervou num desconforto,
O som causava espanto! Estranha fala,
De alguém chorando alto um filho morto.

Eu senti-me vibrar. Porque acordasse,
A minha alma sonâmbula da urna,
A carne do meu corpo à alma dá-se,
Ao ouvi-lo tão sombria e tão taciturna...

Que assombro é este? Que o infinito grita?
Que me dizes a esta alma do além?
Porque tens hoje sino, o que me excita,
E me entontece e faz vibrar também?...

Ó velho caminhante: ouvi um instante,
Suspendei essa rota em que seguis.
Acalmai e atentai nessa voz arrepiante,
Simbolizando a dor: o que sentis?

Que importa, ó vida, o que a vaidade aspira?
De sonhos irreais, ou de triste ilusão?
Ouvi o sino: dizem que a sua voz paira
Na morte o igual destino! Delão... Delão...

Continuava este som, o grito lá de cima,
Com aquele rebater, esta toada tão nova,
É esta a voz que o sacristão anima,
Puxando a corda sem que se comova?!




Imagem nº 1 - A Igreja Matriz de Esmoriz e o seu sino na "torre lateral".



* Manuel Francisco Gomes Pinho é um escritor conhecido em Esmoriz e Cortegaça. Tem alguns livros de poesia publicados, redigindo ainda artigos para o Jornal A Voz de Esmoriz, o Malho Tanoeiro e o Povo de Cortegaça. Colaborou ainda de perto com o Grupo de Teatro Renascer. É conhecida a sua admiração pela Barrinha de Esmoriz, tendo dedicado muitos poemas a esta lagoa. 

Poema retirado de: PINHO, Francisco - Barrinha ao Entardecer. Esmoriz: Grupo de Teatro de Renascer, 2016.

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