À conversa com uma convidada especial
5 Perguntas de Rotina, 5 Respostas de Quarentena
Publicado Originalmente na Página da Comissão de Melhoramentos de Esmoriz
Hoje é dia de falarmos com Sara Silva, psicóloga responsável pelo Gabinete de Apoio Psicossocial presente na Junta de Freguesia de Esmoriz. Vamos tentar saber o que anda ela a fazer através de um questionário que lhe enviamos.
1 – Olá Sara. Que impacto sentiu na sua actividade quando foi decretado o Estado de Quarentena em Ovar? Considera que a implementação de dois períodos da Cerca Sanitária foi um procedimento determinante para travar os focos de contágio por COVID-19? 📌
R: A Junta de Freguesia de Esmoriz já tinha, dias antes, colocado em funcionamento o seu Plano de Contingência e, dessa forma, decidimos que os atendimentos presenciais seriam suspensos. Penso que isto é o mais difícil nas minhas funções, o de não estar presencialmente com as pessoas. É muito difícil para todos nos adaptarmos a esta nova forma de contacto e atendimento mas tem corrido da melhor forma possível.
Após a instalação da Cerca Sanitária iniciamos um trabalho na Célula de Crise de Esmoriz, sempre em interacção com o Gabinete de Crise Municipal, onde procuramos dar resposta a todas as necessidades dos Esmorizenses e de todos os que necessitavam da nossa ajuda.
Sei que a implementação da Cerca Sanitária não foi um período nada fácil para a comunidade mas, se foi considerado o melhor a fazer face ao momento que atravessávamos, foi o melhor. Acima de tudo foi por um bem maior, para proteger todas as pessoas de possíveis contágios.
2 – Apesar do regime actual procurar resguardar as pessoas do contágio, a verdade é que se as pessoas ficarem tanto tempo fechadas em casa tal poderá ser prejudicial para a sua saúde mental. Concorda com esta ideia? 📌
R: Concordo absolutamente. Não só pelo isolamento a que nos obriga mas pelo futuro desconhecido em termos económicos e sociais. Esta situação gera medo, angústia e ansiedade em todos nós porque não nos é uma situação natural ou conhecida. Para além disso, este confinamento afasta-nos das nossas rotinas e da interacção com os outros. O ser humano necessita, por natureza, de socializar e este isolamento não o permite da forma como estávamos todos habituados.
A verdade é que os primeiros dias de isolamento até podem correr muito bem mas com o passar do tempo as coisas complicam-se. É natural que se comece a perder a esperança de que isto “vai ficar tudo bem”, as rotinas perdem o sentido e dissipam-se, e a dúvida instala-se. Estamos privados de tudo aquilo que para nós era uma certeza como ir à rua passear ou ir ao café ali ao lado ter com um amigo. A incerteza e a angústia instalam-se porque, acima de tudo, não sabemos quando isto terá um fim e se algum dia vamos voltar a ser aquilo que éramos. Infelizmente não encontramos estas respostas em lado algum e isso pode deixar qualquer um numa situação de angústia e ansiedade perturbadoras. Nada é fácil nesta adaptação a uma nova realidade e todos fazemos um esforço enorme para conseguirmos que isto resulte.
A minha principal preocupação são aqueles que já tinham alguma patologia psicológica como a depressão ou a ansiedade pois, nestes casos, poderá ser observado um agravamento do estado da pessoa. Poderão existir, claro, situações excepcionais.
Podemos, também, observar, do lado de quem esteve sempre na linha da frente, sequelas de toda esta situação. Estão diariamente expostos a situações muito desafiantes e stressantes.
O importante é que ninguém tenha medo de procurar ajuda de um profissional se sentir que a angústia e a ansiedade são difíceis de ultrapassar. Quanto mais cedo pedirem ajuda, melhor. Estamos cá para isso e poderemos ajudar nesta fase mais complicada.
3 –Acredita que nos próximos tempos o Gabinete de Apoio Psicossocial de Esmoriz vai ter que intensificar ainda mais a sua actuação? 📌
R: Sim, acredito que isso poderá acontecer. Esta intensificação de trabalho já tem vindo a acontecer desde que a cerca se instalou com muitas situações de dificuldades económicas causadas por toda esta situação. Penso que os tempos que se avizinham poderão ter o mesmo cenário devido ao aumento do desemprego causado pela COVID-19 mais pessoas necessitarão de apoios sociais para questões como arrendamento e alimentação e o Gabinete Psicossocial tem o papel de encaminhar estes casos e procurar soluções junto de outras entidades.
A nível psicológico acredito que teremos mais necessidades pois, como se sabe, todo este confinamento terá repercussões a nível de saúde mental. Estamos preparados para esse cenário e para ajudar todos aqueles que manifestarem essa necessidade, é essa a nossa missão.
4 – Ao nível da solidariedade nesta conjuntura adversa, tem conhecimento de algumas iniciativas na cidade de Esmoriz e no concelho de Ovar? 📌
R: A Câmara Municipal de Ovar desenvolveu um trabalho nesse sentido, em colaboração com todas as entidades municipais para dar resposta às inúmeras situações que foram surgindo desde apoio à medicação, apoio à alimentação. Foram, por exemplo, criadas medidas de apoio para distribuição de alimentos, de refeições já confeccionadas.
Da parte da Junta de Freguesia de Esmoriz criamos um grupo de voluntários para apoiar na entrega de bens alimentares e medicação, ou outros bens, à população que está mais limitada nas saídas de casa.
A Comissão Social de Freguesia de Esmoriz tem procurado, também, ir de encontro à população oncológica de modo a apresentar-lhes o Apoio a Doentes Oncológicos que, neste caso, poderá apoiá-los na aquisição de medicação porque sabemos que não é um momento fácil e toda a ajuda conta.
Sei, ainda, que foi criada, recentemente, a Caixa Solidária em Esmoriz que considero uma excelente iniciativa e que poderá ajudar muitas pessoas que ainda se sentem complexadas em pedir ajuda.
5- E em relação a Esmoriz, acha que a comunidade irá superar a actual conjuntura adversa? 📌
R: Sim, acho que Esmoriz tem tudo para superar esta conjuntura adversa. Em Esmoriz temos pessoas resilientes, que sabem superar as adversidades. Os esmorizenses são pessoas de luta e de trabalho e acho que é essa força que nos vai permitir, a todos, ultrapassar tudo isto.
Deixo uma mensagem a todos de força e coragem. Vocês são fortes, nunca duvidem. São fortes porque mesmo com medo, com dúvidas e insegurança têm a coragem de enfrentar estes tempos sem desistirem de lutar. É isso que nos caracteriza e é por isso que vamos vencer. Força a todos.
Agradecemos o tempo que nos concedeu.
Um abraço