Já nos despedimos do ano de 2020, mas nunca é demais relembrar o ano atípico que se viveu no ano anterior. Janeiro e Fevereiro ainda foram meses “ditos normais” com a realização de eventos, nomeadamente o Cantar dos Reis e o Carnaval. Contudo, a partir de Março a pandemia da COVID-19 irrompeu em força neste país, originando mesmo a implementação de dois períodos de Cerca Sanitária no concelho de Ovar. A peripécia inesperada deveu-se ao crescente número de infectados, uma disseminação comunitária que colocava em causa a saúde pública e que levou mesmo à criação de um Gabinete de Crise, estrutura determinante que conjugou os esforços da Protecção Civil, especialistas e autarcas e que ajudou a salvar vidas humanas no terreno. No entanto, a factura económica a pagar foi cara para muitos estabelecimentos da restauração e do comércio. Muitas micro-empresas ficaram igualmente em sérias dificuldades, e nem os apoios governamentais foram suficientes para aliviar o seu estado crítico. Na verdade, o Estado de Emergência prolongou-se entre Março e Abril, sendo que Maio se tornaria numa espécie de “mês zero” para muitas casas. Outras conseguiram a retoma parcial a partir de Junho.
O Verão trouxe consigo, na verdade, uma esperança acrescida. O número de casos diários por infecção abrandou e os meses de Junho, Julho, Agosto e Setembro possibilitaram algumas receitas a variadas casas. A afluência turística às praias (embora com sinalização de bandeiras que remetiam para a observância das lotações) foi positiva. Na verdade, a tendência dos aglomerados sociais na época balnear não se repercutiu num cenário de descalabro. Muitos acreditavam, na altura, que o confinamento de Março e Abril não se voltaria a repetir e o optimismo começava a regressar timidamente, mas 2021 veio logo provar-nos que estávamos errados.
O Outono de 2020 deu-nos os primeiros sinais de que a pandemia não iria ser assim tão facilmente subvertida. Os números de infecções diárias voltaram a aumentar entre Outubro e Novembro, com algum abrandamento em Dezembro. Apesar dos especialistas terem alertado para uma potencial “terceira onda” em Janeiro, a verdade é que o mês festivo de Dezembro motivou a aglomeração de pessoas e as suas idas às compras. Também o Governo e as Autarquias com o intuito nobre de apoiarem o comércio local contribuíram nesse sentido, aliviando restricções e propondo novos apoios. A chegada das novas vacinas a Portugal renovou o sentido já existente de relaxamento e “normalização” da sociedade. Talvez, todos pensavam que 2021 iria ser um passeio e ninguém pensava que o país poderia voltar a parar.
Em Esmoriz, sabemos que há casas que fecharam em 2020. Como é lógico, não iremos revelar os seus nomes, contudo temos estado em contacto permanente com algumas pessoas da restauração e feirantes. A maior parte admite que as suas receitas decresceram face aos anos anteriores. Alguns assumem que têm dificuldades em honrar os seus compromissos com os seus funcionários e o pagamento de rendas por aluguer.
Na cultura, os artistas da nossa terra também sofreram na pele o cancelamento ou adiamento dos espectáculos. Entidades como o Grupo de Teatro Renascer e os Arautos tiveram que adiar os seus festivais. Por seu turno, o Imaginar do Gigante ainda conseguiu realizar, com claro sucesso, o Festival Tan Tan Tann no final do Verão, tendo sido talvez o maior ponto alto do ano cultural de 2020 em Esmoriz.
No desporto, e no âmbito da temporada 2019/2020 o SC Esmoriz, no futebol, e o Esmoriz Ginásio Clube, no voleibol, tiveram as suas temporadas abruptamente interrompidas.
Em termos da realidade verificada na cidade de Esmoriz, não se propiciou a conjuntura ideal para obras, pese as intervenções nalguns arruamentos. Na verdade, o foco passou por fomentar as acções de resposta à pandemia, tendo a Comissão Social de Freguesia de Esmoriz assumido um papel importante no auxílio às famílias mais carenciadas.
2020 foi um ano madrasto – roubou vidas humanas (portadoras de COVID e de outras doenças), sentenciou negócios à ruína, despediu vários cidadãos, empobreceu inúmeras famílias e colocou-nos completamente à prova. Nem a cidade de Esmoriz escapou a esta saga. Mas como já dizia Friedrich Nietzsche (1844-1900), filósofo alemão, “da escola de guerra da vida: o que não nos mata, torna-nos mais fortes”. E Esmoriz pode ter sofrido as suas próprias baixas na sua guerra contra o vírus, esse inimigo invisível, mas irá certamente sobreviver por muitos mais séculos.