"“As letras são o alimento da juventude, a paixão da idade madura e a recreação da velhice; dão-nos brilho na prosperidade, e são uma consolação, um recurso no infortúnio; fazem as delícias do gabinete, e não embaraçam em nenhuma situação da vida; de noite servem-nos de companhia, e vão connosco para o campo e em viagem.”
Marco Túlio Cícero
(Político e Filósofo Romano, séc. I a. C.)
A história da correspondência em Esmoriz é mais antiga do que se julga. Os primeiros registos, provenientes da Memória Paroquial do ano de 1758, dão-nos a entender que esta aldeia (estatuto que então detinha na altura) servia-se essencialmente dos correios da Vila da Feira e do Porto. No entanto, esta terá sido uma "fase pré-histórica" da nossa evolução no sector da correspondência. Não nos podemos esquecer que, no século XVIII, a maior parte da população portuguesa era ainda analfabeta e mesmo aqueles que sabiam ler e escrever razoavelmente poderiam não dispor de muito tempo ou vontade para exercerem aquela actividade. Ainda por cima, Esmoriz era um meio rural, e assim sendo, o analfabetismo deveria estar fortemente enraizado numa comunidade que, de acordo com os dados demográficos daquela época, ainda não tinha atingido sequer a fasquia dos mil habitantes, ao contrário do forte crescimento populacional que se verificaria nos séculos XIX e XX,
De facto, a evolução científica na área da saúde (com o surgimento de novas vacinas, tratamentos, cuidados de higiene, tratamento de esgotos e pragas) e a implementação da ferramenta do ensino básico acrescentaram mais-valias às sociedades ocidentais. Portugal também desfrutou dessa realidade a partir da introdução do liberalismo, embora com avanços e recuos.
Esmoriz também beneficiaria - ganharia habitantes (graças ao decréscimo dos índices de mortalidade) e ganharia também mais gente letrada (muito devido ao nascimento de algumas escolas de ensino primário), pelo que o recurso à correspondência por carta começou a intensificar-se gradualmente. Eram pois necessários outros serviços que respondessem a estas necessidades crescentes.
Em 1877, sabemos que já existia uma pequena delegação em Esmoriz, embora as direcções dos Correios se situassem apenas na Feira e em Ovar. Em 1904, sabe-se que o serviço de encomendas foi ampliado. Em 9 de Novembro de 1913, e após alguns anos de espera, nasce finalmente aqui uma estação telégrafo-postal que seria instalada na ex-residência paroquial.
Graças ao empenho da nossa junta, Esmoriz passou a ter também um estafeta em 1916, assegurando assim a distribuição domiciliária local, embora com algumas limitações.
Os serviços telégrafos-postais ainda mudariam de sede por algumas ocasiões. Por exemplo, chegaram a estar instalados nas moradias de António Pinto Ferreira de Sousa e de D. Maria de Leça Castro, bem como noutros lugares da localidade. Realidade que certamente foi fruto de ciclos mais críticos e instáveis, onde a indefinição pairava no horizonte.
Em 1924 seriam restabelecidos os serviços de pagamento e emissão de vales de correio. No entanto, no ano seguinte, a estação de Esmoriz seria encerrada, transferindo-se o distribuidor da correspondência para Espinho. A Junta de Freguesia de Esmoriz procurou reverter a situação, assumindo o valor da renda mensal bem como o déficit que se viesse a registar na estação telégrafo-postal. Como nos conta o Padre Aires de Amorim, o processo com vista à restauração dos serviços postais em Esmoriz esteve longe de ser simples. Foi necessário pagar a quantia de 2.977$71 à estação telégrafo-postal de Espinho para que se pudesse adquirir o equipamento necessário (mobiliário, aparelhagem...), de forma a viabilizar a sua reinstalação. Graças a uma subscrição pública aberta por Manuel José Marques de Sá, Manuel António Pinto de Castro, Paulo Fernandes de Sá e Joaquim Pinto Ferreira, foi finalmente possível angariar a verba necessária. Mais uma vez, é de elogiar os sacrifícios da comunidade esmorizense que, mesmo com um estilo de vida ainda muito humilde ou rudimentar, conseguiu vencer mais uma adversidade, recuperando o imprescindível direito de comunicação por via escrita.
Resolvido o problema, em 1933, temos conhecimento que a junta de freguesia de Esmoriz pediu autorização para que a nossa estação dos correios, então recuperada recentemente, pudesse pagar vales até 500$00.
As dificuldades entretanto prosseguiam porque os CTT exigiram da nossa junta o dever de assumir incondicionalmente o déficit anual da estação. Na década de 30, a distribuição da correspondência ainda estava longe de ser a ideal - normalmente, o carteiro ao chegar aos diversos lugares da freguesia tocava a respectiva corneta e o povo acorria no imediato para saber se tinha cartas a receber. Na segunda metade do século XX, a realidade iria melhorar significativamente e os esmorizenses puderam finalmente respirar de alívio.
Entre 1948 e 1954, a Administração Geral dos Correios determinaria que fosse criada na Praia de Esmoriz uma cabine telefónica pública, uma caixa-postal e uma estrutura para a condução de malas.
Finalmente, em 6 de Dezembro de 1966, seria inaugurado o edifício privativo dos Correios na Avenida que viria a tomar o seu nome na nossa terra. Na altura, Esmoriz já era vila e acabava de conquistar uma vitória crucial para o seu desenvolvimento social, cultural e económico.
As últimas cinco décadas propiciaram naturalmente uma evolução e uma maior eficiência destes serviços, muito graças ao avanço das tecnologias e da eficiente correcção de muitas falhas que outrora se registavam.
Devido ao facto de quase toda a comunidade esmorizense saber hoje ler e escrever, os nossos Correios são bastante requisitados, ora para enviar cartas (de âmbito empresarial, cultural, familiar, amizade, amor, etc,) ora para aceder a uma panóplia de serviços.
Em jeito de balanço final, a introdução definitiva e fixa de um posto de correios constituiu uma das grandes reivindicações ou lutas do povo esmorizense durante os últimos dois séculos. A vitória acabaria por chegar, após muitas adversidades e sacrifícios.
Imagem nº 1 - O actual posto de correios remonta a 1966, mas antes houve outras instalações em diferentes pontos da localidade, fruto da instabilidade.
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