Um
conto de arrepiar
Um conto de arrepiar: habitantes desta nobre cidade,
vejam lá se isto não vos soa um pouco a familiar?!
Um conto de arrepiar
Num mundo de bruxas, fantasmas, vampiros, morcegos e todo o tipo de criaturas terrificamente assustadoras, destacava-se uma bruxa muito muito feia, aliás feíssima – tão feia que até metia dó! Era verdadeiramente assustadora. Tinha um aspecto cadavérico, esquelético, mirrado, mortal, descarnado, escaveirado, esquálido. O seu nariz pontiagudo parecia um apaga-velas: estava amarelecido, enrugado, encrespado, engelhado, enquerquilhado e enrufado.
Os seus olhos negros espelhavam o terror: até saíam das órbitas. O cabelo era um verdadeiramente nojento: não lavava o cabelo há anos. Era um cabelo tão seboso que até parecia que escorria banha de porco por ele abaixo. Mas que ensebado, que sebento, que gordurento!
A bruxa habitava numa velho casebre abjecto e partilhava residência com morcegos, sapos e outras criaturas nauseabundas. Dormia dentro de um enorme barril cheio de teias de aranhas com aranhas daquelas bem nojentas, peludas e carnudas!
Havia mesmo tanoarias ao pé e a esse ser feioso e nojento foi lá roubar um grande barril para ser o seu leito de terror!
Ao lado tinha outro barril, mas cheio de vinho do Porto, que ela bebia sofregadamente e apanhava mocas valentes. Ela também fumava marijuana: andava sempre na ganza e sempre alucinada. Por vezes fazia fogueiras e queimava a maconha e os seus vizinhos do cemitério ao lado ficavam todos marados.
Comia coxas de rã, asas de morcego, sapos, larvas e toda a espécie de seres asquerosos, hediondos, imundos, nauseantes. Fazia uma sopa bolorenta com asas de morcego, larvas e todo o tipo de bichinhos. Depois fazia um prato com coxas de rã com minhocas e metia no meio de um pão preto como o carvão. Aliás, os dentes da bruxa também eram pretos como tição!
Junto à velha tanoaria existia um cemitério! Era Dia de Halloween – como sempre, por volta da meia-noite (mais coisa menos coisa), zombies, fantasmas e todo o tipo de criaturas horrendas e amarelentas saiam dali prontas a assustar os humanos. A bruxa não gostava nada de concorrência! Era invejosa e muito mázinha!
Naquela noite, estes seres saiam dos cemitérios e iam assustar os humanos mais incautos; a bruxa, por sua vez, passava a vida a pregar partidas: doces ou travessuras; porém os seus doces estavam embruxados e tinham por cima uma espécie de gosma.
Os pescadores, os tanoeiros e todos os habitantes daquela pequena cidade, já estavam cansados das tropelias e das maldades da bruxa Tuxa –era este o nome de tão cruel, insensível, malvada, seca, má, áspera, descarinhosa, e ríspida mulher que praticava bruxaria.
Tinha gosto em poluir os cursos de água da pequena cidade com as suas poções. A Barrinha da cidade, apesar de ainda bela, estava suja por causa das nojeiras com propriedades mágicas malignas que esse ser bruxento colocava nas águas.
Inúmeras aves e plantas habitavam aquela barrinha; todavia a bruxa não gostava nada das belas aves e das preciosas plantas e flores: passava a vida a fazer maldades.
Cansados de tanta fereza, resolveram unir forças para tentar neutralizar essa temível criatura diabólica: toda a população se uniu: pescadores, tanoeiros, bombeiros, guardas e toda a gente das mais diversas áreas e profissões. E, então pensaram:
- Irra, a paga para esta bruxa será pagar da mesma moeda e ela provar do seu próprio veneno.
Então, foram a uma terra longínqua consultar uma bruxa boa (sim, porque também há bruxas boas) para saberem como deviam proceder.
Entre poções, unções –tudo digno prepararam uma gigantesca, monumental facécia! Como ela gostava da pinga e da maconha foi mais fácil pregar-lhe a partida – agora tudo o que ela tinha feito estava ela a receber, porque, na vida, colhemos o que plantamos e a bruxa Tuxa estava apenas a ver que a vida é justa e quem prevarica acaba sempre por receber em troca o que plantou.
Ela fugiu para longe e nunca mais apareceu pela cidade. Tornou-se eremita e andava por aí pelos montes toda andrajosa mas ciente que ser má só lhe trouxe dissabores; por isso, dedicou-se a uma vida de expiação, de tentar alcançar o seu nirvana, esquecendo-se por completo das duas terríficas maldades e agora não comia aquelas coisas nojentas mas aproveitava o que de melhor a natureza tinha.
Até os seres que habitavam o Jardim das Tabuletas: estavam mais descansados: também era só numa noite que saiam às ruas para assustar e os habitantes já estavam habituados e já esperavam por eles dando-lhes doces. E estavam contentes com a saída da bruxa.
Os habitantes da pequena cidade, tentavam agora reconstruir e limpar o que a bruxa destruiu ou sujou – a tarefa mais difícil era a despoluição da tão bela barrinha, mas a esperança é sempre a última a morrer, lá diz o adágio popular e a maldade também nunca é boa conselheira. E a feiticeira maldosa, fugiu a sete pés mas aprendeu uma grande lição: o melhor da vida, são os sentimentos e as acções que vêm do Coração!