domingo, 17 de janeiro de 2021

A guerra contra o vírus entra na fase mais cruel (Opinião)

Esta quinzena final de Janeiro não irá trazer boas notícias, e podemos aferir, desde logo, através das últimas actualizações diárias de infecções que muito dificilmente abrandarão até ao final do mês. O número de contágios continua a rondar os 10 mil casos diários, e os hospitais aguardam por mais internamentos nos próximos dias. A tendência do número de mortes, que agora ronda a fasquia dos 150 por dia, deverá sofrer um acréscimo. Por outras palavras, as melhorias, a acontecerem, só começarão a tornar-se visíveis em Fevereiro, isto num cenário mais optimista. 

Mas o confinamento que hoje assistimos é apenas cirúrgico e não está a ser observado da forma rigorosa como no ano passado tinha acontecido. E apesar de ser legítimo que cada um lute pelos seus negócios (direito à subsistência), a verdade é que este comportamento apenas retardará o objectivo de conter definitivamente o número de contágios. Por outro lado, não concordo que as escolas permaneçam abertas, e as eleições presidenciais deveriam ter sido adiadas por uma questão de bom senso. 

Por este caminho, só poderemos vir a sair disto em Março ou até mesmo em Abril, e lamentavelmente não será tanto pelo esforço social deste confinamento (na prática, parcial), mas sim pelo avanço gradual da vacinação e surgimento de temperaturas mais quentes que condicionem a propagação da pandemia. Esperamos estar equivocados e que a sociedade volte a dar o exemplo, e decerto que, se assim for, este pesadelo terminará mais depressa do que pensamos!

No concelho de Ovar, existem neste momento 629 casos activos. Em relação a Esmoriz, não foram fornecidos dados concretos relativos a este sábado passado, mas segundo os balanços anteriores, o número de infecções activas ronda os 100 nesta cidade. Estes números já igualam, senão superam mesmo, aqueles que tinham motivado, no ano anterior, a instalação de uma Cerca Sanitária no município vareiro. É evidente que essa hipótese não está agora em cima da mesa porque a realidade crítica é generalizada e transversal à maior parte dos concelhos deste país.

No concelho de Ovar, já pereceram 65 pessoas devido ao vírus, e no restante país, o número total de mortes já se aproxima a passos largos dos 9 mil. O Serviço Nacional de Saúde vai ter o teste mais difícil pela frente, e poderá mesmo colapsar, caso o confinamento geral não seja factor suficiente para travar o rumo dos acontecimentos.

Do ponto de vista económico, a COVID-19 provocou a extinção de, pelo menos, 110 mil postos de trabalho em 2020, segundo o balanço da CIP (Confederação Empresarial de Portugal) em Dezembro passado. Com o novo confinamento, António Saraiva teme que o número possa ascender, em breve, a uma fasquia entre os 200 e os 400 mil empregos perdidos durante a época da pandemia. São números que decerto se traduzirão na quebra de rendimentos das famílias e em maiores vulnerabilidades sociais. 

A restauração, a hotelaria e o comércio enfrentam uma crise provavelmente mais profunda do que aquela que haviam enfrentado nos tempos em que a gestão económica portuguesa era influenciada pelas directivas da Troika. Nunca estes sectores tinham sido forçados a fechar portas.

Não parece haver luz ao fundo do túnel, pelo menos, neste primeiro trimestre, mas a "psicologia do medo" parece que vai perdurar ainda ao longo de 2021 e irá certamente reflectir-se na quebra de receitas de muitas casas. 

Depois de um ano em que o país teve um comportamento exemplar no combate ao vírus, parece que agora estamos a perder batalha nas duas frentes (saúde e economia), e isso é motivo de grande preocupação.

Nunca é demais apelar aos cidadãos para que usem sempre máscara, adoptem o distanciamento social de segurança, desinfectem as mãos e se confinem nos seus domicílios, sempre que for possível. Porque na verdade, a mudança do cenário depende de todos nós!




Direitos da Foto: Rui Oliveira/Global Imagens/JN

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