À conversa com o representante máximo de uma instituição primordial
5 Perguntas de Rotina, 5 Respostas de Quarentena
Entrevista Publicada Originalmente na Página da Comissão de Melhoramentos de Esmoriz
Hoje é dia de falarmos com Fernando Cardoso, Presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Esmoriz. Vamos tentar conhecer o papel imprescindível desta corporação no combate ao terrível vírus do COVID-19.
Os nossos soldados da paz estão no terreno a ajudar os outros em vez de estarem em casa resguardados com as suas famílias. O seu papel não pode ser por nós esquecido. Eles merecem todo o nosso reconhecimento.
1 – Olá Fernando. Tinha chegado há pouco tempo à presidência da instituição, quando surgiu toda esta situação. Esperava vir logo a enfrentar, juntamente com a sua imensa corporação, uma pandemia desta dimensão?📌
R: Gerir uma instituição como os Bombeiros Voluntários de Esmoriz numa situação normal já é por si só um grande desafio. Com a crise que se instalou desde logo com a Covid-19 mais desafiante está a ser. Esta direção tomou posse no dia 2 de março deste ano e no dia 5 começamos logo a discutir internamente as implicações internas da pandemia pelo que começamos logo a trabalhar num Plano de Contingência que veio a ser implementado no dia 10 de março. Foram tomadas decisões difíceis, mas inevitáveis face ao estado de calamidade que vivemos no nosso concelho. Por recomendação da Srª Delegada de Saúde e pela decisão tomada a nível do município de fechar uma série de equipamentos no dia 12, acabamos por fechar todos os serviços que funcionam nas nossas instalações: Piscina BVE, Clínica BVE, Ginásio OnFit e Café Incêndio. O serviço de transportes de doentes não-urgentes foi reduzido às situações mais críticas e imprescindíveis. O acesso ao quartel foi condicionado ao pessoal estritamente necessário ao serviço. Foi de imediato reforçada a limpeza no quartel e nas viaturas. Também reforçamos o stock de produtos de limpeza, desinfeção, higienização e EPIs para proteger os nossos bombeiros e os nossos utentes. Passados 45 dias neste papel devo dizer que tem sido uma experiência enriquecedora, com reuniões constantes por vídeo conferência, onde vamos avaliando diariamente as necessidades do CB e ao mesmo tempo tentando gerir a queda abrupta de receita que esta crise trouxe à AHBVE. Fomos chamados a integrar a linha da frente nos Gabinetes de Crise tanto do Município de Ovar como da Freguesia de Esmoriz aos quais temos correspondido com a eficácia que se impõe nestes casos de Emergência Municipal. Acabamos por lançar um apelo à população para que se façam sócios da AHBVE e regularizem as quotas que possam ter em atraso bem como cobranças de serviços vencidos. Apelamos também à população para nos concederem um donativo para podermos continuar a prestar o socorro em segurança e sem falhas. Alguns projetos que tínhamos elencados como prioritários terão que ser reprogramados de acordo com aquilo que o futuro nos reserva.
2 – Como descreveria o trabalho dos nossos bombeiros que, apesar do perigo de contágio, arriscam a sua saúde em realizar as ações frequentes de socorro aos cidadãos? 📌
R: Todos sabemos que ser bombeiro é uma atividade que envolve riscos constantes. O que tentamos sempre é minimizar o risco. Como sabemos o lema dos bombeiros é “Vida por Vida” o que por si só já evidencia esta forma tão própria de lidar com o perigo. Os nossos bombeiros têm sido incansáveis e estão sempre prontos a ajudar.
Desde logo, os nossos bombeiros receberam formação específica para lidarem de perto com doentes contaminados com o vírus SARS-CoV-2 e com doentes suspeitos. Na prática, foram dadas instruções internas aos nossos bombeiros para cumprirem escrupulosamente com o reforço das regras de higiene e desinfeção impostas; foi-lhes pedido para se protegerem em termos sociais e evitarem ajuntamentos; o acesso ao quartel foi reduzido ao indispensável; foram-lhes disponibilizados e garantidos EPIs para se protegerem quando em contacto com os utentes; é-lhes medida e registada a temperatura corporal duas vezes por dia; à mínima suspeita é sugerido aos bombeiros para ficarem em isolamento profilático e efetuado o respetivo teste; à chegada ao quartel após cada intervenção é feita a higienização completa do bombeiro e da respetiva viatura de forma a estarem preparados para nova intervenção. A presença no Gabinete de Crise de alguns elementos do Comando e de alguns bombeiros tem como consequência a atualização constante das medidas tomadas pela DGS e assim podermos adaptar-nos mais rapidamente às diretrizes emanadas pelos serviços de saúde. A nossa prioridade vai sempre em primeiro lugar para a proteção dos nossos bombeiros que dessa forma estaremos automaticamente a zelar pela saúde e bem-estar daqueles que socorremos. Há também a ter em conta os aspetos geradores de stress que são provocados quer pelo contacto mais direto com utentes contaminados quer pelo regresso às suas casas para se juntarem às suas famílias após um dia de trabalho no quartel.
3- Nesta segunda-feira, foi inaugurado o novo Hospital de Campanha na Arena do Dolce Vita de Ovar. Sabemos que os Bombeiros Voluntários de Esmoriz desempenharam um papel fundamental neste processo. Poderia detalhar a contribuição da sua corporação neste dossier e a importância deste novo Hospital de Campanha? 📌
R: Neste momento já não se trata apenas de um Hospital de Campanha. É uma extensão do Hospital de Ovar no sentido em que ali foi edificada uma enfermaria com as condições mínimas exigíveis para ali funcionarem os cuidados médicos e de enfermagem para pacientes que careçam de cuidados de saúde permanentes. O nosso Comandante esteve sempre presente na fase de planeamento, na fase de definição de prioridades e também na fase mais operacional com os nossos bombeiros que envolveu uma grande logística e capacidade de movimentação de muitos equipamentos para ali serem instalados. De forma geral, o comando e a direção da AHBVE, e, de forma mais particular, o nosso presidente da assembleia geral, Sr. Carlos Pereira, também têm sido pessoas muito ativas e colaborantes com o GC.
Foram criadas todas as condições e estabelecidos imensos contactos com empresas amigas dos Bombeiros de Esmoriz para se conseguir a edificação deste Hospital, nomeadamente, montagem de camas, roupas de cama, colchões, instalação de unidades de oxigénio, unidade de choque térmico, balneários, monitores cardíacos, definição de corredores para movimentação dos profissionais de saúde, etc. Foi também graças ao empenho dos nossos bombeiros em coordenação com o GC que se conseguiu colocar este Hospital em funcionamento desde a passada 2ª feira. Há a salientar também outros equipamentos que foram preparados para receber pessoas que necessitam de isolamento e que carecem das condições necessárias em sua casa. O trabalho ainda não terminou naquele local pois ainda estão a ser efetuadas diligências para ali serem instalados outros equipamentos para acudir a outro tipo de emergências.
Em Ovar, também a Pousada de Juventude foi preparada numa primeira fase para apoiar algumas pessoas bem como um Hotel de Ovar que disponibilizou alguns quartos para acolher profissionais da PSP e GNR envolvidos em toda esta missão. Em Esmoriz, também foi acordado com o Centro Bíblico de Esmoriz que ali serão alojadas temporariamente pessoas não contaminadas que não tenham condições de coabitação em suas casas e ali ficarão em segurança e com as suas necessidades básicas garantidas.
Por tudo isto, podemos considerar que a AHBVE tem desempenhado um bom trabalho. Como isto ainda não acabou há que continuar focados e manter os níveis de acompanhamento das atividades por forma a garantir que nada falha. Estaremos sempre prontos a colaborar desde que seja para ajudar a população.
4 – Como tem sido a vossa articulação com o Gabinete de Crise de Ovar? E como avalia a actuação deste organismo? 📌
R: Após ativação, a 17 de março de 2020, do Plano de Proteção de Emergência Municipal pela Comissão Municipal de Proteção foi criado de imediato o Gabinete de Crise (GC) nas instalações da Câmara Municipal de Ovar. Desde a primeira hora que os Bombeiros Voluntários de Esmoriz estiveram na linha da frente para colaborar ativamente com o GC no controlo desta pandemia no nosso concelho. O nosso Comandante teve um papel fundamental quer na definição das ações quer na concretização das mesmas no terreno que foram cumpridas com zelo e eficácia pelas equipas dos nossos bombeiros que foram destacadas para esta missão. A nossa articulação com o GC não poderia ter sido melhor.
O Plano Municipal de Emergência e Proteção Civil (PMEPC) foi ativado mas também sabemos que há sempre situações que têm que ser resolvidas de forma diferente daquela que estava planeada no “papel”. Aliás, na leitura que fiz deste plano em lado algum está referida a possibilidade da existência de uma Pandemia pelo que o GC teve que se adaptar à situação e saber contornar forma diligente as dificuldades que foram encontrando. Há sempre espaço para melhorar qualquer plano.
Numa situação nunca vivenciada pelos elementos que compõe o GC é natural que nem tudo tenha corrido bem, mas uma coisa podemos estar cientes é que o que foi feito, seguramente, foi sempre a pensar no melhor para a população. Um bom exemplo é a criação do Hospital Anjo d’Ovar que foi erguido em poucos dias, que neste momento está já em funcionamento contando com 5 pacientes e que se transformou numa enfermaria constituindo-se como uma extensão do próprio Hospital de Ovar para acudir aos casos de menor gravidade em termos de apoio ao Covid-19.
A avaliação do GC será feita no final. Até lá temos que continuar a apoiar com afinco e muita determinação para que a nossa população sai vencedora desta crise. O único derrotado nisto tudo deverá ser apenas e só o vírus. Depois de vencido o vírus será depois altura de olharmos para a recuperação social e económica que esta crise trouxe a toda a sociedade.
5 – Por fim, sabemos que têm recebido apoios de várias empresas e cidadãos neste momento difícil. Considera que este cenário adverso contribuiu, ao menos, para que as pessoas se tornassem mais solidárias? A Associação Humanitária pediu igualmente mais auxílio de todos para fazer frente às suas despesas correntes. As pessoas têm, no geral, aderido ao vosso apelo? 📌
R: São muitos aqueles que demonstram a sua solidariedade para com a AHBVE neste momento. Sabemos que o momento não é fácil para ninguém quer a nível das empresas quer a nível do cidadão em termos financeiros. Em geral, sentimos alguma retração por parte da população, como é óbvio, no entanto, mesmo assim temos verificado que as pessoas e empresas querem ajudar e sentem que é preciso ajudar os nossos soldados da paz. Foram efetuadas algumas doações à nossa associação quer em termos de oferta de EPIs, produtos de desinfeção, combustível, cobertores, edredons e alimentos, quer também em termos financeiros.
Como já referi as nossas receitas caíram abruptamente pelo que urge arranjar soluções para fazermos face às nossas despesas fixas, aos contratos e compromissos que estavam a decorrer.
Foram lançadas duas campanhas de angariação de fundos. Uma das campanhas visa sobretudo a angariação de novos sócios. A outra visa angariar fundos para tentarmos desde já prevenir problemas financeiros que venham a ser criados por esta crise.
Ao ajudar a AHBVE estão a garantir a prestação do socorro e outros serviços que prestamos à população local.
Ajudem-nos a ajudar. Faça-se sócio ou atribuam-nos um donativo. https://tiny.cc/BVEAjude
Obrigado.
Agradecemos o tempo que nos concedeu.
Um abraço
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