O assunto é bastante complexo e, por isso, os diferentes pontos de vista sobre o mesmo seriam naturalmente válidos. Mas nós assumimos uma posição clara durante este período. Fomos a favor da primeira e da segunda cercas sanitárias (embora com mais dúvidas em relação a esta última), contudo agora pensamos que esta seria a altura ideal para levantar o isolamento geográfico.
Aliás, a partir do momento em que surgiram despachos governamentais a permitir a laboração industrial, a Cerca Sanitária deixou de fazer sentido. Por outro lado, começou-se a criar a ideia perigosa (mas absurda) de que o concelho de Ovar era um centro de emanação do vírus, havendo mesmo comentários ridículos nas redes sociais que nos comparavam a leprosos. Muitos banalizaram este tipo de comentários mas a verdade é que, enquanto o vírus subsistir, vai sempre criar-se a ideia de que não será aconselhável visitar o nosso concelho. E claro, esta imagem poderá prejudicar o impacto económico e comercial a nível local. Além de tudo isso, como é lógico, era necessário repor condições para que as empresas regressassem gradualmente às suas actividades, de forma a evitarem-se cenários extremos de despedimentos massivos.
O levantamento da Cerca Sanitária, anunciado ontem em primeira mão por Salvador Malheiro (Presidente da Câmara Municipal de Ovar) e confirmado hoje por Graça Freitas (Responsável Máxima da Direcção Geral de Saúde), parece que surge no momento certo, alicerçando-se em avaliações de cientistas e especialistas médicos. Por isso, é uma decisão que apoiamos.
Contudo, é óbvio que isto não significa que todos já podemos regressar à normalidade quotidiana. Aliás, é exactamente isso que temo. O Estado de Emergência Nacional continuará até dia 2 de Maio, pelo que a prudência e a cautela dos cidadãos tem de prevalecer. Se assim não for, isto pode correr mal. As pessoas têm de ser responsáveis porque apesar do vírus estar aparentemente a perder força a nível local e nacional, não quer dizer que as estatísticas não possam mudar a qualquer momento.
Por outro lado, houve algo que me tem chamado à atenção nesta semana - o Ministério da Saúde e a Direcção Geral da Saúde deixaram bem claro que só levantariam o Cordão Sanitário quando a situação estivesse totalmente controlada. Na minha opinião, têm existido melhorias, mas não se pode dizer que o contágio no concelho já está praticamente resolvido, porque não está!
Ainda assim, as Cercas Sanitárias permitiram a possibilidade de se conter os principais focos de contágio por Coronavírus, evitando assim o alastramento ou sua disseminação. Foram ainda criados centros de isolamento social e um Hospital de Campanha. O município tem hoje uma maior capacidade de resposta para enfrentar o problema.
Mas isso de pouco valerá se todos facilitarmos e começarmos a viver a nossa existência como se nada passasse. Existem quase 600 infectados em todo o concelho e 24 óbitos a lamentar. É bom que ninguém se esqueça disto!
Foto - André Gouveia/Global Imagens
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